"O carrapato gosta de lugar de sombra, folha seca e vegetação. Os locais que margeiam rios e lagos são mais propícios, mas não exclusivos", alerta a médica Vera Rufeisen, infectologista do Vera Cruz Hospital, em Campinas (a 93 km de São Paulo).
O estado de São Paulo é endêmico para a doença. Dados da Secretaria da Saúde de janeiro a março de 2023 mostram que Americana, Assis, Campinas, Piracicaba, Santa Bárbara D'Oeste, Sorocaba e Valinhos, além da região de Caraguatatuba, no litoral norte paulista, somam grande parte dos casos.
As regiões de Campinas e Piracicaba foram as que contabilizam mais casos no período -480 e 193, respectivamente. Sozinho, o município de Campinas teve 114 confirmações da doença.
A doença é transmitida por carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, presente principalmente no carrapato-estrela, e não passa de pessoa para pessoa.
"Só 1% dos carrapatos possui a bactéria Rickettsia rickettsii. O carrapato infectado passa a bactéria aos filhotes. Não vamos nos afastar da natureza, mas é necessário ter em mente que se você apresentar um quadro com mal-estar, febre alta, dor de cabeça e no corpo deve contar imediatamente ao médico o lugar que visitou", diz Rufeisen.
Para que haja a transmissão, o carrapato precisa ficar fixado à pele por pelo menos quatro horas. Se houver contato com vegetação, Vera Rufeisen orienta a fazer a própria inspeção no corpo a cada duas horas, à procura de picadas.
"Dependendo da sensibilidade a pessoa pode sentir coceira de uma a duas horas depois que o carrapato grudou no corpo", explica.
"O carrapato na forma de larva, conhecido como micuim, é muito pequeno. O adulto é mais comum no final do ano. O micuim parece uma pintinha na pele. Então, precisa inspecionar o corpo com bastante cuidado. O uso de bucha vegetal no banho é excelente, porque retira os [carrapatos] pequenos, que eventualmente não identificamos", orienta a médica.
Outro cuidado é com a cor das roupas. O ideal é dar preferência às cores claras, porque facilita enxergar o carrapato. O uso de repelente na pele e sobre a roupa é recomendável, em especial nas crianças.
Também é importante optar por roupas que cubram a maior parte do corpo, principalmente pernas e pés. Uma sugestão é usar meia por cima da boca da calça, e a calça dentro da bota.
"Os repelentes a base de icaridina têm eficácia razoável. É uma medida complementar. As pessoas não podem acreditar que se passarem o repelente nada acontecerá", afirma Rufeisen.
Para a infectologista e epidemiologista Luana Araújo, especialista em doenças infecciosas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e mestre em saúde pública pela universidade Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, o ideal é evitar locais com maior risco de pegar a doença e que têm o vetor de forma descontrolada.
"Se não for possível, vale o cuidado diferenciado comportamental e o de preparo do sistema de saúde. O poder público precisa informar as pessoas de que aquela área é de risco", reforça.
"Nos locais endêmicos, essa informação é extremamente deficitária. Além dos locais de risco, é importante ensinar as pessoas o que é febre maculosa, qual o risco que elas correm e como se protegem. Principalmente nas áreas endêmicas, precisa ter uma intensificação dessa informação de maneira direta, clara, acessível e ostensiva, e não só para a população em geral. Os próprios profissionais de saúde precisam ser mais bem treinados", avalia a epidemiologista.
Segundo a médica, áreas endêmicas aparecem devido ao desequilíbrio da fauna e a flora.
"Você favorece a proliferação de animais hospedeiros, como o carrapato; você favorece que o carrapato se prolifere ali, o que ele não conseguiria fazer se aquele ambiente fosse ecologicamente harmônico. Temos mais acesso a esses ambientes e nos colocamos em risco para muitas doenças. A febre maculosa é só uma delas. Comece a pensar na saúde humana como parte de algo que chamamos de saúde única, que é a saúde do homem, dos animais e do meio ambiente ao mesmo tempo", finaliza a epidemiologista.
NUNCA ESPREMA O CARRAPATO
O carrapato deve ser retirado com o auxílio de uma pinça, com muito cuidado. Coloque-o num vidro com álcool e comunique à prefeitura de sua cidade. Se você arrancar, o aparelho sugador pode ficar preso na pessoa e é nele que tem a bactéria. Há o perigo de contaminação.
Leia Também: São Paulo tem quase 590 mil imóveis vazios, 18 vezes a população de rua da cidade