O impulso para transformar a pesquisa em inovação veio da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul). A Arandu foi uma das startups selecionadas do Programa Centelha II, parceria da Fundect com a Finep que apoia com subvenção econômica empresas inovadoras de base tecnológica.
"Empreender foi um grande passo para nós que somos do meio acadêmico. A ajuda da Fundect neste começo tem sido fundamental para podermos desenvolver e validar nossa tecnologia", destaca Denise Brentan da Silva, doutora em Ciências de Produtos Naturais e Sintéticos.
Segundo a pesquisadora, a substância vermelha produzida pelo microorganismo encontrado no Pantanal tem vantagens físico-químicas em relação a outros corantes naturais, como cor intensa, estabilidade e solubilidade em água, características interessantes para os mercados alimentício, cosmético e até têxtil.
"Temos outros pigmentos naturais bastante conhecidos aqui no Brasil, como o urucum, por exemplo, mas ele não é solúvel em água, dificultando a aplicação em diversos produtos, além de sofrer degradação e assim ter problemas com relação à estabilidade", explica Denise Brentan da Silva.
O corante desenvolvido pela Arandu é baseado na bioeconomia, que utiliza recursos naturais e novas tecnologias com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis. O doutor em Química, Edson dos Anjos dos Santos, explica que o processo de fabricação do corante é feito totalmente em laboratório, a partir de uma cepa do microrganismo, sem necessidade de exploração do bioma.
"Ali damos as condições ideais para ele se multiplicar e produzir o corante. É uma produção limpa, orgânica, sem matérias-primas de base animal, sem necessidade de uma área agricultável e sem a utilização de solventes como acontece na produção dos corantes artificiais", ressalta.
Estas características tornam o produto um concorrente de peso para substituir o carmim de cochonilha, hoje o corante vermelho natural de melhor qualidade e mais utilizado pela indústria mundial, produzido a partir do inseto Dactylopius coccus.
"O Peru é responsável por 80% da produção mundial de cochonilha para corante. Os insetos são criados em áreas de plantação de palmas, mas por serem pragas agrícolas são proibidos em muitos países, inclusive no Brasil, o que torna o produto extremamente caro", explica Santos.
Arthur Ladeira Macedo, coordenador do projeto, lembra ainda que o carmim de cochonilha é reprovado pelo crescente mercado vegano e também possui restrições nas culturas kosher e halal que, por questões religiosas, não aceitam produtos à base de insetos.
"Nosso produto se encaixa completamente no conceito de ESG, Ambiental, Social e Governança, e isso facilita a entrada na Europa e EUA que são hoje os mercados que mais demandam essas alternativas. Também pode, no futuro, atender os mercados crescentes do oriente".
Por enquanto o corante vermelho é o carro chefe da startup que está aperfeiçoando o processo de produção para ganhar escala, fazendo testes para registros e buscando parcerias para validar o uso nos mais diversos produtos. Mas a busca por novos bioativos continua.
"A Arandu é baseada na biodiversidade; por isso, é importante pensarmos em estratégias de conservação. Podemos perder riquezas únicas sem nem sequer tê-las estudado e nem sempre a ciência já desenvolveu tecnologias suficientes para conseguir compreender todo o seu potencial", reforça Denise Brentan da Silva.
Nalvo Franco de Almeida Jr, diretor científico da Fundect, ressalta a importância de projetos como esse.
“A startup Arandu nos mostra que é possível promover a bioeconomia em sua verdadeira essência, gerando tecnologia para futuras práticas sustentáveis que consigam balancear desenvolvimento econômico com conservação ambiental. Esse é um dos princípios dos critérios ESG e essa tendência não tem mais volta. Projetos assim terão cada vez mais chance de conseguir recursos públicos ou privados para inovar”.