Além do fator histórico, Mahomes e Hurts foram os destaques da temporada. Ambos foram indicados pela agência de notícias The Associated Press ao prêmio de Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada regular. Apenas quatro quarterbacks negros foram eleitos MVP desde que o prêmio foi instituído, em 1957: Steve McNair (2003), Cam Newton (2015), Patrick Mahomes (2018) e Lamar Jackson (2019).
Historicamente, a posição de quarterback é dominada por jogadores brancos. Um estudo conduzido pela Universidade de Pittsburgh apontou que, em 2019, 70% dos jogadores eram negros ou tinham descendência africana, enquanto 80% dos quarterbacks da NFL eram brancos. Em outra análise, conduzida pelo Instituto de Diversidade e Ética no Esporte da Universidade da Flórida Central, apenas 25% dos jogadores na liga se consideravam brancos.
Essa estatística se reverte nos resultados do Super Bowl. Desde que a partida entre o campeão da AFC e NFC passou a ser disputada na temporada 1966, apenas três quarterbacks titulares negros foram campeões. Além de Mahomes, campeão com os Chiefs em 2020, Doug Williams, com o Washington Redskins em 1988, e Russel Wilson, com o Seattle Seahwaks em 2014, foram os únicos jogadores negros da posição a serem campeões.
Caso Jalen Hurts vença o Super Bowl LVII com os Eagles, ele se tornará apenas o quarto quarterback negro a realizar o feito. Com passagens por Alabama e Oklahoma no College, Hurts foi selecionado na segunda rodada por Philadelphia no Draft de 2020. Inicialmente reserva de Carson Wentz, se tornou titular dos Eagles em sua primeira temporada e cresceu sob o comando do técnico Nick Sirianni nas últimas duas temporadas. Em 2022, quando esteve em campo, perdeu apenas um jogo (contra o Washington Commanders, rival de divisão).
Na final de Conferência neste domingo, contra o San Francisco 49ers, melhor defesa da última temporada, Hurts precisou passar poucas vezes a bola - apenas 121 jardas aéreas, em 25 tentativas. Ágil e móvel, se encaixou perfeitamente no estilo de jogo dos Eagles, melhor ataque terrestre da NFL. "Tudo o que conseguimos superar, para ter esta oportunidade (disputar o Super Bowl), queremos aproveitá-la", disse, em entrevista coletiva neste domingo. "Nunca soube até onde iríamos, mas eu nunca disse que não poderia ser feito (chegar ao Super Bowl)."
Mahomes, do outro lado, já tem experiência em Super Bowl com os Chiefs. Filho de Pat Mahomes, ex-jogador de beisebol da MLB, chega em sua terceira decisão e com todos os prêmios já conquistados em sua curta carreira de seis anos na NFL, pode se tornar o primeiro quarterback negro a conquistar a se sagrar campeão em duas oportunidades. Mesmo com o tornozelo lesionado, liderou os Chiefs na final de Conferência contra os Bengals (23 a 20).
"O quarterback negro tem que lutar para estar nesta posição que estamos, para ter tantos jogadores na liga jogando. Acho que todos os dias estamos provando que deveríamos estar jogando o tempo todo", afirmou Mahomes, em entrevista coletiva antes do início da temporada de 2022. Em 2020, ele acertou com Kansas City um dos maiores contratos da história da NFL: US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões à época) por 10 anos.
HISTÓRICO DE JOGADORES NEGROS NA NFL
Desde que Fritz Pollard e Bobby Marshall abriram o caminho para os jogadores negros na década de 1920, atletas passaram a ganhar mais espaço como quarterback na liga. No início da atual temporada, das 32 franquias, 11 tinham titulares negros na posição. No draft, forma de entrada dos jogadores universitários na NFL, o primeiro quarterback negro a ser selecionado com a primeira escolha geral foi Michael Vick, pelo Atlanta Falcons, em 2001. Apesar de nunca ter conquistado um título, Vick foi um dos jogadores mais dominantes na liga no início dos anos 2000. Desde então, outros nomes também conquistaram o feito: JaMarcus Russell (2007), Cam Newton (2011), Jameis Winston (2015) e Kyler Murray (2019).
No Hall da Fama da NFL, há apenas um quarterback negro. Warren Moon, que passou a maior parte da sua carreira no Houston Oilers (antigo nome do Tennessee Titans) foi introduzido ao Hall da Fama em 2006. Não selecionado no draft de 1978, Moon estreou na liga apenas em 1984, após disputar cinco temporadas da Canadian Football League (CFL) - liga de futebol americano do Canadá.