Déficit zero primário para ano que vem exigiria arrecadação extra de R$ 168,5 bilhões, segundo o Executivo federal
No Orçamento para 2024 enviado ao Congresso pelo governo federal, há a previsão de zerar a dívida pública primária. Sem contar com os pagamentos de juros de débitos passados, a atual gestão quer ter saldo nulo no ano que vem.
Inclusive, essa tem sido a principal promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Para fontes ouvidas pela reportagem e por outros agentes de mercado, a promessa de déficit zero não será cumprida.
Nas contas do próprio governo, cumprir esse objetivo exigiria que a arrecadação tivesse aumento de R$ 168,5 bilhões em 2024.
Para Cláudia Moreno, economista do C6 Bank, "existe uma incerteza muito grande se de fato" essa expansão nas receitas vai ocorrer. Ela prevê que, desse total, somente R$ 100 bilhões se concretizarão.
A previsão do banco para 2024 é de saldo negativo de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto). É a mesma estimativa do Warren Renascença.
Vale lembrar que o arcabouço fiscal prometia déficit de 0,5% neste ano e de 0% em 2024. Para 2025 e 2026, saldos positivo respectivamente de 0,5% e 1%.
Segundo Felipe Salto, economista-chefe da Warrem, 2023 tem sido "atípico". Isso porque, normalmente, o primeiro ano de um mandato presidencial é de contenção de despesas. Com a nova gestão petista, está sendo o contrário.
"Com a PEC da Transição e gastos expandidos no ano passado, contratou-se uma espécie de continuidade desses fatores para 2023, que agora exerce sua pressão sobre as contas. O ajuste fiscal, a médio prazo, depende de medidas estruturais. É bom, por exemplo, observar que o governo vem anunciando a criação de um grupo de trabalho na área de avaliação de despesas (spending reviews). Essas iniciativas ajudam, mas o problema fiscal não é pequeno", defende ele.
De forma semelhante, Marco Rocha, professor de economia na Unicamp, avalia que o governo foi "muito ambicioso" ao prometer zerar a dívida primária no ano que vem.
"O governo devia prolongar um pouco mais a trajetória de estabilização da dívida pública para justamente ganhar algum fôlego para, vamos dizer assim, contemplar as demandas vindas da sua plataforma de governo", analisa Rocha.
Para reduzir a dívida pública, o governo tem articulado pela aprovação de no mínimo três medidas. Até o momento, ninguém fala em corte de gastos.
São elas: revisão do voto de qualidade do Carf (previsão: R$ 97 bilhões), mudanças em um imposto estadual (previsão: R$ 35 bilhões) e a volta da "raspadinha" lotérica (previsão: R$ 3 bilhões).
Em junho, a Fazenda chegou a dizer à reportagem que não haveria “aumento da carga tributária”.
Essas são apenas as proposições citadas no Orçamento para 2024. Além delas, há a intenção de aumento de impostos por meio de outros projetos, como a taxação das apostas esportivas.
Ainda, técnicos da Receita Federal recomendaram não incluir no Orçamento de 2024 a previsão dos R$ 35 bilhões que viriam de mudanças no tributo estadual.
Segundo o Fisco, a estimativa não é segura, já que os contribuintes podem tentar driblar o aumento de encargos. O governo ignorou a recomendação e incluiu a projeção no texto.
Fonte: R7