“A segunda inspiração que me vem dessa carta, ao lê-la, é o que o Papa Francisco nos diz que precisamos recomeçar. E se vamos recomeçar a reconstrução da fraternidade,de um modo artesanal devemos recomeça-la a partir dos pobres, para que ninguém fique de lado”.
A realidade da família tem sido outro destaque no pontificado do Papa Francisco. Foram duas assembleias sinodais, uma exortação apostólica, um ano temático e dezenas de catequeses sobre o tema.
Nesses 10 anos de pontificado, temos muito que agradecer ao Papa Francisco pela sua dedicação e o seu amor pela família. Com o Sínodo, trouxe a família para o centro da atenção pastoral, um olhar para um modo de ser Igreja que é como a família: de corresponsabilidade, de cuidado, de amor, de ternura, de gratuidade”, comentou o bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão para Vida e a Família da CNBB, dom Ricardo Hoepers.
Para dom Ricardo, a Amoris Laetitia “veio confirmar o trabalho que já vinha sendo feito pela Pastoral Familiar” e trouxe para os setores inspirados na Familiaris Consortio, de São João Paulo II, “um ar de renovação, uma motivação ainda maior para cuidarmos das fragilidades das famílias”.
Francisco deu especial atenção ao cuidado da casa comum nesses primeiros anos de pontificado. Marca disso foi a encíclica Laudato Si" – sobre o cuidado da casa comum. A leiga Patrícia Cabral, que faz parte das articulações da Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), do Laicato, e do Comitê Repam no Regional Norte 1, aponta como o “grande diferencial” a proposta da reflexão do tema da ecologia integral com a encíclica Laudato Si" “que, aqui no Brasil, casou com a Campanha da Fraternidade dos biomas e “fez com que a gente pudesse refletir mais sobre a maneira como nós cuidamos dessa casa comum, e entender a nossa pertença a esse corpo, que não estamos isolados”.
Para ela, essa ideia de pertença favorece a compreensão da necessidade de cuidar. “Não é simplesmente não cortar as plantas, mas renovar aquilo que está sendo destruído de outra forma”, pontua.
O arcebispo de Goiânia (GO), dom João Justino de Medeiros Silva, destacou a experiência de cuidado com a vida da Igreja e a relação com a sociedade durante o pontificado de Francisco. Sobre a presença na sociedade, ele destacou que o Papa tem contribuído com diversas abordagens, como o cuidado e o zelo com a educação na proposta do Pacto Educativo Global; o cuidado com o tema da ecologia, “com a sua belíssima encíclica Laudato Si" – sobre o cuidado da casa comum”; e a Economia de Francisco, “proposição que interpela a economia, a partir da participação de jovens”.
“Esses três temas são muito interessantes, poderíamos citar tantos outros, mas creio que são de uma importância muito grande para pensar a presença da Igreja na sociedade”, comentou dom Justino.
Francisco tem marcado a Igreja com um novo impulso ministerial para os leigos, de forma especial para as mulheres e, com a proposta do Sínodo, propõe uma nova dinâmica nas relações entre as diversas vocações.
Marilza Schuina, membro do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, avalia que o Papa Francisco “nos chama a uma Igreja em saída, uma Igreja-povo de Deus, onde todos e todas sejam sujeitos da evangelização”. Em relação aos cristãos leigos e leigas, Marilza considera que Francisco “vê e espera um laicato maduro, capaz de discernir sobre os sinais dos tempos, em comunhão com a sua comunidade, buscar o melhor caminho, um laicato que assuma a vocação no mundo, na história, um laicato capaz de semear, trazer os sinais do Reino da justiça, do amor e da paz”.
“Francisco, nessa dimensão da Igreja em saída, fala de um laicato em saída, que ofereça à Igreja, um novo modo de ser Igreja, de ser presença em todos os lugares onde ninguém mais chega, onde ninguém mais vá ou aonde o padre, o bispo, até o Papa pode ir, mas, nesses lugares, o leigo e a leiga não vai, ele está lá, ele vive lá, ele mora lá. Ele, portanto, é sinal desta Igreja presente no mundo”, comenta.
Marilza acredita que permanece um desafio à questão das mulheres, ao qual o Papa Francisco tem se mostrado sensível, “para que cada vez mais sejam reconhecidos os direitos da mulher na Igreja, a estar nos espaços de decisão, a ter seu lugar reconhecido efetivamente”.
A presidente do Núcleo Lux Mundi, Eliane De Carli, comanda uma das estruturas cuja atuação tem sido considerada delicada, mas essencial para combater a chaga dos abusos na Igreja. O escritório é responsável por assessorar as dioceses e entidades religiosas na implementação de serviços de prevenção e proteção, conforme estabelecido pelo Papa Francisco.
“A gente avalia [a criação de iniciativas de prevenção e combate aos abusos] como um momento bastante especial para a Igreja porque ele traz a questão de uma mudança de paradigmas, no sentido de trabalhar com transparência, com cuidado, com a proteção e a prevenção no caso dos abusos”, disse Eliane.