*Fernando Mendes Lamas
O agricultor precisa tomar muitas decisões no conjunto de suas atividades. Uma das primeiras decisões é quanto de área será cultivada com cada espécie, em cada período agrícola. A decisão tem como eixo principal as expectativas de preço do produto a ser produzido e a infraestrutura disponível ou necessária para a lavoura. Assim, para a tomada de decisão os aspectos econômicos e operacionais são fundamentais. Uma vez decidido que espécies cultivar e qual a área a ser ocupada com cada espécie, outras decisões são necessárias.
Atualmente, são produzidos e disponibilizados muitos conteúdos com informações que podem subsidiar as decisões na agricultura, portanto, o produtor tem que escolher a qualidade de suas leituras.
Ter alternativas sempre é algo razoável por permitir escolhas assertivas, levando-se em consideração diversos aspectos. Para ilustrar, vamos focar na questão de cultivares e híbridos de soja e milho. Se analisarmos as indicações de cultivares de soja, veremos que a lista é muito grande.
Para melhor aproveitar o potencial produtivo de cada cultivar, foram estabelecidas regiões preferenciais para cada cultivar de soja, são as chamadas regiões sojícolas (REC), que são em número de cinco. Assim, o produtor localizado em uma determinada REC, irá escolher a(s) cultivar(es), indicadas pelo(s) obtentor(es) da(s) mesma(s). Com isso, espera-se que o potencial produtivo das cultivares seja melhor explorado.
A escolha da cultivar deverá estar fundamentada também em outras características, tais como: resistência ou tolerância a doenças e nematoides, e duração do ciclo, e também em características do ambiente, como a fertilidade do solo. É oportuno destacar que é fundamental que o produtor busque a maior quantidade de informações possível para subsidiar a tomada de decisão em relação à escolha da cultivar de soja, no caso ora exemplificado.
Nos casos do milho e do algodão, a situação é bem parecida com a da soja. O número de opções para cada tomada de decisão, na maioria dos casos, é grande. O que é bom, mas exige conhecimento para a melhor escolha dentre as várias alternativas existentes.
Até aqui, abordamos as alternativas voltadas para os insumos, igualmente existem várias alternativas para a comercialização, por exemplo: Vender antecipado ou não? Se sim, quanto? Esta é uma decisão para a qual produtor precisa estar muito bem assessorado, devido à volatilidade do mercado, especialmente quando se trata de commodities, como soja, milho, algodão, e a maioria dos produtos agrícolas.
Além de ser necessário um contínuo aprimoramento, a modernização em curso de máquinas e implementos, cada vez com mais tecnologia embarcada exige, para que sejam produtivos, operadores capacitados e muito bem treinados. Isso exige que o agricultor tenha uma política de recursos humanos bastante arrojada, especialmente no que se refere à capacitação de seus colaboradores.
O custo de qualificar operadores geralmente tende a ser menor que o de adquirir equipamentos caros e deixar parcialmente ocioso o seu potencial produtivo, além do risco de danificá-los pela falta de qualificação da equipe. A decisão de substituir uma máquina deve também levar em consideração a qualidade da mão de obra disponível, que é fundamental para uma tomada de decisão nas mais diversas situações dentro de uma empresa rural.
Quando se consideram todos os fatores e variáveis envolvidos nos processos de tomada de decisão, constata-se que a complexidade do processo de produção animal e vegetal, cada vez é maior. Para minimizar erros e/ou aperfeiçoar processos, é imperioso que o agricultor busque sempre o apoio de um técnico especializado.
Cada vez mais, o agricultor deve estar envolvido com questões estratégicas e o mínimo possível com o operacional. Poderão existir situações em que decidir o que plantar é estratégico, mas onde e como, não. O limite entre o que é estratégico, tático ou operacional, muitas vezes não é bem definido, isto devido fundamentalmente à complexidade do processo.
Outro aspecto relevante que está intimamente ligado à questão de tomada de decisão é o custo de produção. De uma maneira geral, os custos de produção têm aumentado significativamente, o que impacta diretamente na rentabilidade. Daí ser necessária a tomada de decisões visando a melhoria da eficiência dos processos. Nem sempre a maior produtividade é aquela que proporciona maior rentabilidade econômica. É preciso avaliar, por exemplo, quantos quilos de nitrogênio são gastos para produzir uma tonelada de milho. É possível manter, ou até melhorar, a produtividade de milho aportando nitrogênio ao sistema de outra forma, como por exemplo, cultivando uma planta leguminosa.
A complexidade do processo decisório é aumentada à medida em que se aumenta o número de atividades dentro da unidade de produção. Diversificar o cultivo de diferentes espécies vegetais, integrar a produção vegetal com a animal, é algo fundamental quando se pensa em minimizar riscos. No entanto, a complexidade do processo decisório é aumentada, fundamentalmente em função da grande disponibilidade de alternativas para cada situação.
Com o profissionalismo da agricultura e considerando que a atividade é como uma indústria “a céu aberto”, para minimizar a possibilidade de erros, o produtor terá que buscar, continuamente, alternativas, visando também otimizar o lucro.
A busca da melhoria da eficiência é uma decisão fundamental quando se pensa em sustentabilidade, de acordo com o moderno conceito ESG (Environmental, Social and Governance), que considera os aspectos ambientais, sociais e de governança.
Enfim, a atividade agropecuária passa por significativas transformações, exigindo cada vez mais a tomada de decisões, que deve ser feita com o máximo de embasamento técnico. Capacitar-se, bem como capacitar todos os colaboradores continuamente é mais que uma necessidade, é questão de sobrevivência. Não há espaço para erros estratégicos, táticos e operacionais. Assim, para a tomada de decisão, faz-se necessário um contínuo processo de aprendizado para que se possa utilizar de forma mais adequada as tecnologias atualmente disponíveis e que não são poucas.
*pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste