Um bebê, recém-nascido, foi encontrado na tarde desta quarta-feira (1º) dentro de caixa de papelão em uma calçada no cruzamento das ruas Congonhas do Campo com a Rua Areia Branca, no Bairro Aero Rancho, em Campo Grande.
O bebê, que é um menino, foi encontrado por um senhor, que estava em uma bicicleta e parou um motociclista para pedir ajuda.
O motociclista, identificado como Nicolas Vilarim Fortunato, de 19 anos, contou que seguia para visitar a avó, quando viu o momento em que o senhor parou na esquina e começou a gritar para que ele parasse. A princípio o senhor contou que achou que se tratava de filhote de cachorro, mas ao chegar próximo viu o bebê.
Segundo Nicolas, a caixa estava entreaberta, e o bebê estava em cima de um pano. Ele chegou a ver algo parecido com o cordão umbilical, por isso acredita que se trata de recém-nascido.
Abalado, o rapaz contou que ninguém merece passar por isso. "Meu Deus! Quem faz isso? É um recém-nascido", lamentou.
A criança está sendo atendida pelo Corpo de Bombeiros. A Polícia Militar e a Polícia Civil estão no local.
Há um ano, Aurora, na época com apenas dois dias de vida, foi encontrada da mesma forma, dentro de um saco plástico, enrolada com cobertor e uma manta, em frente a uma residência, ainda com cordão umbilical, na região do Bairro Guanandi em Campo Grande.
Uma mulher a encontrou, pegou e levou para a casa, onde acionou a polícia.
Após grande repercussão, a menina foi "batizada" como Aurora, na mitologia romana, é a deusa do amanhecer ou diz respeito ao sentido figurado de princípio da vida. A comparação sugere o passado obscuro para a clareza de uma nova vida, pois, atualmente ela cresce em um lar com muito amor e dedicação.
No caso de Aurora diversas famílias mostraram interesse na adoção, mas como o caso é sigiloso, não é possível saber se ela continua em Mato Grosso do Sul.
"Ela encontrou e está crescendo em um lar com muito amor. Encontrou [nova família] entre os cadastrados no sistema nacional de adoção", disse a juíza Katy Braun do Prado, da Vara da Infância, Adolescência e do Idoso de Campo Grande.
Ao longo dos últimos 10 anos, cerca de 175 mulheres procuraram o projeto para, inicialmente, entregar o bebê. Dessas, 89 decidiram continuar com o processo e 86 optaram por ficar com o filho. O balanço da vara da infância aponta que 18 delas sofreram violência sexual.
Em 2021, ano em que Aurora foi encontrada, 26 mulheres foram atendidas, sendo 11 crianças entregues e 15 que continuaram com a família biológica. Já no ano passado foram 16 atendidas, 6 adotadas e 10 que permaneceram com a mãe.
O caso da recém-nascida reacendeu a discussão sobre a entrega voluntária de uma criança para adoção responsável. O projeto Dar a Luz oferece à gestante um espaço para ser ouvida por uma psicóloga e uma assistente social. Ela vai receber a orientação sobre como conduzir com responsabilidade a gravidez, as implicações de sua decisão, além de orientações sobre como agir diante de eventuais assédios para entregar de forma ilegal a criança.
"A entrega voluntária está cada vez mais comum e isso reflete, por exemplo, nos poucos bebês abandonados, pois não são muito frequentes. Todos os meses mulheres procuram o Poder Judiciário para receber orientação. Metade delas optam por ficar ou não. Há suporte, muitas passam por coisas muito difíceis", explica Braun.
Existem dois métodos de manifestar a doação voluntária: antes e depois do bebê nascer. A mulher opta em ter o acompanhamento ao longo do período gestacional ou apenas no nascimento, nesse caso, a equipe da maternidade é responsável por preparar o encaminhamento.
"É uma resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) disponibilizar o tratamento humanizado. As mulheres são tratadas com respeito, pois a vontade dela é considerada. Não sabemos o que ela passa. Se não há condição, ela entrega a criança que não vai ficar exposta a riscos".
Muitas descobrem como entregar a criança voluntariamente pela história de Aurora e pela internet. A entrega de um filho para adoção é uma das ações mais sensíveis no âmbito da Justiça da Infância e Adolescência.
A ideia do projeto surgiu diante da quantidade de mulheres que abandonam seus filhos ou procuram desconhecidos para assumirem sua criação, por não saberem que entregar um filho à adoção não é crime.
Não cabe apenas ao judiciário o acolhimento e amparo para mulheres que decidam pela entrega, médicos, enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, componentes das equipes de atenção básica do Sistema Único de Saúde, devem ser capacitados para o suporte.
Na unidade de saúde, os profissionais devem estar preparados para acolher a gestante e promover o imediato encaminhamento para a Justiça da Infância e da Adolescência, no caso de haver da parte dela o interesse de entregar o filho para adoção, ou dúvida a este respeito.
"É fundamental que a rede de saúde compreenda que não cabe a ela criticar, advertir, persuadir, julgar a gestante nem tampouco romper o dever de sigilo e fazer a busca ativa de supostos pais ou parentes para comunicar o interesse manifesto de entregar o filho para adoção, pois a lei garante à mãe o direito ao sigilo do nascimento", pontua a juíza.
Caso queira procurar por conta própria, a mulher pode buscar informações pelo telefone (67) 3317-3548 ou pessoalmente na Rua da Paz, 14, Centro de Campo Grande - Térreo, Bloco 02. Clique aqui para mais informações.