A Rota Bioceânica, que vai ligar Mato Grosso do Sul aos portos do Chile, é uma das grandes obras de infraestrutura colocadas como prioridade pelo Estado. Uma das responsabilidades locais é fazer uma alça viária em Porto Murtinho, já que a construção da ponte é de responsabilidade do Paraguai.
Após cinco anos em busca de recursos, o Executivo estadual conquistou a metade dos recursos com a nova gestão do governo federal. E, com isso, vai destravar a obra que permanecia "empacada" até então.
De acordo com o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, não existia a previsão orçamentária dos recursos na Lei Orçamentária Anual (LOA) para a alça da ponte.
"Nossa grande preocupação é que a cada dia que passa a gente correria um risco de atrasar o acesso e a ponte ficar pronta em dezembro de 2024 e nós não termos acesso por meio dessa construção, que é uma responsabilidade do governo brasileiro dentro do acordo internacional".
"A gente vinha muito preocupado com essa situação. Então o governador [Eduardo Riedel] colocou a questão da ponte da Rota Bioceânica como prioritária. O acesso à ponte foi colocado em primeiro lugar, dada a importância do desenvolvimento que o corredor trará", afirmou Verruck ao Correio do Estado.
Na segunda-feira, o governador Eduardo Riedel (PSDB) e alguns de seus secretários estiveram em Brasília e receberam a garantia de que R$ 93 milhões serão disponibilizados para a construção da alça.
Os recursos angariados no Ministério dos Transportes fazem parte de um repasse no valor total de R$ 984 milhões para Mato Grosso do Sul.
"O compromisso do governo federal é de lançar a licitação da alça de acesso à ponte até junho deste ano. Já temos o projeto pronto, o Dnit já o terminou, e o ministro [Renan Filho] se comprometeu nos próximos três meses a fazer essa licitação em regime de contratação direta, que será a empresa receber esse projeto básico e fazer todo o projeto de licenciamento e executivo", explicou Verruck.
Ainda de acordo com o secretário, o custo total da construção da alça será de R$ 180 milhões. Os R$ 87 milhões que faltam serão disponibilizados no próximo ano, também pelo governo federal.
Sobre o custo do acesso, de cerca de 14 quilômetros, Verruck explica que há dois pontos: são R$ 80 milhões para o asfalto e R$ 100 milhões para as obras que são necessárias para passar pelas áreas alagadas e corixos.
"Em função do número de obras que são necessárias, você vê a complexidade disso".
Sobre o cronograma, o secretário diz que o Brasil está no limite de tempo para a construção da alça de acesso, com a ponte projetada para ser finalizada em 2024.
"A partir de agora começa o monitoramento para que a gente consiga fazer a inauguração da ponte com o acesso", finalizou Verruck, que ainda afirmou que as obras da ponte já estão 24% concluídas.
A ponte sobre o Rio Paraguai é fundamental para a viabilização da Rota Bioceânica. A obra é financiada pela usina Itaipu Binacional, no valor de 616, 836 milhões de guaranis (cerca de US$ 90 milhões), e terá uma extensão total de aproximadamente 1.293 metros.
No Brasil, estão sendo feitos os preparativos para a execução das estacas. A central dosadora de concreto já está montada no lado brasileiro junto com os armazéns de apoio. A travessia de todo esse material para a margem brasileira do rio foi feita sobre jangadas.
O prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra (PSDB), disse à reportagem que a vinda do vice-presidente Geraldo Alckmin ao Estado trará mais credibilidade ao corredor.
"Em março o vice-presidente virá a Porto Murtinho, e eu acho que vai dar um impulso nessa construção. Riedel esteve com o presidente Lula, e ele está sensível a questão da abertura do acesso. [Era o que faltava], porque o Paraguai está de vento em popa [na construção]", avaliou.
Em reportagem publicada pelo Correio do Estado em 4 de dezembro de 2021, o prefeito se dizia desanimado com o projeto pela falta de agilidade do governo brasileiro em fazer sua parte.
Na época, ele disse que a cidade já havia perdido grandes empreendimentos que queriam se instalar na região. Agora, após o anúncio da chegada dos recursos, ele acredita que possa ser destravado o desenvolvimento.
"Estamos contratando uma universidade do Paraná para fazer o plano diretor do desenvolvimento. Estamos caminhando, mas a verdade é que vai sair. Quero fazer o plano diretor para poder alinhar o plano de desenvolvimento do corredor da BR-267 até a ponte, porque não podemos deixar as pessoas virem chegando e comprando terras ao longo da rodovia e construindo de qualquer jeito", concluiu Cintra.
A Rota Bioceânica é um corredor rodoviário com extensão de 2.396 quilômetros que ligará os dois maiores oceanos do planeta, Atlântico e Pacífico, partindo do Brasil e chegando aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando por Paraguai e Argentina.
O projeto, que começou a ser debatido em 2014 e teve início em 2017, tem a promessa de ampliar a relação comercial do Estado com países asiáticos e sul-americanos e ainda fomentar a diversificação da produção sul-mato-grossense.
O acordo previsto entre Brasil e Paraguai definiu que a travessia será construída com recursos da usina hidrelétrica Itaipu Binacional.
Conforme estudo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), os custos para o envio da produção sul-mato-grossense serão reduzidos, além do tempo de viagem, que será encurtado em até 17 dias rumo ao mercado asiático.
Outro levantamento aponta que a Rota Bioceânica terá potencial para movimentar US$ 1,5 bilhão por ano em exportações de carnes, açúcar, farelo de soja e couros.