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Mauricio de Sousa perde vaga na Academia Brasileira de Letras para filólogo

Ricardo Cavaliere teve 35 votos na eleição desta quinta, enquanto pai da "Turma da Mônica" teve apenas 2 O quadrinista Mauricio de Sousa, criador da "Turma da Mônica" – Caio Gallucci WALTER PORTO FOLHA DE S.

Por Midia NAS em 27/04/2023 às 22:38:25
O quadrinista Mauricio de Sousa, criador da "Turma da Mônica" – Caio Gallucci
WALTER PORTO FOLHA DE S.PAULO SÃO PAULO – O filólogo Ricardo Cavaliere, de 69 anos, foi eleito na tarde desta quinta-feira para a cadeira número oito da Academia Brasileira de Letras, derrotando o quadrinista Mauricio de Sousa.

Cavaliere era a escolha imediata à vaga antes de o pai da “Turma da Mônica” apresentar seu nome na disputa, em março, em substituição à professora Cleonice Berardinelli, morta em janeiro.

Seu favoritismo parecia ameaçado pelo cartunista, mas a realidade mostrou o contrário. Ele teve 35 votos contra apenas dois em favor de Mauricio.

Doutor em língua portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor aposentado da Universidade Federal Fluminense, Cavaliere é um dos maiores especialistas em letras e linguística do país.

Após o doutorado, pesquisou ao lado de Evanildo Bechara, imortal da ABL de 95 anos e referência absoluta nos estudos de gramática no país.

A vaga em disputa era de Berardinelli, que morreu em janeiro aos 106 anos como a integrante mais longeva da Academia, da qual fora a sétima mulher eleita. Especialista em literatura portuguesa, ela foi uma das pioneiras no estudo de Fernando Pessoa.

Por isso, Cavaliere era visto como um bom substituto para a cadeira número oito, já que a Academia tem tradição de substituir seus membros por outros com especialidade semelhante —no caso, ambos são pesquisadores da língua portuguesa.

homem calvo de cavanhaque grisalho
O filólogo Ricardo Cavaliere, agora eleito imortal da ABL, durante lançamento virtual de livro – Reprodução/YouTube

Concorriam, além de Mauricio e Cavaliere, os escritores Elois Angelos D'Arachosia, James Akel e Joaquim Branco e o advogado José Alberto Couto Maciel. Nenhum jamais teve chance real de ser eleito.

Em declaração depois do resultado, o cartunista de 87 anos parabenizou o vencedor da disputa e celebrou a discussão sobre o “papel fundamental” dos quadrinhos na formação de leitores.

“Agradeço de coração os apoios que recebi nesta campanha e aos que me honraram com seu voto, acreditando na minha proposta para a ABL. Continuarei nesta ideia de trabalhar e aprender com os acadêmicos, assim como vem acontecendo na Academia Paulista de Letras”, afirma o texto, em referência à instituição estadual da qual o artista é integrante.

Desde que Mauricio confirmou sua candidatura, a corrida para a vaga esquentou.

Se o cartunista rapidamente conquistou um pequeno séquito de adeptos dentro da Academia, caso da atriz Fernanda Montenegro e do escritor Paulo Coelho, e na opinião pública, também foi alvo de ataques.

Akel, que postulava à mesma vaga e não obteve nenhum voto, foi o crítico mais vocal ao desenhista, criando polêmica ao dizer que gibi não era literatura de verdade e que Mauricio de Sousa não tinha o que acrescentar à ABL. Ele afirmava ser mais preparado para a vaga e ter um plano de ação que gostaria de implementar na Casa de Machado.

As falas de Akel geraram reações tanto nas redes sociais quanto em artigos como o do editor André Conti, que lembrou outras declarações recentes do escritor e jornalista, como a defesa da tortura de guerrilheiros opositores da ditadura e a crítica à TV Globo por, supostamente, “mostrar uma imagem ruim do regime militar”.

Mauricio de Sousa respondeu os ataques dirigidos a ele afirmando que quadrinhos “são revolucionários porque ficam entre a literatura e as artes gráficas” e lembrando o americano Will Eisner, que o ensinou “que a linguagem dos quadrinhos é uma revolução de ideias”.

Pela segunda vez na história, os acadêmicos votaram em urnas eletrônicas, emprestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, para eleger o novo imortal. A primeira foi na semana passada, quando Heloisa Buarque de Hollanda foi escolhida para a vaga que era de Nélida Piñon.

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