Kaká e outros ex-jogadores da seleção passaram por uma espécie de sabatina com a comissão técnica da seleção, inclusive Tite. Segundo apurou a reportagem, o lateral-esquerdo Filipe Luís e o volante Fernandinho -ambos ainda na ativa por Flamengo e Athletico-PR- já foram até a CBF para essa espécie de "Roda Viva", uma entrevista sobre assuntos diversos.
"É um olhar de fora para dentro. A gente faz as perguntas e eles [jogadores] olham sob a ótica deles", resume Tite.
Kaká é um ex-jogador de quase cem partidas pela seleção, presente em três edições da Copa do Mundo [2002, 2006 e 2010]. Fernandinho esteve nos Mundiais de 2014 e 2018 e Filipe Luís, neste último. A dupla participou do ciclo para a Copa do Qatar sob o comando de Tite, mas parou de ser convocada há três anos. Tudo o que envolve a Copa do ponto de vista do atleta é o que Tite espera entender ao se reunir com o trio.
"As observações e análise do atleta para a comissão técnica, que tipo de avaliação tem, o que na Copa do Mundo te pesa, o que te aflige, amedronta (...) Fale, externe (...) A gente troca informação e cresce. Quando há discernimento, ideias, sempre enriquece", diz Tite, em conversa exclusiva com a reportagem.
Nestas reuniões, o jogador fica frente a frente com o máximo de profissionais da comissão técnica da seleção que estiver na CBF no momento. Durante a visita de Kaká, por exemplo, o auxiliar Cleber Xavier e o analista de desempenho Bruno Baquete estavam viajando à Europa para observação de jogos de Juventus, Roma, Sevilla e Barcelona e não puderem participar da sabatina. Já Tite participou antes de viajar para a Inglaterra na terça-feira.
A ideia da comissão técnica é entender onde pode atuar na relação com os jogadores a partir de inquietações que estes veteranos tenham tido em edições passadas. Para assim resolver mais rápido os problemas que possam aparecer na Copa do Mundo do Qatar.
Uma das observações de Filipe Luis, por exemplo, já deu base para uma reflexão de Tite nos bastidores. O lateral-esquerdo do Flamengo disse que cada vez que entrava em campo na Copa do Mundo pensava que era visto pelo mundo inteiro naquele momento e isso tirava a naturalidade de suas ações. Tite já saiu da sabatina pensando sobre exposição, aspecto mental e o desenvolvimento dessa naturalidade em ser o foco das atenções, ainda mais num grupo de jogadores jovens como é o da seleção.
TITE USA TÉCNICA DA PSICOLOGIA EM REUNIÕES
No contato com a reportagem em que explicou o que pretende com essas reuniões com ex-jogadores da seleção, Tite mencionou o nome de uma técnica da Psicologia chamada "cadeira vazia", que seria mais ou menos a ideia da comissão técnica para os papos.
A técnica foi desenvolvida pelo americano Fritz Perls no século passado. Segundo o psicólogo Alberto Dell'Isola, consiste nisso: "A pessoa se senta em frente a uma cadeira vazia e fala com ela, como se fosse alguém real."
A ideia é que essa pessoa imaginária com quem o examinado "conversa" seja alguém que participou de algum momento relevante de sua vida. O objetivo é encerrar assuntos não resolvidos no passado, entrar em contato com o evento de uma forma emocional e reparar o que estava pendente.
Por mais que no caso de Tite os ocupantes da cadeira vazia sejam ele próprio e os outros profissionais da comissão técnica, a finalidade da tarefa é parecida com a técnica da Psicologia: ajudar na superação de traumas e na compreensão de problemas a partir do ato de falar sobre assuntos que no momento em que aconteceram não foram tema de reflexão.
Fora do divã, Tite tem como próximo desafio importante o anúncio dos 26 convocados para a Copa do Mundo no próximo dia 7, às 13h (de Brasília). A seleção estreia no Mundial contra a Sérvia, no dia 24.