No mês em que se discute os direitos das mulheres, a saúde feminina é um dos temas centrais, sendo que a erradicação do câncer do colo do útero é um dos desafios para a gestão pública. Os casos, que deverão atingir mais de 51 mil mulheres até 2026, conforme estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), poderiam ser reduzidos com a adoção de mecanismos de controle, como vacinação e rastreio, mas que esbarram nas desigualdades sociais e regionais no país.
Terceira causa de mortes prematuras femininas no Brasil, o câncer do colo do útero é causado por alguns tipos Papilomavírus Humano (HPV) e, em muitos casos, não evolui, mas alterações celulares podem ocasionar a doença. Embora passíveis de identificação e tratamento antes do surgimento da doença, a última Pesquisa Nacional de Saúde revelou que a taxa de rastreamento é menor em mulheres de baixa escolaridade, pardas e negras. A constatação espelha a desigualdade a que estão sujeitas as mulheres na América Latina e no Caribe, que acumulam 80% das ocorrências nas Américas.
Para a chefe substituta da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede (Didepre) do Inca, Flávia de Miranda Corrêa, há discrepância no acesso aos serviços: enquanto uma parcela da população feminina faz exames com mais frequência do que o recomendável, outra não e, muitas vezes, não têm acesso aos serviços, elevando a mortalidade.
Ela lembra que, em 2017, o quadro foi o principal responsável pela perda precoce de mulheres entre 25 e 39 anos. “O câncer tem um impacto social e familiar muito grande. O plano de ação estratégica de 2021 a 2030 pretende reduzir a mortalidade na faixa etária de 30 a 69 anos. As mulheres com mais riscos são as que não fazem os exames preventivos ou não têm acesso”, explica.
A campanha Março Lilás é promovida para dar visibilidade à importância dos exames de rotina que podem identificar alterações causadas pelo HPV e podem evoluir para o câncer. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente, nas Unidades Básicas de Saúde, o exame citopatológico, conhecido como exame preventivo.
Identificar lesões precursoras garante a não evolução para o câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que seria possível reduzir entre 60% e 90% das ocorrências aumentando o rastreamento da população feminina para, ao menos, 80% das mulheres. Por ser uma doença sexualmente transmissível, o uso da camisinha nas relações sexuais é um importante método de prevenção, além da vacina ofertada gratuitamente pelo SUS, que é a tecnologia que garante maior proteção.
A recomendação do imunizante é para jovens entre 9 e 14 anos, além da população imunossuprimida (vivendo com HIV/aids, submetidos a transplantes de órgãos sólidos/medula óssea e pacientes oncológicos), de 15 a 45 anos. Desde 2020, a OMS trabalha com a meta de eliminar o câncer de colo de útero e o classifica como um problema de saúde pública mundial.