Transmitida pelo carrapato-estrela, a febre maculosa tem alto índice de letalidade. Nesta terça-feira, a Secretaria de Saúde de Campinas confirmou que as mortes do piloto Douglas Costa, de 42 anos, e de uma moradora de Hortolândia, de 28 anos, foram decorrentes da febre maculosa, segundo análises do Instituto Adolfo Lutz. Na segunda-feira, 12, o resultado já havia sido positivo para as amostras de outra vítima, a dentista Mariana Giordano, de 36 anos.
Com os três casos positivos, configura-se um surto de febre maculosa no distrito de Joaquim Egídio, que é mapeado como área de risco para a doença. O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas vai fazer uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos no local provável de infecção.
A Secretaria da Saúde do Estado informou que vai apoiar ações das prefeituras de prevenção à doença. Os casos estão concentrados na região de Campinas. De acordo com a pasta, o trabalho de campo para controle da doença compete aos municípios, mas a secretaria apoiará na prevenção com medidas educativas, como a distribuição de folders e cartazes na região.
Em Campinas, a prefeitura iniciou uma campanha educativa no entorno da Fazenda Santa Margarida, um centro de shows e eventos, no distrito de Joaquim Egídio, onde as três possíveis vítimas da febre maculosa estiveram em uma festa no final de maio. Estão sendo distribuídos folders e folhetos explicativos sobre a doença. Uma pesquisa sobre a infestação de carrapatos deve ser iniciada nos próximos dias. Também será feita uma mobilização social envolvendo a população do distrito e trabalhadores da fazenda.
O empresário e piloto Douglas Costa, de 42 anos, sua namorada, a dentista Mariana Giordano, de 36, e uma moradora de Hortolândia morreram no mesmo dia, em 8 de junho.
A dentista, que morreu subitamente em São Paulo, após ser internada no dia 6 de junho, apresentando febre e dores de cabeça, relatou marcas de picada de inseto em seu corpo, após a viagem a Campinas com o namorado. Ele apresentou sintomas parecidos e foi internado em Jundiaí. Os dois estiveram também em Monte Verde (MG) na semana seguinte à ida para Campinas, provável local da infecção.
Também na tarde desta terça-feira, a Secretaria de Saúde identificou mais um caso suspeito de febre maculosa relacionado ao evento de 27 de maio na Fazenda Santa Margarida. É o quarto caso relacionado ao surto. Trata-se de uma adolescente de 16 anos, moradora de Campinas, que foi hospitalizada no dia 9 de junho em um serviço de saúde privado do município. Ela segue internada.
Conforme a pasta, a febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato-estrela contaminado por bactérias do gênero Rickettsia. Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), os registros são raros dada a urbanização da área. No interior, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba, Assis e em regiões periféricas da RMSP. Os municípios de Campinas e Piracicaba são atualmente os dois que apresentam o maior número de casos da doença.
Provável surto
De acordo com o infectologista Rodrigo Angerami, confirmado os casos de infecção no mesmo local, já se considera que Campinas vive um surto de febre maculosa. Considerando o tipo de vetor e o fato de não haver transmissão de pessoa para pessoa, ele não vê risco de disseminação em caráter epidêmico. "Novas áreas de transmissão bem geral surgem a partir de fatores que envolvem o deslocamento de hospedeiros com carrapatos infectados para essas áreas", disse. Além das capivaras, os carrapatos podem "viajar" em bois, cavalos e outros animais domésticos, como cães e gatos.
Conforme a Secretaria estadual, as pessoas que moram ou se deslocam para áreas de transmissão precisam estar atentas ao menor sinal de febre e procurar um serviço médico informando que estiveram nessas regiões para fazer um tratamento precoce e evitar o agravamento da doença. As áreas onde sabidamente existem carrapatos devem ser evitadas. A maior ocorrência de casos de febre maculosa se dá entre os meses de junho e setembro.
Distrito de Campinas é disputado por turistas
O distrito de Joaquim Egídio, mapeado como área de risco para a febre maculosa, fica a 15 km do centro de Campinas e se tornou ponto disputado pelos turistas devido às belezas naturais e à gastronomia. Em fins de semana, visitantes da capital, de outras cidades do interior e do próprio município fazem fila em bares e restaurantes locais. O Festival Gastronômico da Primavera chega a congestionar as ruas do lugar, que tem cerca de 2,5 mil moradores.
Margeado por antigas fazendas de café e áreas de mata, o distrito possui belezas naturais e atrativos turísticos, como o Observatório Municipal de Campinas, na Serra das Cabras. Nos últimos anos, houve investimento no ecoturismo, com a abertura de trilhas e pistas para bike, motos e jipes, tornando o local muito frequentado nos fins de semana.
Os turistas são atraídos também pelo roteiro gastronômico, que inclui bares e restaurantes de renome, e pelos centros de eventos, como a Fazenda Santa Margarida.
Sobre os casos de febre maculosa com possível infecção no local, a gestão da fazenda divulgou nota nesta terça-feira, 13, lamentando o ocorrido. "Cabe ressaltar que a responsabilidade pelo controle e prevenção da febre maculosa é atribuída ao município, conforme estabelecido pela legislação pertinente", disse. Ainda segundo a empresa, a cidade está em área endêmica para febre maculosa e nos locais onde comprovadamente ocorreu transmissão, o município instala placas de alerta.
Segundo a nota, na segunda-feira, 12, o Departamento em Vigilância em Saúde da prefeitura esteve nas dependências do centro de eventos para realizar a validação das medidas adotadas e para análise do local. "Ressaltamos que toda a documentação da Fazenda está em conformidade e regularidade com os órgãos competentes e as exigências legais, incluindo a prefeitura de Campinas. É importante destacar que, nos últimos anos, nunca houve qualquer caso semelhante a este."
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