A agenda organizada pelos atingidos para lembrar a tragédia foi batizada de IV Romaria Pela Ecologia Integral a Brumadinho. Homenagens também ocorreram na tarde de ontem (24) durante uma carreata que partiu do Cemitério Parque das Rosas, onde algumas vítimas estão enterradas. A data foi lembrada também em outros municípios da bacia do Rio Paraopeba, como Sarzedo (MG), com missa organizada pela prefeitura, pela câmara municipal e pela Paróquia Santa Rosa de Lima.
Além de homenagear as vítimas, os atingidos cobram celeridade no julgamento do processo criminal e maior participação no processo de reparação de danos. Nesta semana, 16 pessoas ligadas à Vale e à Tüv Süd se tornaram rés na Justiça Federal e serão julgados por crimes ambientais e por homicídio qualificado. São os mesmos que respondiam a processo que tramitava na Justiça estadual. No entanto, em dezembro, o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu que a competência é federal. Dessa forma, o julgamento precisará ser reiniciado.
Na esfera cível, vem sendo colocado em prática o acordo de reparação, que foi selado em fevereiro de 2021 entre a mineradora Vale, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública de Minas Gerais e o governo mineiro. Embora possam votar no destino de uma parte dos recursos envolvidos, os atingidos consideram que sua participação ainda é limitada e avaliam que há problemas nas ações reparatórias.
Em suas redes sociais, a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), entidade escolhida pelos moradores de Brumadinho para atuar como assessoria técnica, diz que novos impactos têm sido constatados ao longo do tempo. "O rompimento da barragem da Vale e suas dimensões seguem alastrando seus danos em áreas como trabalho, renda e moradia; aumentando casos de depressão e uso de remédios controlados entre a população atingida; exterminando tradições e modos de viver; contaminando solo, plantas, animais e muito mais", diz o texto.
Por sua vez, a mineradora Vale destacou em seu site o último balanço da reparação referente ao segundo semestre de 2022, que traz informações variadas sobre medidas socioeconômicas e socioambientais envolvendo, por exemplo, tratamento da água, obras de infraestrutura, gestão de barragens etc. "A Vale se solidariza com cada um dos familiares das vítimas do rompimento da barragem, em Brumadinho. Sabemos que são perdas irreparáveis e nos comprometemos a continuar trabalhando para minimizar os efeitos dessa tragédia", diz mensagem de abertura da publicação.
Em Belo Horizonte, uma plenária organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) contou com a presença de representantes de diferentes instituições de Justiça e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que ouviu cobranças. “Queremos agora ter protagonismo. Em primeiro lugar, a gente quer que a justiça seja feita, que a Vale seja punida e que essa punição sirva de exemplo para que o crime não se repita de novo, porque 272 vidas foram ceifadas. E até hoje estamos sofrendo com insegurança hídrica e problemas de saúde”, disse Joelísia Feitosa, moradora de Juatuba (MG).
O ministro disse que é importante ouvir os movimentos sociais e que a tragédia não será esquecida. Silveira defendeu a adoção de novas práticas na mineração do país que priorizem o respeito à vida. "Vamos investir recursos e esforços na fiscalização ferrenha de segurança de barragens para impedir que eventos lamentáveis voltem a acontecer.”
Um ato também foi realizado hoje em frente ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, capital da Bélgica. Em Londres, a tragédia foi lembrada em uma cúpula de investidores sobre mineração realizada na Bolsa de Valores da capital inglesa. No evento, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) anunciou a criação de um instituto independente dedicado à promoção de padrões de segurança da indústria. Uma representante da Avabrum participará das discussões.