Os dois primeiros episódios da minissérie documental foram lançados nesta quinta-feira, na plataforma de streaming da emissora. O Estadão teve acesso ao primeiro capítulo, que estará disponível a todos os assinantes do canal. Em quase 50 minutos, a produção foca o início da carreira de Galvão e os lados negativos decorrentes do seu trabalho - em especial, o distanciamento físico de sua família. Há depoimentos fortes e sinceros.
O documentário levou nove meses para ser produzido, do início de sua gravação até o lançamento. Inicialmente, estava previsto para ir ao ar no primeiro trimestre deste ano - o que não aconteceu. Mais de 50 pessoas foram ouvidas para ajudar a montar o perfil do narrador, trazendo uma perspectiva humana e profissional - por vezes esquecida.
Além do próprio narrador, antigos companheiros, como Arnaldo Cezar Coelho, Reginaldo Leme, Casagrande, Falcão, Júnior, Tino Marcos, Mauro Naves e Marcos Uchôa, revelam sua relação com o narrador. Atletas, que tiveram suas conquistas eternizadas, também estão presentes na produção. É o caso de Kaká, Zico, Ronaldo, Romário e Cafu. Há outros que também são ouvidos.
Com direção de Sidney Garambone e Gustavo Gomes, a série de episódios traz um Galvão sem filtros, próximo da realidade além das transmissões. Como é citado no primeiro episódio, ele entrou nas casas brasileiras ao longo das últimas quatro décadas. Ao Estadão, Garambone cita que a produção foi pensada para ser guiada a partir da Copa do Mundo do Catar, última cobertura do narrador na emissora, no ano passado.
"O Catar é o fio condutor do documentário. A partir daqui, relembramos a carreira com passagens e relatos ao longo dos episódios", conta o diretor. Em conversa com Galvão, antes do início da produção, ele revela que o narrador não queria que o filme fosse "chapa branca" em relação à sua vida. "A ideia é mostrar todos os lados do Galvão para que o espectador tire sua própria conclusão."
"Nós revisitamos Los Angeles, local da conquista do tetracampeonato, e Yokohama, do penta", afirma o diretor. No Japão, um momento interessante é quando o narrador se "declara" ao estádio, local onde narrou o quarto título mundial da seleção, dos clubes brasileiros no Mundial da Fifa e do ouro olímpico do futebol, em 2021. Suas residências, no Rio Grande do Sul e em Londrina, também foram palco das gravações.
FAMÍLIA
Face desconhecida do profissional, ou pouco divulgada, o documentário traz Carlos além de Galvão Bueno. Filho de Mildred dos Santos, atriz que morreu no início de 2023 aos 94 anos, o narrador foi filho e sobrinho único na infância. Por isso, brinca no documentário que foi "mimado" no início de sua vida.
Em meio à carreira como narrador, Galvão teve três filhos com Lúcia Ferro Costa, sua primeira mulher, que morreu em 2000. São eles Cacá, Popó e Letícia Bueno. No documentário, eles falam de como é ser filhos da personalidade Galvão Bueno e sobre a ausência do pai ao lado longo da infância e da adolescência.
Com viagens frequentes, Galvão Bueno lamenta nunca ter conseguido participar de reuniões de pais ou levar seus filhos na escola. Por outro lado, o documentário mostra um momento único: a ida de Cacá e Galvão ao Maracanã, no Fla-Flu do Brasileirão de 2022. Foi a primeira vez que pai e filho foram juntos ao estádio.
Nesses trechos com a família, a dificuldade foi de fazer com que o narrador esquecesse que estava sendo gravado. "Ele tem muita experiência com a câmera. Em vários momentos, a gente dizia 'ignora a câmera, Galvão'", brinca Garambone. Durante os seis meses de gravação, o narrador conseguiu ignorar o aparelho com mais frequência. "Não se sabia como era a convivência do Galvão com sua família. Essa é uma das propostas do documentário. Abordar o lado desconhecido, o lado do Carlos", diz.
CARREIRA
Além de todas as célebres conquistas narradas por Galvão ao longo das últimas quatro décadas, "Olha o que ele fez" repercute os impactos de seu crescimento no jornalismo junto à explosão da TV no País. José Bonifácio, o Boni, diretor da Globo nos anos 1970, diz que ele era "um garoto metido com vontade de fazer as coisas bem feitas".
Galvão começou sua carreira no rádio, antes de ser contratado pela Bandeirantes nos anos de 1970. Em 1981, chegou à Globo, onde permaneceu até a Copa do Mundo de 2022. Ao longo dos episódios, é colocado como um perfeccionista, com o dom da oratória desde a juventude. "Vendedor de emoções misturado com equilibrista. Chegar ao sucesso não é tão difícil. Difícil é conviver com o sucesso", afirma ele.
COPA DO MUNDO DO CATAR E MORTE DE PELÉ
Fio condutor do documentário, a Copa do Mundo do Catar tem destaque no início da série. Em registros inéditos, o narrador chega a revelar que tinha medo de perder o Mundial. Em novembro de 2022, contraiu covid-19 e precisou ser internado antes de viajar ao Catar. Esteve fora da primeira transmissão da Copa, na partida de estreia entre Catar e Equador.
Gravações mostram que o narrador tratou o Mundial do Catar com carinho, já que seria sua última experiência na emissora. Em um dos momento, chega a afirmar que a única coisa que faltava era a presença de Pelé. No mês seguinte, o Rei do Futebol morreu, em decorrência de um câncer no cólon.
Galvão cresceu assistindo Pelé no Santos. Na escola, afirma que "matava" aulas no Colégio Rio Branco, em São Paulo, para assistir aos jogos no Pacaembu. "Morre um pedaço da minha vida", diz, no documentário, ao comentar sobre a morte de Pelé.
EMOÇÃO
Ao longo dos episódios, há diversos momentos em que o espectador se deparará com um lado pessoal de Galvão Bueno. Além da ida com seu filho Cacá ao Maracanã, ao lado de seus netos, o narrador tem sua intimidade desvelada. Em Yokohama, ao deixar o estádio que o Brasil conquistou o penta, ele diz: "Não dá vontade de ir embora".
Garambone considera um dos momentos mais significativos do documentário. "São muitos significados em uma só frase. Não querer deixar o local e até mesmo a percepção de Galvão de que é um ciclo que se encerra na sua carreira", afirma. Além disso, o diretor revelou ao Estadão outra experiência, que não foi gravada, mas que ajuda a entender o tom do documentário.
Em Suzuka, na ida ao autódromo que Ayrton Senna fez história na Fórmula 1, Galvão notou que o sistema de som do local tocava a "Valsa de Despedida". "Não gravamos na hora porque achamos que o público não acharia que foi autêntica. Nem nós acreditamos", brinca. "Falei a ele. 'Isso deve tocar a todo momento', mas ficou estupefato pela coincidência do mesmo jeito." Ainda que não tenha registros, é uma forma de compreender como a direção lidou com o narrador ao longo do projeto.
ONDE ASSISTIR AO DOCUMENTÁRIO
Além dos dois primeiros episódios estarem disponíveis no Globoplay a partir desta quinta-feira, o SporTV exibe neste mesmo dia o primeiro capítulo deste material para os assinantes do canal, a partir das 23h, logo após o programa "Troca de Passes".