A queda da cidade de Bakhmut, na Ucrânia, que pode acontecer nos próximos dias, segundo o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, abrirá caminho para Rússia para o leste da Ucrânia, alertou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. “Entendemos que depois de Bakhmut eles iriam mais longe. Poderiam chegar a Kramatorsk, poderiam seguir para Sloviansk, seria um caminho aberto para os russos depois de Bakhmut”, declarou o chefe de Estado ao canal americano CNN. Apesar da queda da cidade ser um ganho russo, Stoltenberg enfatiza que isso “não reflete necessariamente um ponto de virada na guerra, mas ressalta que não podemos subestimar a Rússia e devemos continuar nosso apoio à Ucrânia”. A cidade de Bakhmut, uma das principais cidades da região de Donetsk é palco de combates acirrados há várias semanas, e as tropas russas conseguiram cercá-la quase completamente. Desde o verão do ano passado (hemisfério norte, inverno no Brasil), os russos tentam conquistar a localidade da bacia do Donbass, cenário da batalha mais violenta desde o início da invasão da Ucrânia há pouco mais de um ano.
Embora o valor estratégico de Bakhmut seja objeto de debate, a cidade adquiriu grande importância simbólica devido às enormes perdas de ambos os lados após meses de batalha. Moscou busca uma vitória emblemática que compense os reveses sofridos no fim do ano passado e que abra o caminho para a área da região do Donbass que ainda não controla. A Ucrânia prometeu continuar defendendo a cidade, embora um de seus soldados na área tenha dito que a queda é inevitável e que algumas unidades já começaram a se retirar de Bakhmut. Segundo o governo ucraniano, atualmente restam menos de 4.000 civis na região, em comparação com os mais de 70.000 habitantes que a cidade tinha antes do início do conflito. “Tive uma reunião com o chefe de gabinete e os comandantes militares e todos dizem que devemos permanecer firmes em Bakhmut”, afirmou Zelensky. “Claro, devemos pensar nas vidas de nossos soldados, mas devemos fazer o que possível enquanto recebemos armas, suprimentos. E nosso exército se prepara para a contraofensiva”, acrescentou.
Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, disse às autoridades no fim de semana que a captura de Bakhmut permitirá “operações ofensivas profundas nas linhas de defesa das forças armadas da Ucrânia”. O ataque é liderado pelas tropas do grupo paramilitar Wagner, cujo fundador, Yevgueni Prigozhin, anunciou nesta quarta-feira, 8, o controle de “toda a parte leste” da cidade. “As unidades do grupo Wagner tomaram toda a parte leste de Bakhmut, tudo que está ao leste do rio Bakhmutka”, afirmou Prigozhin em uma gravação divulgada por sua assessoria de comunicação. Em um relatório publicado na terça-feira, o Instituto para os Estudos da Guerra, um grupo de analistas americanos, afirmou que as tropas russas “certamente” haviam capturado a parte leste da cidade após uma “retirada controlada” dos ucranianos.