Na carreira musical, Heitor dos Prazeres foi fundamental na criação de blocos, ranchos e das primeiras escolas de samba do Rio: Mangueira, Portela e Deixa Falar, que mudaria de nome para Estácio de Sá. Ele compôs mais de duzentas canções, em ritmos que incluíram também a marcha, o choro, a valsa e o baião. Ele frequentou a famosa casa de Tia Ciata, que reuniu nomes importantes do samba como Noel Rosa, Cartola, Paulo da Portela e Pixinguinha.
Em um dos espaços da mostra, uma reprodução do jornal Diário da Noite traz a letra escrita pelo artista de um "Hino do Carnaval", o samba "Alegria do Nosso Brasil". Logo ao lado, também está exposto o método prático de cavaquinho de cinco cordas, escrito por ele de forma manual em uma folha simples, amarelada pela ação do tempo.
Na área das artes plásticas, as primeiras pinturas vieram depois que Heitor já era conhecido no meio do samba. Com um traço colorido e vivo, com temas do cotidiano urbano e rural, as obras ganharam importância nacional e internacional. Ele venceu um prêmio na I Bienal de Arte de São Paulo, de 1951, na categoria pintura nacional. E participou da II Bienal de São Paulo, de 1953, com a exposição de algumas obras. Participou ainda de mostras no Museu de Arte Moderna do Rio (MAM), em 1961, e do I Festival de Artes Negras em Dakar, no Senegal, em 1966.
Na mostra em cartaz no CCBB, as pinturas destacam o contexto pós-abolição da escravidão (1898) e as manifestações das experiências coletivas negras. Nascido no Rio de Janeiro, Heitor cresceu na região conhecida hoje como Pequena África. Nome que os organizadores da mostra explicam derivar de um título criado pelo artista: a África em miniatura, que compreende os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, na zona portuária.
Esse ambiente seria frequente em suas pinturas, como é o caso das obras que retratam o Morro da Providência. Em uma delas, de 1965, enquanto o fluxo de veículos e de pessoas acontece em um primeiro plano, ao fundo uma série de casinhas coloridas se amontoam e parecem formar um grande mosaico em meio aos morros da capital carioca. Em outra tela do mesmo ano, o céu nublado e as construções em tons predominantemente cinzas da Praça XV contrastam com as cores vivas das roupas dos homens e mulheres que circulam pelo local. Nas duas obras, todas as pessoas são negras.
"Ele foi um artista que colocou a população brasileira no centro de tudo e tornou as pessoas negras sujeitas da própria história. E o Heitor foi protagonista da própria vida. Apesar de todas as adversidades estruturais, que tendem a diminuir a capacidade do povo negro de estar no mundo, ele foi capaz de produzir uma obra e deixar registros primorosos com inúmeras possibilidades visuais, como podemos perceber pelas pinturas aqui da exposição", explica Raquel Barreto.
Exposição "Heitor dos Prazeres é meu nome"
De 28 de junho a 18 de setembro de 2023
Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Primeiro de Março 66 – 1º andar - Centro, Rio de Janeiro
Funcionamento: Segundas, quartas, quintas, sextas e sábados, das 9h às 21h; e Domingos, das 9h* às 20h.
*Aberto ao público com deficiência mental / intelectual das 8h às 9h, em atendimento à Lei Municipal nº 6.278/2017.
Entrada Gratuita