Desde que foi eleito, o ex-ministro e afilhado político de Bolsonaro tem conciliado uma postura mais pragmática e ponderada na hora de tomar decisões, como distribuir cargos e sancionar projetos, com gestos e afagos à base bolsonarista mais radical, como elogios públicos.
Mais de uma vez, Tarcísio declarou ter gratidão a Bolsonaro por ter sido escolhido e alavancado por ele na eleição ao Palácio dos Bandeirantes. No entanto, o governador confiou uma relevante fatia da máquina paulista ao secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), cujo partido também integra a base do governo Lula, o que tem incomodado o “bolsonarismo raiz” que ajudou a elegê-lo.
Entre as ações de Tarcísio que desagradaram a base bolsonarista neste início de governo, além do pouco espaço no primeiro escalão, estão, por exemplo, a autorização para que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) retome uma feira no parque da Água Branca e a participação dele em um evento do Lide, ao lado do ex-governador e fundador do grupo empresarial João Doria, desafeto de Bolsonaro.
A paciência de aliados bolsonaristas até agora tem sido justificada pelo fato de que esta é a primeira experiência de Tarcísio em um cargo eletivo. Para eles, é compreensível que o governador tenha feito concessões a outros grupos políticos nos primeiros meses de governo para conseguir viabilizar algumas de suas promessas de campanha, como a privatização da Sabesp.
Agora, as agendas que Bolsonaro deverá fazer em São Paulo nesse retorno ao Brasil depois de 89 dias nos Estados Unidos, no plano de liderar uma oposição ao governo Lula, servirão de termômetro para testar a gratidão de Tarcísio ao seu padrinho político.
Como presidente de honra do PL, partido que assumiu o comando da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) com apoio de Tarcísio, Bolsonaro deve intensificar gradativamente suas agendas públicas pelo país.
Maior colégio eleitoral brasileiro, São Paulo terá atenção especial do ex-presidente, que já sinalizou no primeiro dia da volta ao Brasil uma preferência pela candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL) a prefeito da capital. Hoje, Tarcísio está mais próximo do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição no ano que vem.
Além disso, a partir de agora, a reação de Tarcísio a eventuais pedidos ou críticas de Bolsonaro envolvendo questões do governo de São Paulo será observada com lupa pelos bolsonaristas, que têm potencial para desgastar a imagem do governador com ataques nas redes sociais caso se sintam preteridos ou traídos.
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