Assim como Durval, lojistas de todos os portes encerraram seus negócios ao redor do mundo, mas o fortalecimento inesperado da indústria de vinil, nos últimos 15 anos, mostrou que a previsão fatalista não era definitiva. Tanto é assim que, no ano passado, a cantora Taylor Swift chegou a faturar mais com a venda de cópias em vinil de “Midnights”, sua última obra, do que com a venda de CDs desse mesmo álbum.
Em plena era da música digital, a busca pelo formato analógico redesenhou o mercado e montou o que parecia ser o cenário ideal: fábricas de vinil a todo vapor, lojistas aproveitando a valorização de discos antigos e a multiplicação de fãs.
Corta para março de 2020. Para os vendedores de São Paulo, o primeiro momento da pandemia de Covid-19 foi um susto tão grande quanto o surgimento do CD. Aqueles que não estavam familiarizados com as vendas online não resistiram aos lockdowns e precisaram fechar as portas em definitivo.
Lojas-bares, como a Sensorial Discos, tampouco resistiram. Já aquelas que vinham usando redes sociais e sites para anunciar seus discos, em geral, conseguiram manter as lojas físicas até a reabertura. E estas tiveram uma grata surpresa: as vendas deram um salto.
Lojista instalado na tradicional Galeria Boulevard, no centro, Chico Carvalho, da Chico&Zico, nota essa percepção. “Continuamos pagando as despesas pelas vendas no Instagram e no Discogs [site de vendas internacional]. As vendas aumentaram, mas quem não tinha costume de vender online não segurou a barra. Aqui já houve 20 lojas e hoje existem apenas quatro.”
Ex-sonoplasta e ex-metalúrgico, Chico contabiliza 25 anos em vendas de discos: primeiro com um depósito no bairro do Tucuruvi, na zona norte, depois com uma loja no centro. “Eu sempre acreditei no vinil. Nunca me arrependi de estocar discos, mesmo duplicados. Foi com isso que sobrevivemos ao CD e chegamos até aqui”, detalhou.
O ex-economista Celso Marcílio foi um dos lojistas que deixaram a Galeria Boulevard em meio à pandemia. No ramo desde que perdeu a visão em um acidente, há 25 anos, reabriu a loja em maio, no bairro do Piqueri, na zona norte. “As vendas aumentaram na pandemia e o Instagram foi o nosso principal canal. Desenvolvi uma logística de entrega de discos em 24 horas na Grande São Paulo e funcionou bem. Depois, assumi o risco de reabrir a loja fora do eixo central, e os clientes aprovaram a mudança”, comentou.