Para o coordenador da pesquisa, José Eduardo Levi, com o impacto das aglomerações no carnaval o País terá uma minionda de covid, com positividade entre 30% e 40%.
Dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) também apontam uma alta na positividade de covid-19. Os números que vinham subindo desde a metade de janeiro tiveram um aumento maior na semana do carnaval.
O estudo da Dasa apontou que os índices de positividade para covid-19, na média nacional, chegaram a 23,85%, na semana de 17 a 23 de fevereiro, que incluiu o carnaval, com aumento de 20,2% em comparação com a semana anterior aos festejos, de 10 a 16 de fevereiro. Foram pesquisadas mais de mil unidades da rede em todo o País.
O Rio de Janeiro teve aumento de 31,5% nas taxas, saindo de 19,19% para 25,24%. O Estado de São Paulo teve alta de 11,6%, passando de 25,14% para 28,08%. No Nordeste, onde o carnaval de rua também reúne multidões, a taxa de positividade passou de 4,57% para 7,16%, na comparação entre antes e durante o carnaval. A região Sul e o Distrito Federal mantiveram estabilidade nos índices, com 14,48% e 6,67%, respectivamente.
De acordo com Levi, que é superintendente de pesquisa, desenvolvimento e novos produtos da Dasa, desde a última semana de janeiro, a variante XBB do coronavírus se tornou predominante nas amostras positivas para covid-19 coletadas em laboratórios dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
A XBB agora se sobrepõe às variantes BQ.1 e BA.5, sendo que esta última, em companhia com a BA.4, vinha dominando as amostras sequenciadas pelo Genob, projeto de vigilância genômica mantido pela Dasa desde junho de 2022 e coordenado por Levi.
"Considerando as aglomerações ocorridas durante o carnaval e as características da variante XBB, agora predominante no país, é bastante provável que as taxas de positividade sejam maiores nas próximas semanas", disse.
Segundo ele, como aconteceu durante toda a pandemia, as maiores altas vêm acontecendo em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas depois as variantes devem atingir o restante do País.
"Esse aumento já vem de um pouco antes do carnaval e pode estar relacionado com as aglomerações pré-carnavalescas, mas certamente, com essa nova variante se expandindo, o aumento deve ficar sustentado a nível Brasil. Vai aumentar ainda mais em São Paulo e no Rio por causa do carnaval. No Nordeste, onde o carnaval é forte, e que ainda estava com taxa de positividade bem baixa, com certeza vai aumentar."
Variantes vão se espalhar de forma progressiva, aponta especialista
Conforme o especialista, as variantes vão se espalhar de forma progressiva, formando uma nova onda. "Em toda a pandemia o que a gente viu é que, quando chega no pico, no auge, essas taxas de positividade são muito parecidas em todos os lugares. Então a média nacional vai chegar a 30% ou 40% dos exames positivos. São essas ondas ou miniondas que a gente tem. O Nordeste ainda está na faixa de 10%, enquanto no Rio e em São Paulo já está batendo nos 30%", disse.
Já os dados da Abramed mostram que a taxa de positividade evoluiu de 12,5% na semana de 14 a 20 de janeiro para 22,01% na de 18 a 24 de fevereiro, semana do carnaval. Na semana anterior, o índice era de 17,1% - alta de 13% na semana, a maior ocorrida no período de seis semanas. No total, foram realizados 110.981 exames, com positividade média de 16,6%.
O médico infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, disse que, desde a metade de janeiro, a taxa de positividade vem se mantendo em 15%, que ele considera muito alta. "Estamos fazendo dois mil exames para covid de biologia molecular e o número (de positivos) é absurdamente grande. E, com certeza, é subestimado. Muita gente faz o teste de farmácia e não faz os testes mais sofisticados. E quando é transmissor familiar, uma pessoa faz o teste e as outras que pegam não fazem."
Conforme Granato, o índice de positividade está estável em um patamar alto desde antes do carnaval, mas os reflexos das aglomerações nos festejos ainda podem aparecer. "Normalmente o vírus tem uma incubação de quatro a cinco dias, mas pode ser mais, pode ser de dez dias. Já tivemos casos de pessoas que testaram positivo para a doença até dez dias depois do primeiro caso dentro da família."
Cuidados devem ser mantidos
O infectologista lembrou que a variante XBB, que está com alta circulação, é menos grave clinicamente para a maior parte das pessoas, mas isso não deve ser motivo para relaxamento nos cuidados. "Se você tiver uma pessoa mais idosa, com uma pneumopatia, uma bronquite crônica, a covid pode ser mais complicada. Acho que as pessoas mais vulneráveis deveriam voltar a usar máscara na feira, no supermercado, no shopping, em um ambiente fechado", disse.
O especialista destacou também a importância de tomar a vacina Pfizer bivalente que começou a ser aplicada nesta segunda-feira, 27, no Estado de São Paulo. O imunizante é uma versão atualizada dos já existentes contra a covid-19 e oferece uma proteção ainda maior contra as novas variantes da Ômicron.
Estão recebendo a vacina, inicialmente, idosos com mais de 70 anos, pessoas vivendo em instituições de longa permanência a partir de 12 anos, funcionários dessas instituições, imunocomprometidos, comunidades indígenas e quilombolas.
"As pessoas devem aproveitar o início da vacinação com a bivalente para se vacinar. Embora tenha havido certa controvérsia sobre quanto ela protegeria as pessoas, a maior parte dos trabalhos mostram os benefícios de tomar essa vacina, seja para reforçar a imunidade original, seja para se proteger da variante Ômicron, que é a mãe da XBB", afirmou.