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Ex-moradores de rua integram equipes de reforço para abordagens em SP


O secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Carlos Bezerra, anunciou o início do trabalho na manhã desta segunda na praça Armênia, na região central, onde há grande concentração de barracas. O prefeito não participou da agenda.

A maior parte das barracas foi desmontada durante a noite anterior. Segundo os frequentadores da praça, houve receio de que os pertences fossem levados pelos funcionários da prefeitura durante a visita do secretário.

De acordo com o Bezerra, a iniciativa é um projeto-piloto e deve ser mantida até o fim do período de baixas temperaturas, quando há maior procura por acolhimento. As equipes são compostas por 23 pessoas que vão atuar 24 horas por dia na tentativa de convencer quem está nas calçadas a aceitar encaminhamentos a abrigos.

O trabalho é oferecer vagas fixas em hotéis sociais mantidos pela prefeitura, diferentemente da abordagem tradicional em que os sem-teto são direcionados para endereços onde a vaga é rotativa, ou seja, a pessoa precisa sair de manhã e voltar para a fila no dia seguinte. Ao todo, serão disponibilizadas 253 vagas, segundo a secretaria.

Na manhã desta segunda, 132 pessoas foram abordadas pelas equipes de reforço e 86 (65%) aceitaram encaminhamentos para acolhimento, segundo a secretaria. De acordo com dados da pasta, a relação média entre abordagem e encaminhamento calculada neste ano é de 37%. No ano anterior, o percentual foi 36%.

Integrante de uma das equipes, a mulher trans Ryana Menezes Marinho, 31, viveu nas ruas quando chegou de Manaus, em 2008, após ter saído de casa por causa dos conflitos com o pai que não aceitou sua identidade de gênero.

Ela conta que usa a vivência das ruas para se aproximar da população trans, que representa 3,1% dos sem-teto na cidade, de acordo com o censo divulgado pela prefeitura em janeiro do ano passado. "Quando me abordavam, eu não dava credibilidade ao que me ofereciam", diz. "Ao me verem assim trabalhando, é mais fácil para elas acreditarem que é possível sair dessa situação", afirma ela, que é reconhecida pelas mulheres abordadas.

Entre os empecilhos para a população LGBQIA+ aceitar acolhimento é a falta de garantia de que terão sua identidade respeitada nos equipamentos. Ryana explica que muitas pessoas transgênero que estão na rua ainda não conseguiram a documentação com a retificação de gênero e, por isso, são encaminhadas para abrigos incorretos. "As mulheres trans são tratadas com o pronome masculino nesses lugares", diz.

Outro integrante das equipes qualificadas de abordagem, Marlon Alves, 38, viveu nas ruas por cerca de dois anos após se mudar de sua cidade no interior paulista em busca de emprego na capital. Ele conseguia pagar diárias nas pensões do centro como ajudante para carregar e descarregar caminhões no Pari, mas a renda acabou quando veio a pandemia e ele foi viver em uma barraca na calçada.

Atualmente, Alves é um dos moradores da vila de moradias transitórias inaugurado no fim do ano passado pela gestão municipal no Canindé, na região central. Nesta segunda, ele conta que conseguiu convencer uma senhora a deixar uma barraca na praça Armênia durante seu primeiro dia como integrante da equipe de abordagem. "Oferecemos a proposta de moradia, e a coisa que ela bateu mais foi o 'dog'. Ela não queria abandonar o cachorro", diz. Por isso, Alves argumentou que a vaga de abrigo inclui espaço para animais de estimação.

Mãe de um bebê de 7 meses, Tatiane Pereira da Silva, 40, conta que mora em uma barraca na praça Armênia com outras três crianças com idades entre 1 e 12 anos. "Vim para cá para esperar a prefeitura me ajudar", diz ela, que morava em uma ocupação na região central. "Nesses lugares, ninguém sabe se você está lá ou não. Na rua, sempre tem uma chance de aparecer ajuda", conta.

Abordada pela equipe de reforço da Assistência Social, Tatiane aceitou ajuda e foi encaminhada para um hotel social no bairro de Campos Elíseos.

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