Considerada uma das atividades preferidas do campo-grandense, muita gente se concentra nos parques municipais para se divertir em família, praticar esportes ou aproveitar um tempo de relaxamento em meio a paisagens naturais. No entanto, o tempo foi crucial para mudar essa realidade e tornar os parques de Campo Grande em verdadeiros cenários de abandono e falta de amparo por parte da Prefeitura. Além de contribuir para a defasagem desses espaços considerados de utilidade pública, a falta de manutenção dos parques municipais também acarreta inúmeros prejuízos à riqueza ecológica da cidade.
Por isso, o Jornal Midiamax percorreu três dos principais parques municipais, localizados em regiões de grande movimentação urbana: Parque Ecológico Sóter, localizado na Mata do Jacinto; Horto Florestal, na Vila Carvalho; e Parque Olímpico Ayrton Senna, no bairro Aero Rancho. Em dois desses ambientes, as principais irregularidades encontradas foram criadouros de mosquito-da-dengue, poluição e descarte de lixo inadequado, banheiros públicos intransitáveis e mato extremamente alto.
Dessa forma, a rota de visitas começou no Parque Ecológico Sóter. Na região, o primeiro ponto observado pela equipe de reportagem foi a altura da grama em toda a extensão do parque municipal. Além do mato bater no quadril de uma pessoa, o que torna impossível uma criança brincar, também pode favorecer o aparecimento de animais peçonhentos, resultando, assim, em possíveis acidentes.
Outro fator preocupante no Sóter é a sujeira extrema encontrada em uma das entradas, com portões caídos, descarte irregular de lixo e banheiros extremamente sujos, ou seja, intoleráveis para utilização. Quem gostava de observar a fonte no parque, bem como o rio que passava pelo local anos atrás, também se depara com uma imagem frustrante: nascente assoreada por processos erosivos que resultaram em uma grande cratera e fonte suja sem água há muito tempo.
Parquinho com brinquedos estragados roubam a cena igualmente.
Todos esses apontamentos são motivos de tristeza para um morador de Campo Grande, que sempre leva o netinho de cinco anos para brincar no espaço. Segundo o homem de 52 anos, que preferiu não se identificar, ele sempre vai ao local porque é perto do trabalho da esposa. Enquanto aguarda, gosta de passar o tempo com o mais novo. Para ele, é impossível não reparar no quanto o Parque Ecológico Sóter mudou com a falta de amparo do poder público.
"Eu vejo pessoas fazendo manutenção aqui, mas não é constante. O mato está alto, tem muitos vândalos que quebram os bancos, não tem mais balanços para as crianças. Falta também um patrulhamento mais ostensivo da Guarda Municipal", pontua.
Ele ainda ressalta o quanto isso atrapalha a convivência no ambiente. "Está ficando cada vez mais limitado o espaço para as crianças, além dos vândalos que vêm e ficam tomando bebida alcoólica e fumando maconha", lamenta o homem.
Mais um grande parque a cerca de 9 quilômetros dali apresenta problemas parecidos. Situado no coração de Campo Grande, a marcante arquitetura do Horto Florestal abriga na memória a época dourada de quando o espaço era famoso ponto de encontro. Porém, a realidade encontrada em 2022 desanima os visitantes que buscam um momento de paz em meio à natureza.
Bastam alguns passos para encontrar tantas outras irregularidades no Horto Florestal, como banheiros extremamente sujos e até interditados para uso. Apesar da vegetação conservada, pilhas de entulho, postes de iluminação caídos e lixos jogados no chão quebram qualquer clima de relaxamento. Não bastasse isso, a equipe também encontrou pontos de água parada que podem favorecer criadouros do mosquito Aedes aegypti – que causa dengue, zika e chikungunya. Se vai sentar, precisa ficar atento, visto que muitos bancos estão depredados e com pontas soltas.
Nesse viés, o biólogo José Milton Longo, de 56 anos, explica o quanto isso pode ser prejudicial à população, visto que o Horto Florestal tem uma grande importância nas condições climáticas e promoção de bem-estar no centro urbano.
"Qualquer descarte inadequado de lixo pode ser criadouro para mosquitos da dengue e agora a cidade está lotada deles. A falta de manutenção das lixeiras e descartes inadequados de lixo são perigos para a saúde pública porque reflete no bem-estar das pessoas que fazem o uso desses espaços. Isso causa má impressão na cidade, afasta as pessoas e os espaços deixam de cumprir com suas funções sociais", relata o especialista.
Dentre os inúmeros prejuízos causados à natureza, o biólogo ressalta que a falta de cuidado nos parques municipais pode afetar diretamente a saúde da fauna que habita esses espaços, visto que animais podem consumir lixo ou até saírem de lá por causa da sujeira.
Em relação ao Parque Ecológico Sóter, José Milton lamenta o quanto o espaço antes destinado a lazer se tornou um transtorno devido à depredação.
"O sóter é um parque modelo. Hoje, depois de um episódio desse, abriu a cratera e acabou com o sedimento. Soterrou toda a água de lá, se tornou um brejo. Depende de investimentos para recuperar uma área dessa, para restabelecer papel hidrológico e ecológico porque atrai animais, oferece recursos para o meio ambiente e pessoas", explica.
Para uma cidade que já recebeu selo mundial de cidade arborizada, o descaso com os parques municipais favorece cada vez mais o afastamento desse título.
Campo Grande foi reconhecida como uma das 59 cidades mais arborizadas do mundo pela organização não governamental The Arbor Day Foundations, com sede nos Estados Unidos.
Nesse ínterim, o biólogo explica que para que a Capital continue com o título precisa dar atenção especial aos parques municipais porque são importantes áreas de equilíbrio ecológico e contribuem para a qualidade de vida dos habitantes.
Portanto, além do poder público, os próprios moradores devem entender a responsabilidade de cuidar desses espaços. Então, não jogar lixo no chão, ajudar na manutenção e evitar alimentar os animais silvestres são atitudes simples que fazem a diferença.
O Jornal Midiamax entrou em contato com a prefeitura para posicionamento sobre a manutenção e projetos de revitalização dos parques municipais. Em nota, disse:
"A Funesp informa que as duas unidades, Parque Ecológico do Sóter e Parque Ayrton Senna, estão constantemente sendo realizadas manutenções. A poda de árvores e roçadas da grama são realizadas periodicamente. Em relação à iluminação os parques foram recentemente avaliados e feito a manutenção, troca de lâmpadas e reposição de fiação elétrica. Os banheiros são limpos com frequência. Sobre a segurança, os dois parques possuem postos de segurança com atendimento integral", informou.
Em setembro deste ano, a equipe do Jornal Midiamax fez uma reportagem sobre a situação precária do Horto Florestal, que se viu definhando desde que a empresa vencedora da licitação desistiu das obras de reforma. Desde a reabertura do espaço em 2021, visitantes lidam com sujeira, abandono e episódios de assalto no local.
"Eu visitava desde criança, mas não tenho mais coragem de andar lá. Tem muitos usuários de drogas e a minha sogra já foi assaltada", disse a dona de casa Maitê Viana, de 30 anos, na época.
A GCM (Guarda Civil Metropolitana), por meio da PMCG (Prefeitura Municipal de Campo Grande), havia informado que iria intensificar rondas na região.
Prefeitura também disse na época que outra empresa tinha sido selecionada para continuar as obras após o período eleitoral. Porém, não houve respostas sobre obras e manutenção no Horto Florestal.
Por fim, o Midiamax visitou também o Parque Olímpico Ayrton Senna. Felizmente, as imagens encontradas no espaço foram bem diferentes dos pontos anteriores. Lá, foi possível perceber a manutenção constante pelo poder público. Portanto, poda de árvores, do gramado, limpeza das piscinas, cuidado das quadras e parquinho estavam em dia.
Mesmo com embalagem de preservativo jogada na grama, a situação é definitivamente melhor do que os demais parques municipais visitados.
Por ora, enquanto os demais parques municipais seguem necessitados de atenção, moradores de Campo Grande aguardam as revitalizações na expectativa de um dia retornar a andar tranquilamente por esses espaços.