O Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, apresentou alta de 3,7% no primeiro semestre, informou hoje (1°) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O primeiro ponto é o fato de não ser tão impactado pelo aperto monetário – alto nível da taxa de juros – diferentemente da indústria e do comércio de consumos duráveis, como automóveis.
O segundo é um reflexo pós-pandemia: "houve uma demanda reprimida no setor de serviços durante a pandemia, um setor que sofreu muito, principalmente no turismo. Ao que tudo indica, essa demanda reprimida ainda não se esgotou, então tem havido um aumento de atividade acima dos demais setores", avalia.
A valorização do real ante o dólar é o terceiro fator citado pelo economista porque "faz com que a indústria tenha mais dificuldade em competir com produtos estrangeiros, que ficam relativamente mais barato. Isso vale para o comércio também".
No primeiro semestre, a moeda americana recuou 9,4% em relação ao real. O analista da CNC pontua que o setor de serviços não sofre com a desvalorização. "Pelo contrário, a queda do dólar contribui para que a inflação seja menor, o setor de serviços depende muito do nível geral de preços", detalha.
Fabio Bentes espera que, se a inflação seguir controlada, mesmo que um pouco mais alta, e haja novos cortes na taxa de juros por parte do Banco Central, os serviços e o consumo no comércio tendem a ter um aquecimento maior no segundo semestre de 2023, se mantendo como locomotiva do PIB.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a maior entidade de classe da indústria brasileira, que representa 130 mil indústrias, o resultado do PIB do segundo trimestre veio acima do esperado.
"A Fiesp estava com uma projeção de 0,8%. O que surpreendeu mesmo foi o agro. O mercado esperava uma queda de 3,4%, mas veio só de 0,9%. No todo foi positivo", aponta o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, que deve rever a expectativa de crescimento da economia ao fim de 2023.
"A gente projetava 2,6% de crescimento, que já era acima do consenso do mercado, que estava entre 2,1% e 2,3%. Já era otimista, mas, na verdade, não se tratava de otimismo, se tratava de dados. Se não tiver nenhuma surpresa negativa, devemos ter um crescimento de 3% em 2023."
Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a queda de 0,9% do setor agropecuário era esperada por causa do fator sazonalidade, ou seja, o comportamento cíclico das safras. Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA, explica que o desempenho do agro funciona em uma espécie de gráfico em V: tem um bom primeiro semestre, quedas de desempenho nos segundo e terceiro trimestres, e volta a subir no fim do ano.
"A gente sugere que a análise seja feita comparando com o mesmo trimestre do ano anterior, porque daí essa questão da sazonalidade é reduzida, então a gente vê um crescimento de 17%", explica. "Outra análise que a gente gosta é o acumulado dos últimos quatro trimestres, quando o agro cresceu 11,2%", completa.
Segundo Conchon, o ano tem sido coroado por boas safras de culturas que têm grande produção em volume, como a soja, o milho, algodão e atividades da pecuária. Desempenho que são resultado de estímulos do ano passado, que têm trazidos bons frutos para a safra corrente.
"Estímulos promovidos pelos altos preços das commodities no mercado internacional e aqui no Brasil também".
O patamar de preços das commodities (produtos primários negociados no mercado internacional) que animou os produtores no plantio da atual safra pode ter um impacto negativo para a próxima safra, uma vez que os valores têm apresentado quedas.
"Com menos renda, o produtor investe em um pacote tecnológico mais barato e, com isso, a produtividade cai", explica Conchon.
Como exemplo da quede de preços, o analista da CNA cita o valor de negociação da saca de soja nos últimos doze meses, que recuou 16,6% em dólar. No caso da arroba do boi, a queda foi 32,1% em dólar.
A importância de analisar o comportamento dos valores em dólares se dá pelo fato de grande parte da produção ser negociada no mercado internacional, ou seja, vendida para outros países.
Outra preocupação que pode afetar a colheita do fim deste ano e do começo de 2024 é algo que foge totalmente do controle dos produtores: o El Niño, aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico.
"A nossa preocupação é que o El Niño prejudique o início do plantio da safra 23/24, ou seja, na colheita do trigo, agora no final do ano, e principalmente no início do plantio a partir de setembro", finaliza.