O nome do real digital foi divulgado nesta segunda-feira (7) pelo Banco Central. Sua sigla evoca as palavras “digital”, “real”, “eletrônico” e “transação”.
A Caixa Econômica Federal também já anunciou seus testes. Sicoob, Sicredi, Ailos, Cresol e Unicred emitiram os primeiros tokens do real digital na sexta-feira (4). Os testes envolveram a simulação da conversão do saldo da reserva bancária de uma instituição financeira para a sua carteira do real digital.
Segundo o Banco do Brasil, a instituição instalou o nó validador que permite iniciar o projeto-piloto da moeda. Com isso, a partir de agora, será possível criar os tokens que vão permitir a simulação de transações com outros bancos e instituições para conferir se a viabilidade do uso da moeda digital.
Já a Caixa informou que participará dos testes por meio de um consórcio entre o banco estatal, a Microsoft e a Elo. No projeto-piloto, será testada a configuração de infraestrutura e conexão, emissão da nova moeda, token do real digital e emissão de títulos federais por meio desses tokens.
O maior objetivo do projeto-piloto no Banco do Brasil é saber se o Drex pode ser negociado em grande escala, se as operações entre instituições serão possíveis, além de garantia de segurança e privacidade no uso da moeda virtual.
Essa fase de testes deve durar durante todo o segundo semestre deste ano e conta com 16 consórcios compostos por instituições financeiras e empresas do mercado. Em 2024, segundo calendário do Banco Central, deve haver ampliação do projeto até que as transações passem a ser liberadas entre o final do ano que vem e o início de 2025.
O funcionamento das transações em real digital será por meio de tokens. A ideia é que o Drex seja uma moeda utilizada em atacado, para transações de grande porte, dando mais segurança às operações, e também no varejo. Será possível, por exemplo, comprar um imóvel utilizando o real digital, com pagamento instantâneo.
O Drex deve beneficiar ainda o mercado de investimentos, segundo Marisa Reghini, vice-presidente de negócios digitais e tecnologia do Banco do Brasil. De acordo com a especialista, a nova tecnologia é uma possibilidade de melhorar os serviços bancários e ampliar o acesso à bancarização da população.
“Esse é um caso de uso que tem potencial para trazer comodidade aos clientes, melhorar a eficiência da operação, reduzir custos e ampliar o mercado”, diz.
A presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, afirma que a participação do banco estatal é importante por causa do amplo atendimento da instituição em todo o país, com presença do banco em 99% dos municípios brasileiros por meio de 26,9 mil pontos de atendimento.
Além disso, a Caixa é o maior banco da América Latina, com mais de 150 milhões de clientes e R$ 1,6 trilhão em ativos administrados, e o principal parceiro do governo federal em programas sociais, de transferência de renda e de inclusão financeira.
O Drex está sendo criado e será operado pelo Banco Central. A expectativa da instituição é que o real digital se torne tão confiável quanto o Pix, que em batido recordes de utilização. Segundo balanço da instituição, na sexta-feira (4), o sistema de pagamentos bateu recorde, com o registro de 142,4 milhões de transações em um único dia. O recorde anterior havia sido registrado no dia 7 de julho, quando 134,8 milhões de transações foram realizadas.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que tem participado das discussões sobre o real digital, a moeda vai funcionar como versão digital de cédulas e moedas emitidas em espécie, representando modernização nas transações financeiras.
A federação, que fez parte dos estudos técnicos, afirma que, na fase inicial, o real digital será mais usado por pessoas jurídicas, não chegando em larga escala a pessoas físicas, mercado que ainda vai se desenvolver. “Está sendo construída a infraestrutura que permita a tokenização desses depósitos e a partir daí, o cliente terá um leque de oportunidades para outros produtos e serviços no sistema financeiro”, diz nota da Febraban.
A advogada Luciana Simões, sócia da equipe de mercado financeiro e de capitais do b/luz advogados, afirma que não há diferença entre Drex e o real atual, valendo a mesma coisa.
“Não existe diferença entre o real e o Drex, sendo este apenas a representação digital da moeda física. Conforme explicado pelo BCB, o Drex poderá ser trocado por papel-moeda e vice-versa, e o acesso a ela será feito por meio de carteiras virtuais em bancos e outras instituições financeiras e de pagamento”, acrescenta a especialista.
É uma CBDC (Central Bank Digital Currency), uma moeda digital emitida por Banco Central. Ela é uma representação virtual do real e poderá ser convertida em outras formas de pagamento disponíveis hoje, pois terá o mesmo valor do dinheiro tradicional, podendo ser usada em diversas transações. No entanto, inicialmente, deve ser mais utilizada por pessoas jurídicas.
A moeda virtual brasileira será voltada para atividades de atacado. O uso pela população será por meio do real tokenizado. Nesse caso, a representação digital da moeda brasileira será o token de um depósito mantido por instituições financeiras ou instituições de pagamento.
O Drex é o dinheiro digital. Já o Pix é o meio de pagamento. No futuro, poderá ser feito um Pix utilizando o Drex, ou seja, poderá ser enviado Drex de um cliente para outro por meio de Pix.
O usuário final terá uma carteira virtual em custódia de um agente autorizado pelo Banco Central, como um banco ou uma instituição de pagamento.
Segundo o Banco Central, o Drex será uma representação digital do real físico hoje em circulação e a política monetária será a base de sustentação de seu valor. Assim, quando o BC movimenta a liquidez da economia, a quantidade de reais digitais em circulação será levada em conta.
Os testes com a moeda vão mostrar a real segurança, mas diretriz estabelecida para o real digital é que ela mantenha os níveis de segurança e privacidade que há hoje nas operações realizadas no sistema bancário e de pagamentos.
Uma moeda digital de atacado é voltada para transações de valores elevados, envolvendo bancos, cooperativas, instituições de pagamento e eventualmente grandes empresas. Já uma moeda digital de varejo busca atender às necessidades de indivíduos e empresas de todos os portes, podendo ser utilizada para pagamentos e para operações financeiras cotidianas em quaisquer faixas de valores.
Além de poder ser utilizado em conjunto com contas bancárias, contas de pagamentos, cartões e dinheiro em espécie, ele permitirá acesso a serviços financeiros que estão sendo desenvolvidos com base em novas tecnologias, como contratos inteligentes e dinheiro programável (valor monetário digital que pode ser programado para ser gasto somente para determinada finalidade).
A rede escolhida para a fase de testes foi a Hyperledger Besu. Ela é baseada na Ethereum, plataforma que usa tecnologia blockchain para registrar transações com ativos digitais, é capaz de executar contratos inteligentes e tem condições de operar em grande escala. Se for bem-sucedida durante o piloto, a Hyperledger Besu pode ser escolhida como tecnologia definitiva da versão tokenizada da moeda brasileira.
O Drex ainda está em fase de testes e não há uma data exata para o seu lançamento. O que há definido é um cronograma que, ao longo de 2023 e no início de 2024, irá focar na infraestrutura, para desenvolver apenas um tipo de transação e testar a segurança e a privacidade das transações com Drex.
Após esses testes, se todos os requisitos forem atendidos, o Banco Central passará a uma fase de incorporação de novos tipos de transação que pode fazer com que as novas transações sejam liberadas no final de 2024 ou início de 2025. “Se atingirmos um grau de maturidade adequado do projeto e dos participantes do mercado, pretendemos abrir a plataforma para testes com a população ao fim de 2024”, diz nota do BC.