Coutinho concluiu que "a relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos demonstram, de forma cabal, como as políticas da alta direção da Petrobras são discrepantes em relação à gestão das grandes petrolíferas mundiais".
A pesquisa ainda comparou o nível de investimento do segundo trimestre com os últimos 17 anos da Petrobras, concluindo que "os números evidenciam que a distribuição de dividendos tem sido desproporcional aos investimentos. Os resultados históricos demonstram que não é possível sustentar tais políticas".
Apesar de ter diminuído o volume de dividendos pagos aos acionistas, quando comparado a 2021 e 2022, a proporção de dividendos pagos em comparação aos investimentos líquidos é bem superior à média do período analisado. "Ou seja, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido do último trimestre foi 44 vezes mais alta, se comparada com a média de 2005 a 2020", afirmou Coutinho.
Felipe Coutinho diz acreditar que o novo plano estratégico (2023-2027), apresentado pelo presidente da empresa, Jean Paul Prates está com um investimento projetado relativamente baixo, em torno de US$ 78 bilhões (R$ 400 bilhões) em cinco anos.
"É 30% menor, se comparado à média histórica dos investimentos da Petrobras, desde 1965, de cerca de US$ 22 bilhões por ano, e 71% menor, se comparado com o investimento médio anual, entre 2009 e 2014, de US$ 53 bilhões em valores atualizados", destacou o engenheiro químico.
Em entrevista à Agência Brasil, o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras, opinou que a mudança na política de distribuição de dividendos da petroleira brasileira vai possibilitar ampliar os investimentos da empresa, mas que a porcentagem de 45% ainda é conservadora.
"É um ganho, com certeza, porque o que a Petrobras estava pagando de dividendos era algo totalmente surreal. A Petrobras estava pagando mais dividendos do que tinha de lucro. Nenhuma empresa faz isso, acho que só empresa familiar", destacou.
Porém, como a mudança ainda é pequena, Dantas entende quea empresa vai precisar alterar a nova política para cumprir planos já anunciados, como a retomada das obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, a reabertura da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), além do possível investimento para exploração na margem equatorial brasileira ou para novos gasodutos e refinarias.
"Se for levar a cabo de fato as necessidades e o que está prometido de investimento para Petrobras, vai precisar ter uma nova mudança, sim. 45% de dividendos é conservador, é muito pró-mercado", concluiu Eric, que também é do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps). (https://ibeps.com.br/)
Já Felipe Coutinho diz que a mudança será pequena em relação à política de distribuição de dividendos da gestão anterior. "Não à toa, a política de remuneração dos acionistas foi bem recebida por agentes do sistema financeiro", argumentou.
Questionada sobre o levantamento da Aepet, a assessoria de imprensa da Petrobras disse que a nova política de distribuição de dividendos permitirá manter o objetivo da empresa "de promover a previsibilidade do fluxo de pagamentos de proventos aos acionistas, ao mesmo tempo em que garante a perenidade e a sustentabilidade financeira de curto, médio e longo prazos da Petrobras, sem comprometer a capacidade de crescimento da companhia".