O maior trunfo do ChatGPT é que ele pode oferecer informações diretas sobre a dúvidas de usuários sobre investimentos. Um iniciante no mercado financeiro pode perguntar diretamente ao chatbot o que são títulos públicos, fundos de investimento, CDB, CDI e qualquer outro tipo de aplicação que esteja analisando no momento.
Mais que isso, a plataforma pode mostrar ao usuário passo a passo como investir em determinado ativo. Ao lhe ser perguntado sobre como investir em renda fixa, por exemplo, o ChatGPT lista as opções de investimentos na modalidade, orienta o usuário a definir objetivos e seu perfil de investidor e o instrui a pesquisar e comparar os aspectos de cada ativo.
Sobre renda variável, além das orientações anteriores, o chatbot também aconselha que o usuário pesquise sobre as empresas em que está interessado em investir, considerando fatores como saúde financeira, histórico de desempenho, perspectivas de crescimento, concorrência e governança corporativa da companhia.
Ele diz, ainda, que o investidor deve diversificar os investimentos em diferentes empresas, setores e regiões geográficas para reduzir exposições ao risco e aconselha que o usuário acompanhe notícias sobre o mercado. O ChatGPT também alerta sobre os riscos da renda variável, citando as flutuações significativas nos preços das ações no mercado.
Em nenhum dos dois casos o ChatGPT dá recomendações específicas de onde alocar recursos. Com um comando mais específico, porém, a ferramenta é capaz de montar carteiras de investimentos.
A Folha pediu ao ChatGPT que investisse R$ 10 mil em dez ativos brasileiros. A própria plataforma, ao responder, afirmou que prever o desempenho de ativos financeiros é desafiador e que os retornos podem variar significativamente.
Além disso, afirmou que era recomendável diversificar adequadamente os investimentos para reduzir riscos e indicou que uma pesquisa própria antes de tomar decisões de investimentos era essencial.
Após os avisos, o ChatGPT separou os R$ 10 mil da seguinte forma:
Petrobras (PETR4): R$ 2.000
Vale (VALE3): R$ 1.500
Ambev (ABEV3): R$ 1.000
Itaú Unibanco (ITUB4): R$ 1.000
B3 (B3SA3): R$ 1.000
Magazine Luiza (MGLU3): R$ 1.500
Bradesco (BBDC4): R$ 1.000
Lojas Renner (LREN3): R$ 1.000
Suzano (SUZB3): R$ 1.000
Weg (WEGE3): R$ 1.000
Segundo a plataforma, a carteira é apenas uma sugestão aproximada e não leva em consideração fatores específicos, como análise fundamentalista ou avaliação de riscos. O ChatGPT aconselha o usuário a buscar orientações de um profissional do mercado financeiro antes de tomar decisões sobre investimentos.
Ao final do período mencionado, a carteira montada pela plataforma teve valorização média de 21,23%.
Apesar de parecer uma recomendação certeira, o desempenho positivo da carteira recomendada foi um golpe de sorte.
Isso porque a versão gratuita do chatbot tem informações atualizadas apenas até setembro de 2021 e não tem capacidade de analisar os papéis neste ano. Além disso, a recomendação foi altamente favorecida pelo desempenho excepcional das ações da Petrobras, que acumulam valorização de mais de 18% no ano, atingindo seus maiores patamar de 2023 em junho.
No período do teste, os papéis da petroleira subiram 15,98% e tiveram o maior peso entre as selecionadas na distribuição dos recursos feita pelo ChatGPT.
Esse não é o primeiro teste em que o ChatGPT consegue montar um portfólio de ações positivo. Neste ano, o comparador de produtos financeiros finder.com mostrou que uma seleção de ações escolhidas pelo chatbot teve melhor desempenho que alguns dos principais fundos de investimento do Reino Unido.
Analistas do finder pediram ao ChatGPT que criasse um fundo teórico com mais de 30 ações seguindo parâmetros retirados dos principais fundos do Reino Unido.
No intervalo de oito semanas, a carteira com 38 ações montada pelo chatbot subiu 4,9%, enquanto os dez fundos de investimentos mais populares da plataforma britânica Interactive Investor tiveram perda média de 0,8%.
Além disso, uma pesquisa do finder.com mostrou que cerca de 19% dos adultos entrevistados pela plataforma afirmaram que considerariam receber conselhos financeiros do ChatGPT, e 8% já usaram o chatbot para obter dicas de finanças.
Esse tipo de experimento pode ser usado, por exemplo, para obter mais informações sobre companhias que se destacam na Bolsa. O usuário pode perguntar ao ChatGPT por que cada uma dessas empresas foi escolhida para compor a carteira, dando uma base para pesquisas do mercado de renda variável brasileiro.
A ferramenta não deve ser utilizada, no entanto, para alocação direta de recursos nos papéis mencionados por ela. Apenas profissionais credenciados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) podem oferecer recomendações de aplicações financeiras e operações no mercado de valores mobiliários, e consultar um especialista é fundamental antes de alocar recursos.
A recomendação de profissionais, aliás, é que o ChatGPT seja utilizado como aliado da educação financeira, em especial nos primeiros passos no mundo dos investimentos.
O sócio da Fatorial Investimentos Jansen Costa diz que a ferramenta pode, por exemplo, auxiliar o usuário a entender melhor qual o seu perfil de investidor e saber em quais aplicações ele se sentiria mais confortável ao investir.
"O ChatGPT pode ler um histórico de investimentos que o cliente já fez na vida e tirar conclusões baseadas na maneira como ele investiu ao longo do tempo, comparando cenários e provendo conteúdo específico para quem precisa entender sobre determinado assunto", explica Costa.
Ele aponta que esse processo seria vinculado à experiência pessoal do usuário, tornando-se uma maneira de tratar cada investidor de maneira individualizada de forma gratuita e rápida.
O presidente-executivo da FMB Investimentos, Fernando Bento, aconselha que o ChatGPT seja utilizado para obter informações sobre aplicações de seu interesse, como uma forma de busca mais direta.
"O ChatGPT vai discorrer sobre os tipos de investimentos, quais têm mais risco, quais têm menos risco, mas sempre adverte que não pode fazer nenhum tipo de indicação individualizada, e que o investidor deve procurar um profissional para se informar. Ele pode ser bom para explicar um título público, uma ação, mas não para o novato investir diretamente no mercado financeiro", diz Bento.
Nos Estados Unidos, há um chatbot específico para finanças, o chamado Finchat, que oferece informações sobre empresas de capital aberto do mercado americano. É possível pedir à plataforma um resumo do balanço de uma empresa e solicitar análises de um aspecto específico de seus resultados trimestrais.
Após a solicitação de um resumo do mais recente balanço trimestral da Microsoft com foco no segmento de nuvem da companhia, por exemplo, o Finchat não apenas resume os principais pontos como também projeta gráficos com os números da companhia ao longo dos últimos anos, que podem ser alterados de acordo com a preferência de visualização do usuário.
A plataforma recomenda que os comandos dos usuários sejam específicos e lista quais são os mais utilizados. Para ter um nível do detalhe utilizado pelo chatbot, um dos prompts recomendados dizia: "Forneça uma lista de dez ações dos EUA que têm crescimento anual de receita maior que 10% nos últimos cinco anos, fazem recompra de ações e têm menos de US$ 100 bilhões em valor de mercado".
Apesar de estar aberto para testes gratuitos, a maioria das funcionalidades do Finchat exige o pagamento de assinatura.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL JÁ É UTILIZADA POR FINTECHS
A inteligência artificial também é usada por empresas do mercado financeiro para oferecer produtos mais adequados a seus clientes.
A plataforma de investimentos Gorila, por exemplo, usa a IA generativa para separar, filtrar e resumir notícias e cartas de gestoras, além de classificar por relevância os conteúdos, entregando a seus usuários textos personalizados conforme seus interesses.
"Com essa classificação por inteligência artificial, o usuário consegue enxergar direto o que é relevante de forma assertiva. À medida que começamos a utilizar essas ferramentas de desenvolvimento de linguagem [como a IA generativa] e enxergar os resultados, ficamos impressionados com o potencial, e ainda estamos no começo das possibilidades", diz Assis.
Já a Quantum Finance usa a inteligência artificial para cruzamento e análise de dados para oferecer informações a profissionais do mercado financeiro. Segundo o presidente-executivo da fintech, Maxim Wengert, a tecnologia contribui para a assertividade dos cálculos e gera ganho de eficiência ao automatizar tarefas e rotinas operacionais da companhia.
Mesmo com a automatização, Wengert destaca que os processos de análise também passam por curadoria de especialistas em ativos e segmentos do mercado financeiro da fintech.
"Acredito que inteligência artificial terá um forte impacto na área de investimentos e no mercado financeiro daqui para a frente, promovendo mudanças significativas e abrindo novas possibilidades. Certamente, a IA ajudará a impulsionar os nossos negócios nos próximos anos", diz o executivo.
Em março deste ano, a Quantum inaugurou seu Laboratório de Finanças e Inteligência Artificial, em parceria com o Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio, com o objetivo de desenvolver novas tecnologias e aplicações de inteligência artificial e machine learning para fintechs.
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