O segundo acontecimento foi a ausência de Silvio Santos no especial que celebrou os 60 anos de seu programa. O dono do SBT se tornou uma presença rara no vídeo, e devemos nos acostumar com a ideia de que, aos 92 anos de idade, ele talvez não volte mais.
Silvio e Faustão são os remanescentes de uma casta que dominou a nossa TV desde o início da década de 1960. Ícones como Chacrinha, Gugu Liberato, Hebe Camargo, J. Silvestre, Flávio Cavalcanti, Dercy Gonçalves e mais alguns outros, não muitos, comandavam programas de auditório, ditavam tendências e estabeleciam uma conexão íntima com o telespectador.
Claro que ainda existem ótimos apresentadores, alguns deles faturando em um mês o que muitos de nós não ganharemos em dez anos. A Globo conseguiu injetar sangue novo em seu plantel com Marcos Mion e Luciano Huck, e os veteranos Serginho Groisman e Ana Maria Braga seguem a todo vapor. No SBT, Eliana e Celso Portiolli continuam firmes. A Record conta com Rodrigo Faro.
Só que nenhum deles chega a 20 pontos de audiência, um número que seria considerado irrisório nos bons velhos tempos. Chama a atenção também o fato de todos terem mais de 20 anos de carreira. É sintomático que nenhum nome mais jovem tenha conseguido se firmar.
Entre as mulheres, a dificuldade parece ser ainda maior. Fernanda Gentil saiu da Globo depois de se aventurar em formatos que fracassaram. Sabrina Sato deixou a Record e voltou para o Grupo Globo, mas não tem uma atração para chamar de sua. Xuxa é figura constante em talk shows, mas o único programa que comandou nos últimos anos foi o reality “Caravana das Drags“, na Amazon Prime Video.
O fenômeno não se restringe ao Brasil. Nossos vizinhos na América Latina, onde já brilharam o chileno Don Francisco ou as argentinas Susana Giménez e Mirtha Legrand, tampouco têm substitutos à altura para suas lendas da TV. Europa e Estados Unidos são diferentes: lá nunca houve um apresentador do tamanho de Silvio Santos, por exemplo, até porque os programas de auditório são mais raros.
O Brasil parece estar se aproximando desse modelo. É importante frisar que os apresentadores não irão desaparecer da televisão. Mas deverão estar cada vez mais atrelados a formatos específicos, e bem poucos estarão à frente de programas com seus próprios nomes.
Ou seja: o espectador sintonizará cada vez menos um determinado canal para assistir a um determinado apresentador. Foi-se o tempo em que essa figura carismática bastava para segurar o Ibope, não importando quem fossem os convidados do programa.
Alguns anos atrás, Silvio Santos me impressionou profundamente com seu domínio sobre a câmera e a plateia. Era uma edição corriqueira do Programa Silvio Santos. O “patrão” anunciou que um dos grandes sucessos daquela semana nas rádios brasileiras era uma música de Anitta. A tal da faixa começou a tocar em playback. As colegas de trabalho dançavam e batiam palmas e o próprio Silvio parecia se divertir muito, num clima de alegria contagiante. Detalhe: Anitta não estava no programa. Não era necessária a presença dela.
Qual outro apresentador das novas gerações conseguiria fazer o mesmo?