Desde 2011, estava prevista a implantação de um reservatório com capacidade de 50 mil m³ na esquina entre as ruas Gaivota e Ibijaú, um dos pontos mais críticos do bairro — foi na Rua Gaivota que Nayde Capellane morreu na última quarta-feira (8/3), após seu carro ficar submerso na enchente. De acordo com a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), o projeto não saiu do papel por falta de recursos.
O plano do piscinão consta do caderno de drenagem da bacia do córrego Uberaba, onde se localiza Moema, bairro nobre da zona sul paulistana. O documento apresenta um panorama geral da bacia hidrográfica e reúne estudos para reduzir os danos com enchentes. Um dos dados indicados pela pasta é de que 41% da bacia é composta por áreas de risco alto ou muito alto para inundações.
A esquina das ruas Gaivota e Ibijaú é cortada, por baixo da terra, pelo córrego Uberabinha. Isso não impediu que um condomínio de alto padrão fosse construído exatamente no ponto em que a secretaria pretendia implementar um piscinão. O Metrópoles buscou contato com a Tegra, construtora que entregou o conjunto em 2018, e ela disse desconhecer o projeto para o reservatório.
“A Tegra informa que o residencial Praça Gaivota, em Moema, está regularizado na prefeitura e recebeu o Habite-se em março de 2019, documento que ratifica a completa regularidade de seus projetos, autorizações e licenças, inclusive ambientais. Em relação ao piscinão, não temos informações sobre o projeto”, diz a empresa em nota.
De acordo com um inquérito civil do Ministério Público, a construção de empreendimentos na área sobre o córrego Uberabinha acelerou o processo de impermeabilização do solo, reduzindo a capacidade de infiltração das águas da chuva e ampliando os riscos de inundações.
Além disso, a esquina também coleciona outra polêmica. No mesmo local, um muro irregular foi levantado por outro condomínio para afastar “moradores de rua e usuários de entorpecentes”. No entanto, a construção é apontada por vizinhos como uma das principais causas de enchentes na área, já que o muro represa o excesso de água que deveria escoar pelas vias.
Na sexta-feira (10/3), a Prefeitura de São Paulo afirmou que tomará as medidas cabíveis para derrubar o muro, embora as denúncias contra a obra sejam conhecidas pelo MP desde 2016.
Em nota, a Prefeitura também afirmou que irá concluir, ainda em março de 2023, os estudos para que o piscinão da esquina entre a Gaivota e a Ibijaú seja implementado em outro local.
“A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), informa que o projeto básico para implantação do reservatório do Córrego Uberaba foi finalizado em 2011. À época, não havia recursos para prosseguimento do projeto. A Siurb irá concluir, ainda neste mês, o estudo que apontará a nova área para implantação do reservatório, bem como seu orçamento. A partir dessa etapa, o projeto executivo poderá ser desenvolvido para posterior licitação das obras.”
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