Foi o que disseram à reportagem três professores de cursinhos pré-vestibular sobre os temas da atualidade que podem aparecer nas provas de meio de ano em São Paulo.
As faculdades particulares –maioria entre as que iniciam cursos no segundo semestre– geralmente formulam questões mais factuais, diz o coordenador de ciências humanas do Cursinho da Poli, Rui Calaresi, que atua há 26 anos na área. A ideia, de acordo com ele, é medir se o candidato tem um acesso mínimo à informação.
O primeiro grande assunto que os vestibulandos podem esperar encontrar é o conflito entre Rússia e Ucrânia. A abordagem nos exames deve ir além da origem da guerra e explorar as consequências políticas, sociais e econômicas.
As sanções que o Ocidente impôs à Rússia, por exemplo, e seus impactos sobre o fornecimento de gás natural e petróleo na Europa podem render perguntas sobre o uso de combustíveis fósseis e o processo de globalização.
É justamente essa uma das apostas da vestibulanda Ana Beatriz Marques, 18, aluna do Cursinho CPV. "Que implicações causou a fala de Lula sobre a responsabilização dos dois países [pela guerra]? Quais as consequências disso para o Brasil? Talvez caiam questões do tipo", diz ela, que quer cursar cinema na ESPM.
Embora já tenha conseguido uma vaga no processo seletivo de 2022, Ana fará a prova pela segunda vez, no dia 25 de junho, para tentar melhorar sua colocação e concorrer a uma bolsa.
"Minha maior dificuldade [na prova do ano passado] foi a parte de atualidades, porque eu não tive muitos espaços para conversar sobre o que estava acontecendo no mundo durante o ensino médio", conta. Agora, no cursinho, ela tem uma aula quinzenal dedicada exclusivamente a temas em alta.
Também tem havido discussões sobre a China. "É o tema com a maior diversidade de aspectos atuais a serem cobrados", afirma Vera Lúcia Antunes, professora de geografia no cursinho Objetivo há mais de 50 anos.
"Temos visto bastante nas aulas a questão da Nova Rota da Seda –projeto de investimento chinês em infraestrutura– e como a China intermediou a reaproximação de países marcados por conflitos entre si", afirma Gabriel Mota, 17, aluno de terceiro ano da Escola Móbile, em São Paulo.
O estudante refere-se a Irã e Arábia Saudita, que retomaram suas relações diplomáticas após sete anos.
Gabriel quer cursar economia no Insper e vai fazer como treineiro a prova, marcada para 12 de junho.
Em termos de Brasil, o palpite dos professores e estudantes converge para a crise de saúde pública dos yanomamis, revelada em janeiro deste ano.
"A questão indígena volta e meia influencia vestibulares", afirma Thomas Wisiak, coordenador de história do cursinho Etapa. "E o problema do garimpo não é novo. Ele se aprofunda e piora, mas são questões antigas."
Na opinião do professor, os exames talvez não exijam informações específicas da crise sanitária na maior reserva indígena do Brasil, mas sim os diversos interesses em jogo.
A estudante Ana concorda. "É o primeiro vestibular depois que tudo isso veio à tona, então não seria algo repetitivo. Se eu montasse um vestibular, eu colocaria", diz ela, "porque, como brasileiro, é muito importante ter consciência do que está acontecendo."
Para as redações, um bom exemplo de tema que estimula a capacidade analítica e argumentativa dos candidatos é a discussão em torno do poder das big techs e da evolução da inteligência artificial.
O ChatGPT, chatbot desenvolvido pela OpenAI, tornou-se popular a partir de sua habilidade em compreender a linguagem humana e gerar respostas equivalentes.
"É um tema que pode ser abordado por ser muito polêmico. Ainda estamos engatinhando em entender como a inteligência artificial vai impactar na produção de conhecimento", diz Calaresi, professor do Cursinho da Poli.
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