Desde a posse em 1º de janeiro até esta segunda-feira (10/4), data dos 100 dias, Tarcísio tem demonstrado habilidade em torear seus apoiadores mais radicais, incomodados com a falta de espaço no governo e algumas decisões do governador, enquanto adota uma gestão mais aberta ao diálogo e a recuos, destoando do modo de governar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político.
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Ainda sem nenhuma entrega que possa ser apontada como “marca” da sua gestão, Tarcísio chega aos 100 dias de governo com 44% de aprovação, segundo pesquisa Datafolha divulgada no domingo (9/4), e com uma concentratação de mais da metade dos investimentos do estado em obras rodoviárias, área que o projetou politicamente quando foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.
A seguir, o Metrópoles destaca os principais pontos que marcaram os 100 dias de governo Tarcísio:
Desestatização
O discurso de que faria um governo próximo ao mercado financeiro e voltado para a concessão ou privatização de ativos do Estado permeou toda a campanha de Tarcísio e seu início de mandato foi voltado a transmitir a ideia de que tais promessas serão cumpridas.
A principal imagem que resume seu governo até aqui é a de um Tarcísio eufórico, dando sete marteladas no púlpito da B3, após o leilão de concessão do Trecho Norte do Rodoanel, vencido por um fundo de investimentos criado havia poucas semanas. Na ocasião, ele lamentou que o martelo era de boa qualidade – sua intenção era quebra-lo.
A concessão foi tida como uma vitória de seu mandato, embora tivesse sido inteiramente formatada pelo governo anterior, de Rodrigo Garcia (PSDB). O negócio prevê investimento de R$ 3,4 bilhões para terminar a rodovia.
Tarcísio anunciou a contratação de estudos para a privatização da Sabesp, o que será feito pela consultoria ligada ao Banco Mundial, e da Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae), o que foi barrado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Sua equipe aprovou a realização de 15 Parcerias Público-Privadas (PPPs), que devem ser formatadas ao longo do ano.
A predileção pelas privatizações também tem potencial para causar desgaste. O governo enfrenta uma gravíssima crise no transporte de passageiros, em que dez descarrilamentos de trens com passageiros já foram registrados em linhas de trens concedidas à ViaMobilidade, do Grupo CCR. Tarcísio tem se posicionado a favor da empresa contra o Ministério Público Estadual, que deve apresentar nesta semana uma ação judicial pedindo suspensão da concessão.
Tragédia no litoral
Um fator imprevisível com o qual o governador teve de lidar foi tempestade em volumes históricos que atingiu o litoral norte do estado, causando deslizamentos de terra que mataram 65 pessoas.
No dia seguinte à tragédia, 19 de fevereiro, quando a maioria dos corpos das vítimas ainda não haviam sido localizados, o governador transferiu seu gabinete para São Sebastião e deu conta de dar respostas simultâneas às diversas emergências que ocorriam no local.
Ele garantiu água, alimentação, internet e alojamento para os desabrigados, desobstruiu a Rodovia Rio-Santos em quatro dias e mobilizou equipes para resgate das vítimas, em ações conjuntas com o governo federal e as prefeituras do litoral – transmitindo para a população uma ideia de trabalho em conjunto com adversários políticos diante de uma situação de força maior.
No fim do mês, quando a crise já não era tão aguda, uma pesquisa de opinião feita pelo Instituto Paraná Pesquisas apontou que 61% da população aprovou sua gestão até ali.
Vaivém bolsonarista
Com um governo composto por aliados de confiança trazidos do Ministério da Infraestrutura, políticos indicados pelo maior aliado, Gilberto Kassab (PSD) e ainda uma fração bolsonarista em seu primeiro escalão (composto por Guilherme Derrite, da Segurança Pública, e Sonaira Fernandes, da Mulher), Tarcísio priorizou gestos de moderação no diálogo com as demais esferas de governo e até a oposição, mas sem deixar de fazer acenos ao eleitor bolsonarista radical.
O governador já teve três reuniões com o presidente Lula e ficou ao lado do presidente logo no começo do mandato, no episódio da tentativa de golpe promovida por bolsonaristas em 8 de janeiro. Depois disso, manteve a relação institucional mesmo diante dos sinais de que seu maior pleito, a concessão do Porto de Santos, não vai prosperar. Também se mostrou sem restrições à interlocução com o ministro do Supremo Tribubal (STF) Alexandre de Moraes, desafeto dos bolsonaristas.
Ainda antes de tomar posse, ele declarou que nunca havia sido um “bolsonarista raiz”.
No campo estadual, Tarcísio deu sinal verde para as negociações tocadas por Kassab para a eleição de André do Prado (PL), nome próximo a Valdemar da Costa Neto, para a presidência da Assembleia Legislativa, que contaram com apoio do adversário PT, e a distribuição de cargos a aliados distante do bolsonarismo radical.
Diante da insatisfação crescente de bolsonaristas com essas atitudes, Tarcísio recentemente passou a fazer elogios públicos e declarações de gratidão ao padrinho político, que voltou ao Brasil na semana passada e deve promover eventos políticos em São Paulo.
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