Indústrias canavieira e frigorífica se juntam aos grandes silos graneleiros onde ocorre a primeira etapa da industrialização de grãos em Mato Grosso Sul
Assim como o consorciamento da agricultura, pecuária e silvicultura trouxe significativo incremento à produtividade agrícola estadual, o consórcio entre o agronegócio e a agroindústria tem resultado no fomento concreto da economia e do mercado do trabalho em vários municípios de Mato Grosso do Sul.
Essa prática é desenvolvida com a adoção de políticas preservacionistas que garantem a implantação de núcleos agroindustriais observando cada vez mais as rígidas normas de respeito ao ecossistema planetário que são estabelecidas por organismos internacionais.
Como exemplo da preocupação mundial sobre a necessidade de preservação do ecossistema às futuras gerações, em 28 julho de 2022, durante a 76ª Assembleia das Nações Unidas, foi aprovada a Resolução 300 que declara o meio ambiente limpo, saudável e sustentável como um direito do ser humano.
O texto da resolução diz que o impacto das alterações climáticas e outros problemas, como a utilização insustentável dos recursos naturais, a poluição do ar, da terra e da água interferem no gozo de um meio ambiente seguro, limpo, saudável e sustentável, e que os danos ambientais têm implicações negativas, tanto diretas quanto indiretas, para o gozo efetivo de todos os direitos humanos.
EXEMPLOS LOCAIS – Exemplos de sucesso no casamento do agronegócio com a agroindústria verde são encontrados em realidades de municípios localizados tanto no entorno de Campo Grande quanto alguns mais distantes da Capital.
Maior produtor de grãos de Mato Grosso do Sul, Maracaju, a 160 km de Campo Grande, iniciou seu processo de industrialização pela implantação de usinas canavieiras.
No início das atividades era uma completa falta de respeito com o ser humano e com o meio ambiente.
O corte da cana-de-açúcar era feito de forma manual, não sem antes passar pelo devastador processo de queimada.
A queima dos canaviais espalhava fuligem e fumaça por dezenas de quilômetros de distância e, apesar da então Usina MR, a pioneira naquele município, se localizar a cerca de 50 km da cidade, a "colheita" da cana na Região do Polaco agredia violentamente o meio ambiente e causava danos irreparáveis à saúde dos moradores de Maracaju.
Hoje, a realidade é completamente diferente.
A usina instalada no distrito de Vista Alegre, por exemplo, inaugurada na primeira década do terceiro milênio, já chegou adaptada ao novo conceito de produção que representou avanços importantes no processo de industrialização que chegaram atrelados a uma política direcionada à preservação ambiental.
Atualmente, não é mais permitida a queimada das lavouras canavieiras e a colheita é totalmente mecanizada.
Mão de obra humana, apenas os conhecidos "bituqueiros", trabalhadores braçais, sazonais e diaristas, que saem à caça dos gomos de cana que a colheitadeira não conseguiu recolher no trajeto e que acabaram ficando pelo caminho adiando, ainda que temporariamente, o desaparecimento da mão de obra humana na indústria canavieira.
INDUSTRIALIZAÇÃO INDIRETA – Em alguns municípios como Sidrolândia, Maracaju e Chapadão do Sul, não existem parques industriais portentosos.
A industrialização ainda é uma atividade nascedoura nessas localidades.
Mas, são em municípios dessa envergadura que são dados os primeiros passos no processo de transformação de grãos em óleo comestível, biodiesel, ração bovina, suína e avícola e outros subprodutos industriais da soja, do milho e de outras culturas agrícolas como o girassol e o algodão.
São nas grandes unidades armazenadoras a granel, instaladas nos centros produtores agrícolas, que acontece o que se pode classificar como a pré-industrialização de centenas de milhares de toneladas de grãos: a secagem e armazenagem da safra recebida por cooperativas e empresas armazenadoras privadas.
Sob este contexto, já é possível inserir também o município de Bandeirantes, a 60 km de Campo Grande, que vê o alargamento de suas fronteiras agrícolas cada vez mais concreto.
Atualmente, já são mais de 40 mil hectares ocupados com culturas de milho e soja, o que levou duas potências do cooperativismo brasileiro – a Coamo e a Lar – a instalarem armazéns graneleiros na cidade, tudo devidamente acompanhado pelas autoridades fiscalizadoras quanto ao cumprimento das boas práticas socioambientais.
Essa pré-industrialização se dá respeitando os mais elementares princípios recomendados por órgãos estatais e privados que atuam na defesa do ecossistema brasileiro como as equipes técnicas da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).
Também apoiam iniciativas que valorizam a produção agroindustrial verde organizações governamentais e não-governamentais que atuam na área de pesquisas agrícolas destacando-se as fundações MS, de Maracaju, e Chapadão, de Chapadão do Sul, no âmbito estadual, e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária) no plano federal.
ROCHEDO – No município de Rochedo, a 68 km de Campo Grande, a chegada de um empresário de visão futurística consertou um empreendimento que parecia fadado ao fracasso.
Sérgio Capucci assumiu o comando do frigorífico Naturafrig tão desacreditado que, na retomada das atividades de abate bovino, foi difícil achar produtor que arriscasse fornecer gado para atender demanda na planta frigorífica rochedense.
Foi com paciência e adoção de modernas políticas de adequação industrial às normas de sustentabilidade que, pouco a pouco, o Naturafrig reconquistou a confiança dos fazendeiros e o respeito do mercado interno e externo por se enquadrar plenamente no perfil de uma indústria que honra o compromisso com os fornecedores, sem cometer agressões ao meio ambiente
Para chegar à condição de empresa maior empregadora do município de Rochedo, contando em seu quadro de colaborados com mais de duas vezes o número de servidores públicos municipais, e se habilitar como uma das mais sólidas empresas exportadoras de proteína bovina à Europa e ao Mercado Asiático, Capucci afirma que contou com bons parceiros pelo caminho.
Ele cita a Fiems, o Governo do Estado e as autoridades municipais rochedenses como parceiros importantes da Naturafrig.
No caso da Fiems, ele lembra que a instituição sempre se manteve acessível à empresa e relata que foi a representante do setor industrial quem promoveu, em parceria com o frigorífico, uma campanha de testagem em massa de todos os seu trabalhadores à época crítica da pandemia da Covid-19.
"Tivemos uma testagem em massa de Covid-19 que foi realizada através da Fiems, inclusive com a doação para a empresa de todo o material dos testes. Enfim, temos portas abertas tanto no governo estadual quanto na Fiems" diz.
Ele ainda enfatiza que a Fiems, por meio do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) contribui com a política empresarial de oferecer bons produtos aos seus clientes, tanto no mercado interno quanto no mercado externo. Isso ocorre, segundo Capucci, através da oferta de cursos de preparação de mão de obra qualificada para trabalhar no mercado industrial de todo o Estado.
No caso de Rochedo, mão de obra qualificada sempre foi um dos grandes desafios da empresa, só superado com o apoio de organismos que preparam mão de obra qualificada para atendimento de mercados locais.
RIO NEGRO – Quando se fala em sustentabilidade é necessário valorizar a adoção de um sistema produtivo cada vez mais diversificado, metodologia de produção que faz parte do processo de fortalecimento da economia estadual, mantendo um ambiente positivo e atrativo para receber investimentos nas mais diversas áreas.
Nessa direção, um novo empreendimento industrial foi inaugurado em junho desse ano na pequena cidade de Rio Negro, a 150 km de Campo Grande, com atuação na suinocultura que já é bastante forte na região Norte do Estado.
Lá já se encontra em funcionamento a Granja 3M, unidade especializada na produção de leitões desmamados e que deve envolver um investimento de R$ 22 milhões, com a geração direta de 50 empregos e outros 100 indiretos – números que podem dobrar com um segundo módulo a ser instalado nos próximos meses.
A atividade da unidade de Rio Negro da 3M terá 4 mil matrizes em plena capacidade, sendo elas viabilizadas a partir de financiamento do FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste), que somou mais de R$ 19 milhões investidos neste novo empreendimento – o segundo da família de empresários catarinenses Cristofoloni em Mato Grosso do Sul.
CADEIA INTEGRADA – De acordo com a Semadesc, o que chama a atenção em Rio Negro é a integração da cadeia de produção à qual a Granja 3M fará parte, uma vez que envolve outros municípios.
A condução da unidade será feita de forma integrada com a Cooasgo (Cooperativa Agropecuária São Gabriel do Oeste).
Os leitões ali produzidos serão levados para unidades crecheiras vinculadas à cadeia, e depois às unidades de engorda.
O final do ciclo da produção dos suínos será o Frigorífico Aurora, localizado em São Gabriel do Oeste, cidade vizinha de Rio Negro.
Todo esse processo tem como diferencial o uso de alta tecnologia, o que também garante a sustentabilidade do projeto e segue a diretriz de um Mato Grosso do Sul Verde, ou seja, alinhado com as melhores práticas de preservação.
Além dos barracões de gestação e maternidade que acomodam as matrizes e os leitões, o projeto contempla fossa séptica, lagoas de estabilização dos dejetos e um biodigestor que vai produzir biogás usado na geração de energia elétrica. Outra parte dos resíduos se transformará em fertilizante, de modo que tudo será reaproveitado em um método de economia circular.
“Estamos trabalhando aqui toda a lógica da sustentabilidade, que é exatamente a questão do tratamento de resíduos e o uso desses resíduos para a fertirrigação. Os resíduos serão destinados a uma propriedade de 400 hectares para a melhoria de pastagens”, diz Jaime Verruck, titular da Semadesc.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL – Não se pode deixar de registrar também a contribuição relevante dada pela Fiems, através do Senai, que atua na formação de mão de obra qualificada para atender à demanda crescente que se registra em Mato Grosso do Sul.
Além dos terminais de unidades armazenadoras nas regiões produtoras de grãos, da indústria frigorífica, presente não apenas em Rochedo, mas também em vários outros municípios, e do fomento à suinocultura de corte, o Estado vê surgir vários núcleos industriais florestais em Três Lagoas e em municípios de sua influência regional como Água Clara, Inocência e Ribas do Rio Pardo.
Diante dessa realidade, em junho passado, por meio do polo regional do Senai em Três Lagoas, foram diplomados 72 alunos contemplados pelo Programa de Formação de Operador de Máquinas Florestais. O curso, realizado em parceria com a Suzano, beneficiou trabalhadores do município de Ribas do Rio Pardo.
Realizada desde 2022, a iniciativa faz parte de uma série de ações para formar mão de obra qualificada com o objetivo de atender à demanda da unidade da Suzano que está sendo instalada naquele município.
O empreendimento receberá investimento total de R$ 19,3 bilhões e a empresa é referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto.
Na grade curricular dos cursos oferecidos pelo Sistema Fiems, tão relevante quanto o conteúdo técnico é o conteúdo teórico que contempla informações de salutar importância na formação de trabalhadores conscientes de seu papel de defensores e difusores das técnicas de produção embasadas na sustentabilidade ambiental.
De acordo com o gerente do Senai em Três Lagoas, Rodrigo Bastos, o programa contribui também de forma significativa para o crescimento econômico da cidade e vem proporcionando aos moradores oportunidades de trabalho. "Após a formatura, inicia-se uma carreira profissional com o Senai que aqui está transformando vidas", afirma.
CARBONO ZERO – Mato Grosso do Sul, por sua vez, é apontado como referência em sustentabilidade em diversos setores e, com reforço nas ações do Governo do Estado, o objetivo é atingir a meta de obter o reconhecimento do território sul-mato-grossense como 'carbono neutro' até 2030.
Isso significa reduzir, onde é possível, e balancear o restante das emissões de gases por meio da compensação, que pode ser feita pela compra de créditos de carbono, recuperação de florestas em áreas degradadas e outras ações.
No último dia 26 de junho, o governador Eduardo Riedel participou da solenidade de abertura de seminário sobre sustentabilidade em Vitória (ES), oportunidade em que abordou o tema destacando a atuação do Estado no cumprimento das metas de descarbonização.
"É uma alegria muito grande estar aqui no Espírito Santo, junto com o governador Casagrande, que é uma liderança nacional nessa agenda ambiental. O Mato Grosso do Sul vem se aprimorando e buscando fazer o seu dever de casa. Nós temos uma meta ousada de neutralizar carbono em 2030. O nosso Estado tem três biomas: Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado. Além de uma agropecuária forte, o que reforça nossa responsabilidade em torno dessa agenda do balanço de carbono", disse Riedel.
Ele explicou que o projeto estratégico "MS Carbono Neutro" tem como objetivo gerar a base metodológica para uma economia de baixo carbono no Estado, desenvolvendo e adaptando tecnologias para a redução e mitigação das emissões de gases de efeito estufa em vários setores da economia, contribuindo para atingir os objetivos do Programa Estadual de Mudanças Climáticas – PROCLIMA.
De acordo com o governador, Mato Grosso do Sul deu mais um importante passo para obter o status de reconhecimento internacional como 'carbono neutro' com a criação do "Plano Estadual de Incentivo ao Desenvolvimento das Fontes Renováveis de Produção de Energia – MS Renovável", com política pública de incentivo às atividades de produção de energia renovável.