A imagem foi compartilhada na conta oficial da prefeitura, em uma rede social, nessa quinta-feira (23/2), quando o número oficial de mortos na cidade já ultrapassava os 50. O turista estava acompanhando de mais três pessoas, em uma das praias da região central da cidade.
São Sebastião foi o município mais castigado pelas tempestades que caíram no litoral norte, no fim de semana, registrando o maior volume de chuva da história de São Paulo, em 24 horas. Até o momento, são 54 mortos e 4 mil sem moradia.
Mesmo com um cenário de guerra, escassez de água e mantimentos, casas e vidas destruídas, alguns turistas insistiram em ir à praia até a quarta-feira (22/2), ignorando a dor e o luto dos moradores da região.
Um vídeo feito na na terça-feira (21/2) (veja abaixo) mostra a praia de Juquehy lotada de turistas, curtindo um dia sol, dois dias após uma das maiores tragédias climáticas ocorridas em São Paulo.
“Foi uma tristeza de ver a reação das pessoas. No local onde eu trabalho, logo depois dos deslizamentos, várias pessoas chegaram na pousada vestidas com roupas de bloquinho de carnaval, outras fantasiadas. Quando comecei a relatar que eu estava sozinho, que só tinha eu, pois os outros funcionários não conseguiam chegar até a pousada, pois haviam perdido tudo, a maioria dos clientes ignorou. Falaram que não podiam fazer nada. Que tinham pagado pela estada no carnaval e que eu teria que os servir. Queriam tomar o café da manhã de qualquer jeito, ter a cerveja e etc. Foi uma falta de empatia muito grande”, afirmou ao Metrópoles o recepcionista Gabriel Dias, de 29 anos.
Ele mora na região da Barra do Una há cerca de 12 anos, quando se mudou do centro da capital paulista para o litoral norte.
“Senti maldade mesmo das pessoas como se a gente fosse escravo delas”, desabafou o recepcionista.
Além dos clientes da pousada, ele observou a insensibilidade de alguns turistas nas filas dos mercados, onde disputavam carvão e bebidas alcoólicas para fazer churrascos. “Ouvi uma moça na fila falando que não estava nem aí, que queria mesmo era curtir o carnaval.”
A falta de empatia se evidenciou nas praias, nas quais mesmo com a presença de itens das vítimas, incluindo uma geladeira arrastada pela enxurrada – segunda-feira na Praia do Una – turistas bebiam e comiam sob guarda-sóis, como se nada tivesse acontecido.
O movimento nas praia só diminuiu a partir de quinta-feira (23/2), quando foi feito o registro compartilhado pela Prefeitura de São Sebastião, na região central da cidade. É possível notar que há o homem dançando, com três acompanhantes, além de algumas outras pessoas na faixa de areia.
Mesmo com as praia vazias, nesta sexta-feira (24/2), a reportagem flagrou um protesto, em um carro sujo de poeira, no qual foi escrito: “não é férias.”
Deslocado para São Sebastião, o comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Cássio Araújo de Freitas, gravou comunicado nesta sexta-feira para reforçar o pedido de manter apenas os moradores e pessoas que atuam nas ações de assistência no município.
“Se você é turista, deixe a cidade e retorne para a Grande São Paulo, interior e outros estados”, declarou o oficial. “E, se você não tem uma missão específica agora na cidade, não vá para lá, evite ir”.
Ele ainda firmou que barreiras da PM estão em implantação nas rodovias para orientar o retorno de motoristas aos seus locais de origem. “Se você não for da cidade, sua presença gera uma necessidade logística que fica difícil de atender neste momento”.
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