Segundo a regra de rotatividade do Banco dos Brics, um país membro indica um novo nome para comandar a instituição a cada período de cinco anos. A presidência deveria ficar com um indicado pelo Brasil até 2025.
No início de março deste ano, Marcos Troyjo renunciou ao cargo, dando espaço para Lula indicar um novo nome. A saída de Troyjo ocorreu de comum acordo com o governo. Nos bastidores, a justificativa foi uma divergência de visões sobre os objetivos do Brics e de posição política.
Antes disso, em fevereiro, durante entrevista exclusiva à CNN Brasil com a apresentadora Daniela Lima, Lula já tinha defendido abertamente a ida da ex-presidente para o comando do banco.
“Se depender de mim, ela vai ser [presidente do banco do Brics]. [ ] Ela é muito competente tecnicamente. Se for presidente do Brics, será uma coisa maravilhosa para o Brics e para o Brasil”, afirmou.
Após a indicação, o conselho de governadores do banco, formado pelos ministros da Fazenda dos países fundadores do NDB, mais os representantes dos quatro novos integrantes (Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Egito e Uruguai), se reuniram por videoconferência para votar a indicação. Não houve nenhuma outra candidatura.
A petista foi sabatinada pelas autoridades estrangeiras ao longo do mês de março, depois que o NDB comunicou o início da troca de comando.
No comunicado oficial sobre a eleição da ex-presidente, o banco ressalta suas competências econômicas, citando que “a economista Dilma Rousseff foi eleita presidente do Brasil por dois mandatos” e, como presidente, “concentrou sua agenda em garantir a estabilidade econômica do país e a criação de empregos”.
O comunicado diz ainda que, durante seu governo, a luta contra a pobreza foi priorizada, e os programas sociais que começaram com Lula foram expandidos e reconhecidos internacionalmente.
“Como resultado de um dos processos mais extensos de redução da pobreza na história do país, o Brasil foi removido do Mapa da Fome da ONU”, diz a nota.
Dilma Roussef foi ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil nos dois primeiros governos do presidente Lula. Em 2010, foi a primeira mulher eleita para assumir a presidente do Brasil.
Já no seu segundo mandato, em 2016, Dilma sofreu impeachment em decorrência de crimes de responsabilidade. Seu afastamento da presidência foi aprovado pela Câmara e pelo Senado pela prática das chamadas “pedaladas fiscais” (atrasos de pagamentos a bancos públicos) e pela edição de decretos de abertura de crédito sem a autorização do Congresso.
Sete anos depois, a eleição da ex-presidente para o Banco do Brics marca a volta da petista a um cargo público. Até então, Dilma apenas participava de palestras, debates e discussões acadêmicas e partidárias.
Estima-se que a nova dirigente deve receber um salário de aproximadamente R$ 290 mil mensais. O banco também oferece aos empregados uma série de benefícios, como assistência médica, educacional para filhos, auxílio-viagem para o país de origem, subsídios para mudança em caso de contratação e desligamento e transporte aéreo.
Tanto fontes do governo Lula, quanto pessoas que trabalham no NBD e não são aliadas aos petistas, afirmam que Dilma foi muito bem recebida nas reuniões e há uma expectativa positiva sobre a atuação da ex-presidente no cargo.
A percepção geral é que o fato de Dilma ser uma ex-presidente e muito próxima a Lula, abre um canal direto de diálogo com os presidentes chinês, Xi Jinping, e russo, Vladimir Putin, o que pode fortalecer a importância do banco, sobretudo diante da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Segundo pessoas com conhecimento do assunto consultadas pela analista da CNN, Priscila Yazbek, a ex-presidente tem fácil acesso a pelo menos quatro dos cinco chefes de Estado e isso “não tem preço” para qualquer organismo multilateral.
O fato de Dilma ter sido uma das fundadoras do banco, em 2014, e ter experiência à frente de programas de infraestrutura também tornam a ex-presidente “aderente ao mandato do banco”, dizem as fontes.
Além disso, na perspectiva do professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, a escolha por Dilma Rousseff está “dentro de uma política externa” que busca retomar a projeção internacional do Brasil.
“É nesse contexto de ex-presidente da República que se venceu o nome de Dilma, é claro que não tem experiência muito grande na gestão bancária, não seria melhor nome técnico, mas no viés político tem um sentido”, completou.
*Sob supervisão de Ana Carolina Nunes
Este conteúdo foi originalmente publicado em Dilma toma posse como presidente do Banco dos Brics em Xangai no site CNN Brasil.