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Após 44 anos, mãe procura filha dada como morta em hospital: "Acredito em sequestro"


Delice ainda lembra do dia parto. Ela conta que chegou ao hospital acompanhada do marido, sentindo muitas dores e com pressão alta. Depois de confirmarem que estava em trabalho de parto, a mulher foi levada por uma enfermeira para a maternidade.

“Tive parto normal. Normal em todos os sentidos mesmo, não aconteceu nada de errado. Minha menina nasceu rápido, grande e saudável, mas não me deixaram pegar no colo e não me mostraram o rostinho. Levaram minha filha para uma sala que não tive acesso e eu nunca mais a vi”, relembra Delice.

A aposentada ficou internada três dias em um quarto na unidade de saúde. Todos os dias ela perguntava pela filha e as enfermeiras respondiam “amanhã eu trago para você”, “mais tarde a gente te leva até ela” e “ainda não está na hora de você pegar”.

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Ao Metrópoles, Delice contou que as mamas estavam vazando leite e ela chorava por não poder amamentar a criança. Nestes três dias, temeu que a filha estivesse internada na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal.

“No fim do terceiro dia, uma enfermeira chegou e disse "mãezinha, sua filha faleceu". Eu não entendia o motivo da minha filha ter morrido, sendo que nasceu saudável. Depois dessa informação, não me falaram mais nada a respeito da bebê, nunca me disseram do que ela morreu. Não pude nem sepultar”, lamenta a mulher.

Delice disse que, à época, ficou extremamente abalada e que não sabia exatamente quais seriam os próximos passos, para providenciar o enterro da menina. Alega que não foi informada por ninguém do hospital sobre os trâmites legais para a confecção do atestado de óbito. “Me disseram que ela estava na anatomia patológica. E me perguntaram se eu não queria deixar a criança para os médicos fazerem estudo científico. Eu estranhei”, relembra.

A mulher recebeu alta do hospital e voltou para casa, com o marido, e só retornou ao hospital 11 dias depois.

“Fui pegar o prontuário e saber a causa da morte, mas disseram que era proibido. No balcão, uma enfermeira me disse que não havia morrido nenhuma criança no dia em que minha filha nasceu. Aí a gente ficou com uma pulga atrás da orelha”, lembra Delice.

A hipótese da aposentada é de que a menina tenha sido sequestrada. “Eu demorei a aceitar, mas acho que foi esse o fim dela. Sequestro”, lamenta. Desde então, a mãe vive todos os dias com a angústia de não saber o que aconteceu com sua filha.

Apesar da desconfiança, Delice e o esposo nunca fizeram boletim de ocorrência e não voltaram mais ao hospital. Delice mudou-se com os outros três filhos para Timon, no Maranhão. Quando visita o Distrito Federal, ela conta que procura reconhecer a filha no rosto das pessoas na rua.

“A gente ainda procura. Eu tenho esperanças de achar minha filha antes de partir dessa vida. Todos os meus outros filhos procuram por ela também”. A menina se chamaria Ideane dos Santos Rocha, se Delice tivesse tido tempo de registrar.

O que diz o Hospital de Base

A reportagem entrou em contato com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) para comentar o caso. Por meio de nota, o instituto informou que “a obrigatoriedade da guarda de prontuário é pelo período de 20 anos, mas que o prontuário em questão está sendo buscado pelo Hospital de Base em seus arquivos”. O Iges diz, ainda, que foram identificados alguns registros sobre a Delice enquanto paciente, mas citou que o sigilo é preservado pelo instituto e nenhuma informação pode ser prestada sem autorização expressa da família.

“A paciente pode se dirigir à Superintendência do Hospital de Base para, com base nos registros já encontrados, ter suas dúvidas esclarecidas e ter acesso aos documentos que se encontram no hospital”, disse o Iges.

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