No caso do Brasil, o principal líder dos manifestantes, Jair Bolsonaro, não está no cargo há uma semana, não fez uma convocação pública explícita para os ataques deste domingo, e seu adversário, o presidente Lula, já tomou posse.
Na noite deste domingo, Bolsonaro disse que “manifestações pacíficas” fazem parte da democracia, mas “depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra”.
Dito isso, o dano causado em Brasília é muito maior, não só no sentido material, mas do risco objetivo para a segurança nacional. A Casa Branca não foi invadida, o que seria impensável, porque ela é protegida pelo dispositivo ostensivo da CIA, com apoio de várias corporações policiais federais.
Os invasores brasileiros tiveram potencialmente acesso a segredos de segurança nacional guardados no Palácio do Planalto, a documentos de processos extremamente sensíveis no Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo Bolsonaro, seus filhos, Lula e tantas outras personagens importantes da república, e àqueles também existentes no Congresso.
A complacência das forças de segurança é outro ponto em comum, embora as razões políticas sejam diferentes. A segurança do Distrito Federal estava a cargo de Anderson Torres, ministro da Justiça de Bolsonaro.
Policiais militares, indiretamente subordinados a ele, não só permitiram as invasões, como alguns foram flagrados filmando alegremente os atentados. Em Washington também havia sinais evidentes de que a capital seria invadida por grupos de várias partes do país, e as forças de segurança não impediram a entrada dos terroristas na cidade nem protegeram o prédio do Congresso.
Mas a cidade era — e continua sendo — administrada por uma democrata, Muriel Bowser, portanto do mesmo partido de Biden. Exatamente por essa razão, a polícia local sentiu um constrangimento em cercar o Capitólio.
“A foto não ficaria boa”, foi a frase do comando da polícia, em resposta ao pedido de um cordão policial preventivo ao redor do Capitólio. O comando afirmou não ter recebido informações de inteligência do Departamento de Segurança Interna, a cargo do governo federal, da iminência do ataque.
Quando os invasores romperam a proteção policial, com grande facilidade, e entraram no prédio, o comando da polícia do Capitólio fez um apelo por reforços da Guarda Nacional.
A resposta foi que a força não tinha condições de intervir imediatamente e precisava de tempo para se preparar para a tarefa. Até hoje não se sabe ao certo se essa atitude teve relação com o fato de que o então presidente era o principal responsável pela invasão.
O atentado ao Capitólio teve consequências humanas mais sérias. Cinco pessoas morreram. O policial Brian Sicknick foi dominado, espancado e teve spray borrifado no rosto, desmaiou, foi levado para o hospital e morreu no dia seguinte.
Dois terroristas morreram de ataque cardíaco, uma de tiro e outra esmagada, durante a invasão. Nas semanas que se seguiram, quatro policiais se suicidaram. Além disso, 140 policiais do Capitólio e da polícia de Washington ficaram feridos.
Foram processadas até agora 964 pessoas, das quais 465 se declararam culpadas. As condenações têm ido até 63 meses até agora. Trump é investigado por “insurreição”, entre outros crimes.
Terrorismo, como diz a Enciclopédia Britânica, é o “uso calculado da violência para criar um clima geral de medo numa população para produzir um objetivo político particular”. Foi precisamente o que se fez em Washington, há dois anos, e em Brasília, neste domingo.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Saiba as semelhanças das invasões ao Capitólio e às sedes dos Três Poderes no Brasil no site CNN Brasil.