Lucchesi quer conversar ainda com os funcionĂĄrios que se aposentaram, cuja participação considera muito importante porque se trata de um trabalho plurigeracional, com visões distintas, mas que sempre se acumularam. Manifestou preocupação com a preservação do acervo "que pertence ao Brasil, ao povo brasileiro e também ao planeta Terra". É objetivo ouvir todas as propostas e enfrentar os desafios.
Um desses desafios consiste em trabalhar as demandas atuais do livro. A BN tem a perspectiva de depósito, catalogação, armazenamento, produção de metadados, conservação. No que se refere à preservação, em especial, serão abrangidos desde os livros fĂsicos, em seus vĂĄrios suportes, até os livros nascidos digitalmente. "Tanto livros fĂsicos qunto digitais são igualmente desafiadores", comentou.
A internacionalização da Biblioteca Nacional é outra meta de Lucchesi. Ele pretende ampliar as mĂșltiplas relações da instituição, a oitava do gĂȘnero no mundo, não só no mundo ocidental, como no oriental. Destacou o fato de o Ministério da Cultura renascer, com o acolhimento e a democratização pelo novo governo. "Toda essa ideia de reconstrução transmite uma imagem que me parece muito grata. Estamos todos nós, brasileiros, em meio a muitas ruĂnas, e é preciso reorganizĂĄ-las, reconstruĂ-las.
A biblioteca digital contarĂĄ com o apoio também da nova administração da BN. "Na defesa do infinito, a ideia é democratizar cada vez mais o acesso, com o compromisso de incluir a cidadania ao esforço democrĂĄtico, o compromisso de ler o Brasil, ler o mundo, reconstruir o mundo e o Brasil". O novo titular da Biblioteca Nacional disse que concorda com o ministro da Educação, Camilo Santana, que afirmou que a escola em tempo integral constitui grande polĂtica não só educacional, mas de prevenção à violĂȘncia. Para Marco Lucchesi, a educação e o livro são instrumentos para deter a violĂȘncia, principalmente entre os jovens.
Na sua opinião, o Brasil nos Ășltimos anos careceu de um projeto educacional profundo, sem invasão da fé com fins de instrumentalização, como foi visto recentemente. Houve falha na produção de interfaces necessĂĄrias a um projeto de justiça social, comentou. "Defender a RepĂșblica, a cultura, a ciĂȘncia, a vacina, defender tudo aquilo que foi negado nesses Ășltimos anos de treva e obscurantismo".
Faz parte também dos projetos do novo presidente da BN promover encontros com crianças e jovens para conhecerem a instituição, criada hĂĄ mais de 200 anos e que reĂșne acervo de cerca de 9 milhões de itens. Quando presidia a ABL, Lucchesi recebeu, falando em guarani, crianças da aldeia de MaricĂĄ. "Organizamos também um seminĂĄrio, para que elas falassem sobre a própria cultura, em sua lĂngua". A ABL recebeu ainda a visita de representantes do Instituto Benjamim Constant, de educação de cegos.
Na Ășltima semana, em época de férias, foram registradas mais de 3 mil pessoas em um Ășnico dia, celebrou Lucchesi. Reforçou que a ideia é trabalhar com a visita guiada, tornando a BN, mais antiga instituição cultural brasileira, um local acolhedor de novos visitantes, sobretudo estudantes que vivem em periferias e que, muitas vezes, se sentem intimidados pela beleza, pela opulĂȘncia do prédio. Queremos que todos compreendam que essas casas são nossas, da sociedade brasileira, não pertencem a ninguém. Por isso ela se chama Biblioteca Nacional, biblioteca cidadã".
"Essa biblioteca precisa ser fraterna, materna, cidadã". Ao contrĂĄrio do que ocorreu em julho do ano passado, quando recusou a medalha da Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional para personalidades que contribuem com a literatura - porque a honraria seria entregue também ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), apoiador do ex-presidente da RepĂșblica - Lucchesi disse que a distribuição de homenagens pela BN seguirĂĄ maior critério a partir de agora.
Ainstituição tem uma Comissão de Ética, que deverĂĄ atuar com transparĂȘncia, sem conflito de interesses, priorizando o mérito que se reconheça, "não importa onde esteja, de quem seja, de onde venha, se é de direita ou de esquerda. Não importa. A Biblioteca não é uma fĂĄbrica de produção de propagação ideológica. Ela é nacional, é republicana, de Estado e não de governo".