"A Organização Mundial da Saúde traz o conceito de saúde mental como a capacidade de a gente viver em um estado de bem-estar, de conseguir usar as nossas competências e habilidades para sermos mais produtivos e contribuir com a sociedade. É muito mais do que só a ausência de um transtorno como o de ansiedade ou bipolaridade", explicou.
A capacidade de contribuir socialmente, realizar as tarefas diárias e se relacionar com amigos, família e colegas de trabalho está intrínseca ao que pode ser considerada uma boa saúde mental.
É possível aprender a ter saúde mental?
As competências socioemocionais são adquiridas ao longo da vida. O autoconhecimento, por exemplo, é uma ferramenta que auxilia no desenvolvimento socioemocional. E quanto mais as pessoas se conhecem, mais elas podem entender seus limites e perceber quando algo não vai bem consigo mesmas.
"A aprendizagem socioemocional vem como uma forma de prevenir problemas de saúde mental. A gente estrutura programas para ajudar tanto os estudantes, como os professores e as famílias a desenvolverem competências que permitam que eles consigam lidar melhor com os desafios da vida, manejar suas emoções, ter melhores relacionamentos", comentou Carolina.
A docente ainda reforçou que a aprendizagem socioemocional também contribui para que as pessoas gerenciem melhor suas emoções, definam seus objetivos pessoais e coletivos e até mesmo entendam como tomar decisões de maneira mais adequada.
Exercício do olhar
O professor José Augusto Souza dos Santos, da Escola Maria Dias Trindade, em Paripiranga (BA), percebeu que, apesar do calor do Nordeste, muitos estudantes iam para a escola usando roupas de frio. Em uma conversa com uma das alunas, descobriu que estava diante de um caso de automutilação.
Esse olhar atento levou o docente a pensar em um projeto voltado exclusivamente para as questões socioemocionais. Chamado de "Vamos Conversar", a proposta era criar um espaço de diálogo, para conscientização sobre transtornos como ansiedade e depressão, cada vez mais frequentes entre os jovens.
Um dos principais objetivos foi desmistificar a depressão e tratá-la como uma questão de saúde pública. E a iniciativa deu muito certo, tanto que se tornou política pública estadual e está sendo replicada em outros estados brasileiros, além do município onde Augusto atua.
A temática socioemocional cerca as preocupações do professor. Além deste projeto que visa ampliar o debate sobre a saúde mental, ele também é pesquisador da temática do discurso de ódio, mais especificamente ao que é voltado ao corpo docente.
Com o aumento de casos surgidos a partir da internet, os discursos de ódio têm se materializado na rotina escolar, o que também pode ocasionar em problemas para a saúde mental dos docentes. A violência, representada nas últimas semanas em casos de agressão física e atitudinal nas escolas, é um exemplo disso.
Augusto destacou que todo o sistema educacional precisa abraçar os professores: afinal, a vida de um docente não é tão simples e romantizá-la não contribui para a realidade de quem está em sala de aula. "É preciso acolher os professores para que eles saibam como acolher os alunos. A pesquisa sobre discurso de ódio é cara para mim: quem nunca sofreu um discurso desse tipo, seja no ambiente escolar seja fora dele?", questionou o professor.
Saúde mental na escola
Lá pelos idos de 2008, a questão da saúde mental ainda não era algo propriamente da escola, relembrou Iane Nobre, coordenadora da Gestão Pedagógica do Ensino Médio da Secretaria da Educação do Estado do Ceará. Mas começava ali uma forte atuação governamental neste âmbito, por meio do Projeto Professor Diretor de Turma.
"Quando você estimula a falar e tem intencionalidade, o professor se sente seguro a partir de informação. Os materiais estruturados garantam que ele consiga, naquele tempo de aula, criar oportunidades de participação e com isso o aluno se engaja", afirmou Iane.
Desde 2014, a rede onde atua tem trabalhado com competências socioemocionais de maneira estruturada. "Contamos com uma rede de 60 psicólogos nas nossas regionais. Eles fazem uma espécie de formação de suporte, porque essas competências são pressupostos da psicologia e o educador precisa se preparar e ter insumos para se sentir seguro de levar essa abordagem para sua sala de aula", contou Iane. A docente destaca que ter essa preparação, com uma política de desenvolvimento de competências socioemocionais para os docentes, garante que eles consigam também desenvolver um bom trabalho em sala de aula.
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