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Água de túmulo que fiéis bebem em Campo Grande será investigada por ter 'procedência incerta'


Um dos túmulos que mais atraem pessoas no dia de Finados em Campo Grande, o jazigo da menina Fatinha, no Cemitério Santo Amaro, terá sua água investigada pela Prefeitura Municipal. Após a origem do líquido ser questionada pelo Jornal Midiamax, a Coordenadoria de Vigilância Ambiental, da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), decidiu analisar o fluído.

Popular ponto de concentração de fiéis e devotos em busca de milagres, a sepultura é famosa na Capital por conter torneiras que esbanjam água de uma suposta mina debaixo do sepulcro da pequena Fátima Aparecida Vieira, também chamada de "Aparecidinha".

Há mais de 40 anos, no dia de Finados, é tradição campo-grandense visitar o túmulo da garotinha que tem fama de milagreira e teria se tornado santa após morrer rezando em Campo Grande, aos 7 anos de idade. Na data, fiéis fazem fila para encher copos, garrafas, beber e se banhar com a água que supostamente jorra debaixo da sepultura e é distribuída em torneiras e filtros de barro para os visitantes.

Devota levou água e até "tomou banho" no local com o líquido em 2021 - (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

"Origem desconhecida"

Apesar da tradição ser difundida há décadas, a administração do Cemitério Santo Amaro afirmou desconhecer a origem da água e da instalação do encanamento de distribuição. A administradora do local disse ao Jornal Midiamax que não há nenhum documento ou registro a respeito da suposta mina embaixo do túmulo de Fatinha e que também não há nenhum dado sobre quando ou quem instalou o encanamento.

Procurada para esclarecer a procedência da água, a Sisep, por meio da Prefeitura Municipal de Campo Grande, informou ao Midiamax que o túmulo está em uma área pertencente à família que é responsável pelo jazigo. "O poder público não tem acesso à mina d' água que existe no local", garantiu a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos.

Na sequência, a Coordenadoria de Vigilância Ambiental, da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) afirmou ao Midiamax que deverá fazer a coleta de uma amostra da água para análise. "No entanto, o consumo da mesma não é recomendado, considerando que a sua procedência é incerta", destacou.

Extensão do túmulo de Fatinha - (Fotos: Marcos Ermínio/Midiamax)

Túmulo de Fatinha está sem torneiras

Os coveiros do Santo Amaro comentaram com a reportagem que apenas o irmão de Fatinha é quem costuma fazer a manutenção do túmulo e também é quem provavelmente detém as informações a respeito do encanamento e da mina d'água.

Maria Eduarda, a administradora do cemitério, reiterou a informação, acrescentando que o familiar da menina já não aparece para limpar a sepultura há um bom tempo. Todos no local estranham seu "sumiço".

Administração não sabe dizer se torneiras foram roubadas ou retiradas pela família - (Fotos: Marcos Ermínio/Midiamax)

O "desaparecimento" do parente resultou no abandono do sepulcro, que está depredado, bastante sujo e, a uma semana do dia de finados, não conta com nenhuma torneira disponibilizando a água para os fiéis.

Sem respostas

A reportagem do Midiamax esteve no local nesta terça-feira (25) e constatou que o túmulo está com apenas dois filtros de barro, completamente vazios, sendo que ao menos três jarros d'água estão quebrados e espalhados em volta do jazigo.

No ponto onde os devotos acendem velas, havia três copos descartáveis com água, provavelmente colocados por adoradores para serem "ungidos" por Fatinha.

Restos de filtros e até sutiã ao redor do túmulo de Fatinha - (Fotos: Marcos Ermínio/Midiamax)

Junto com os restos de filtros destruídos, a reportagem também encontrou várias garrafas de bebidas quebradas e até um sutiã vermelho jogado. Populares acreditam que o local possa estar sendo usado para trabalhos e oferendas.

O Jornal Midiamax não conseguiu contato com o irmão da menina Fátima para esclarecer a procedência da água e do encanamento, e se há algum estudo atestando que a água pode ser consumida. O espaço segue aberto para manifestações, já que o poder público e o próprio cemitério afirmam desconhecer a origem. Quem tiver alguma informação, pode entrar em contato pelo telefone disponibilizado no final desta matéria.

Por dentro e por fora, túmulo está sem manutenção - (Fotos: Marcos Ermínio/Midiamax)

"Água milagrosa"

Em todo feriado de Finados, o túmulo de Fátima Aparecida Vieira, a menina que faleceu aos 7 anos de idade em 1979 e ganhou fama de milagreira, é atração na Capital. Símbolo da crença popular, "Aparecidinha" é buscada por de todas as regiões que se deslocam até o cemitério Santo Amaro, na Avenida Presidente Vargas, por fé e devoção.

Com o título de santinha, a garotinha atrai visitantes em sua "morada" obituária desde que seu mausoléu começou a jorrar água, pouco tempo depois que foi enterrada, em 1979. Ao redor da sepultura, a população deixa flores, brinquedos e cartas com pedidos. Além disso, a água que supostamente mina da terra continua a ser ingerida pelos campo-grandenses.

Segundo a crença, o líquido é milagroso. No dia de Finados em 2021, havia até fila para beber e armazenar um pouco da água que sai da cova de Fátima. "Venho todo dia de finados. Até hoje, tudo que eu pedi pra ela, ela me atendeu. Hoje eu venho aqui por uma dor que tenho no braço e tenho certeza que eu vou ser curada, que no próximo dia de finados, se eu estiver viva e voltar aqui, não vou ter mais essa dor. Confio que ela vai interceder junto a Deus pela minha saúde pra tirar essa dor do meu braço", disse Oracy Gonçalves de Souza, de 61 anos, ao Jornal Midiamax, no feriado do ano passado.

No local, Oracy estava acompanhada da filha e da sobrinha e enfatizou sua devoção. "Começou quando a gente ficou sabendo dos milagres que já tinham acontecido através dela. Eu falo que é a fé, se você tiver fé, vir aqui e pedir para ela, ela vai interceder. Tem mais de 20 anos que eu venho aqui. Sempre fui atendida. Eu tenho fé, vou sair daqui hoje curada já", disse ela, que é assistente administrativa.

Fiéis orando pela menina no dia de Finados em 2021 - (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Tradição ameaçada

Naquele feriado de Finados, fiéis bebiam e espalhavam a água do túmulo pelo corpo na crença de receber alguma graça. Famílias, pessoas com câncer, dores em geral, e enfrentando as mais variadas adversidades.

Cercado por misticismo, o ambiente também é de emoção e se destaca no maior cemitério de Campo Grande. Ninguém se espanta ou tem receio da água que sai da terra onde restos mortais estão enterrados. E, apesar da situação, a Prefeitura agora faz o alerta e não recomenda o consumo.

A tradição movida e alimentada pela fé já ultrapassa quatro décadas, mas agora se encontra ameaçada com a orientação da Vigilância Ambiental e a ausência das torneiras.

Imagem de Fatinha em seu túmulo - (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)


História do túmulo de Fatinha


Mesmo resistindo a mais de 40 anos, muita gente não conhece e sequer faz ideia da existência da história da santinha milagreira da Capital.

Os mais antigos contam que Fátima Aparecida Vieira, a menina Fátima, morreu ao acender uma vela enquanto rezava para Nossa Senhora. A própria família da menina confirmou a história. "Ela era uma menina de muita fé, muito devota de Nossa Senhora", explicou a fiel Oracy à reportagem.

No passado, Paulo Eduardo Vieira, irmão de Fátima, relatou que a menina chegou da escola dizendo que deveria, por orientação da professora, acender uma vela à Nossa Senhora Aparecida para se sair bem em uma prova. Enquanto a família estava reunida na varanda, Fátima pediu a bênção da mãe e entrou em casa para tirar o uniforme. Em seguida, se trancou no quarto e decidiu fazer a "lição".

De repente, os familiares começaram a ouvir gritos vindos do quarto e correram para ver o que estava acontecendo. Trancada no cômodo, Fátima não conseguiu abrir a porta e passou a chave por baixo para que a família conseguisse destrancar. Ela então teria saído correndo, com parte do corpo queimado, se ajoelhou e pediu perdão a Deus e à mãe pelo que havia feito, segundo o relato do irmão.

Fátima ficou três dias internada na Santa Casa e, apesar dos ferimentos, aparentava estar bem. Sua foi uma surpresa e se tornou uma das mais fortes histórias cercadas de religiosidade e misticismo na Capital sul-mato-grossense.

Altar onde velas são acesas para agradecer os milagres - (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

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