Os projetos de pesquisa apoiados são "ousados e arriscados", segundo confirmou nesta segunda-feira (3) à Agência Brasil a diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira, Cristina Caldas. Isso significa que os projetos podem não dar certo. "Isso é muito importante de ressaltar, porque o nosso modelo de financiamento permite o fracasso. Falar explicitamente que a gente está ok em financiar projetos que sejam superarriscados e tudo bem se eles não derem certo, para nós é uma parte importante do nosso financiamento. Porque a gente quer estimular os jovens brasileiros a tomar o risco".
Nesse modelo de financiamento, ao acolher projetos de alto risco, o Instituto Serrapilheira entende que grandes avanços na ciência foram feitos quando as pessoas se arriscaram. "Esses avanços incrementais são muito importantes, porque tudo tem que conviver junto: o apoio à ciência mais incremental, junto com apoio a projetos de risco", completou Cristina. Cientistas internacionais de referência olham para os jovens pesquisadores e para a ciência brasileira e ajudam a identificar os cientistas que propõem perguntas originais e ousadas.A diretora destacou também a parceria com as FAPs, que permitiu não só elevar o total de investimentos para apoio aos projetos selecionados, mas também aumentar o número de pesquisadores contemplados da média de 10 a 12, nos editais anteriores, para os 32 atuais. O montante disponibilizado pelo Serrapilheira nessa 6ª chamada é de R$ 9,1 milhões, dos quais R$ 3,2 milhões são destinados ao chamado bônus da diversidade, a ser investido na formação e integração de pessoas de grupos sub-representados nas equipes de pesquisa, ou historicamente excluídos da atividade científica, como negros, indígenas e mulheres, dependendo da área da pesquisa. Já o total oferecido pelas FAPs alcança cerca de R$ 13 milhões. A distribuição dos valores está sendo avaliada caso a caso com cada FAP estadual.
Um dos critérios estabelecidos na chamada é que os candidatos deveriam ter vínculo permanente com alguma instituição de pesquisa no Brasil e concluído o doutorado entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2020. O prazo é estendido em até dois anos para mulheres com filhos. "Ele já tem que ser professor ou pesquisador. Ou seja, tem que ter aquele vínculo institucional que vai garantir um lugar ou espaço em que ele vai estruturar o grupo de pesquisa. A gente entende que quando um cientista conquista uma posição formal dentro da academia, como professor ou pesquisador de instituto de pesquisa, esse vínculo não se encerra ali. É preciso ter mecanismos de apoio para esse momento da carreira, onde aquele cientista está se consolidando como um pesquisador independente. Ou seja, estruturando sua linha de pesquisa independente, montando seu grupo de pesquisa, contratando alunos, tendo acesso à infraestrutura".
Segundo explicou a diretora do Serrapilheira, ser contratado em uma universidade brasileira não garante que a pessoa vai ter todas as condições necessárias para desenvolver a pesquisa que precisa. "No caso dessa chamada, a gente olha para esse momento da trajetória acadêmica onde ele já conquistou uma posição. Mas a gente sabe que, em várias instituições no Brasil, a conquista da posição não basta para que ele tenha tudo que precisa para fazer o seu projeto de pesquisa. Essa chamada olha para esse momento da trajetória acadêmica do cientista".
Cristina Caldas estimou que até o final de agosto próximo, os cientistas selecionados poderão começar a acessar os recursos. Eles vão receber, no período de cinco anos, entre R$ 300 mil e R$ 800 mil, já incluído um bônus de R$ 100 mil, para investir em diversidade. O bônus pode ser utilizado para pagar bolsa, curso de inglês, auxílio-moradia. "Tudo que puder favorecer com que as pessoas tenham condições ideais para desenvolver a ciência". Podem também usar os recursos para equipar o laboratório, frequentar congressos internacionais, por exemplo. O instituto estimula ainda que os cientistas fortaleçam suas colaborações internacionais, porque essa experiência acaba abrindo portas, perspectivas e possibilidades para ampliar o projeto e desenvolvê-lo mais rápido.
O Serrapilheira fará o acompanhamento do desenvolvimento dos trabalhos, visando entender as demandas, os desafios, identificar quais são os entraves, o que pode fazer para melhorar. "A gente trabalha com a relação de confiança e proximidade com aquelas pessoas e as coloca em rede. Cria uma comunidade Serrapilheira. E isso tem sido muito rico, porque cientistas de diversas áreas conversam, trocam experiências e acabam pensando em novos projetos a partir dessa integração interdisciplinar que a gente faz com eles". O instituto estimula ainda que os cientistas fortaleçam suas colaborações internacionais.