As Confrarias sérias sempre serviram para pôr uma pitada de cultura aos bons hábitos civilizatórios dos comensais. Comigo não foi diferente. Ainda no século passado, bem jovem de vida e um bocado jejuno no mundo do vinho, levado pelas mãos do Dr. Pedro Kalim Cury, em primeiro lugar, e, logo depois, pelo saudoso Prof. Paulo Ayres, passei a frequentar as confrarias mais herméticas e rigorosas, quando o tema era o bem comer e o bom beber. Uma delas, que só admitia oito comensais à mesa, até pela qualidade dos "Bordeauxs" que por lá desfilavam, se reunia no saudoso restaurante do "Monsieur Ondei", o Le Coq Hardy, por onde Eric Jacquin começou a gatinhar na gastronomia paulistana, de mãos dadas ao Grande Mestre José Pereira. Por lá o champagne não era aperitivo, servia-se já à mesa com o couvert. No bar, enquanto se aguardava a chegada de todos os "convocados" e se confraternizava com outros que por lá estavam, bebia-se destilados que eu, na minha prepotente inocência, sempre achei que deveriam passar longe de uma mesa regada a vinhos.Drinks eram admitidos, Paulo Ayres orbitava entre um Martini e um "Scotch", o Pedrão (Dr. Pedro) ia de Whisky, preferindo o, quase único disponível, Single Malt da época, Glenfiddich, sempre derramando o finalzinho na água ao lado, "para dar gosto". Aprendi. Hoje entendo, concordo, pratico e sou entusiasta do destilado antes da refeição. No Rio Grande do Sul, na região serrana, é comum as galeterias oferecerem um Bitter no bar, enquanto seus clientes aguardam uma mesa. O sentido é "abrir o apetite". A Caipirinha antes da feijoada, a Bagaceira previamente ao Leitão da Bairrada, a Cachaça de Rolha antes do Vatapá, a Vodca precedendo o "Smorgasbord", me parecem serem hábitos salutares. E o whisky como o grande coringa, pois, por ser, ao meu ver, o destilado mais nobre e versátil do mundo, é o melhor "abre alas" para as grandes refeições. Um Blended Scotch com gelo vai muito bem para a espera de uma mesa ou mesmo na sala de estar da sua casa, enquanto aguarda-se todos os convidados. Um Single Malt, hoje de mais fácil acesso que na última década do Século XX, é uma excelente opção para um jantar mais intimista, vez que sua complexidade de aromas e gostos vai aguçando o paladar de forma especial. Claro que, se tratando de Single Malt é necessário algum cuidado e atenção ao elegê-lo. Um copo côncavo com a boca mais fechada é o ideal e a escolha de um Single menos "turfado" é de bom grado. Não consigo ver um Laphroaig (single malt extremamente turfado e defumado), como um bom antecedente para uma mesa onde grandes e antigos "borgonhas" serão degustados; neste caso um Glenlivet Founder’s Reserve, me pareceria mais adequado. Para meu gosto o Single Malt, ao contrário do Blended Scotch, deve ser bebido sem gelo e com o acréscimo de algumas gotas de água mineral sem gás, em que pese que o gosto é de quem bebe e não de quem quer regrar Uma dose de Ciroc bem gelada, com um twist de limão siciliano ou lima ao fundo do copo, é um dos meus aperitivos preferidos, até pela sua neutralidade ao paladar, quando se trata de uma mesa de comensais que degustarão vinhos potentes. Muitos gostam de um Dry Martini a "Winston Churchill", onde o Vermuth mal dará o "cheiro" ao coquetel, pelo mesma razão da neutralidade que a Vodka tem. Assim, ouso afirmar, fechando o tema, que o destilado é muito mais apropriado para a abertura das refeições do que um vinho do Porto, por exemplo, que se encaixaria melhor no pós refeição; mas, sempre, que se siga o gosto do freguês. Salut!