André Fernandes, coordenador do observatório, explica que há, historicamente, uma subnotificação dessa população de rua em torno de 33%. Ele considera positiva a ação do governo federal em buscar corrigir esse descompasso nos dados com a implantação, em fevereiro, do Programa de Fortalecimento Emergencial do Atendimento do Cadastro Único no Sistema Único da Assistência Social (Procad/Suas).
"Mais do que estimular os municípios a registrarem devidamente a população em situação de rua e outras populações vulnerabilizadas, o governo federal também tenta refazer o pacto federativo com governo estaduais e com governos municipais para que, juntos, possam pensar um plano de cuidados e de atenção à população em situação de rua no nosso país", disse o pesquisador.Esse incentivo às prefeituras municipais a realizarem um censo mais preciso da população de rua, portanto, explica o aumento dos números da população de rua no país.
No caso da capital paulista, em fevereiro, o número de moradores de rua estava em torno de 52 mil, e cresceu para pouco mais de 53 mil em março. Houve um decréscimo nos meses de abril e maio, chegando a 52 mil, para voltar a cerca de 53 mil em junho.
A Prefeitura de São Paulo comentou, em nota, que a pesquisa da UFMG é "estática, cumulativa e declaratória, enquanto que o censo da prefeitura, realizado em 2021, contou com minucioso trabalho de campo com 200 profissionais". Naquele ano, a prefeitura registrou 31 mil moradores de rua.
André Fernandes, no entanto, disse que a pesquisa do observatório da UFMG é realizada com próprios dados de agentes da prefeitura que vão a campo perguntar e registrar os moradores de rua no CadÚnico.
A prefeitura também argumentou, na nota, que tem a maior rede socioassistencial da América Latina, com 25 mil vagas, e destacou ainda os programas Vila Reencontro e os serviços emergenciais da Operação Baixas Temperaturas.
O presidente do Movimento Estadual da População de Rua, Robson Mendonça, por sua vez, avalia que não há estrutura para acolher toda a população de rua da capital e que outro fator de dificuldade são as manifestações de setores da sociedade.
"Mas o problema maior está na própria sociedade. Ninguém quer ter albergue na sua região, na sua rua, então o poder público tem encarado muito esse problema. Tem um [grupo] que está protestando, criou até um grupo 'Somos contra Albergue' e que faz protesto toda hora, entra na Justiça", exemplificou.