A eleição do candidato de direita Javier Milei será uma força extra para o agronegócio da Argentina. A expectativa é que promessas de campanha como o fim das taxas para exportações agrícolas, acesso à tecnologia com sanção à lei de sementes e a dolarização da economia animem agricultores. “Os estados agropecuários apoiaram fortemente a presidência de Milei. Essas promessas dele precisam agora estar atreladas à capacidade de formar uma coalizão que apoie as propostas no Congresso”, destaca Martin Morales, analista de risco político da Arko Internacional. Um dos primeiros sinais do bom ânimo na agropecuária argentina poderá se refletir em aumento da área de cultivo, como a de soja. O período de plantio da safra 2023/2024 vai até janeiro e, com isso, há possibilidade de incremento no total semeado. A Argentina é um dos maiores exportadores de farelo de soja do mundo e concorrente do Brasil no mercado global. “O fato é que a Argentina terá que exportar muito para se recuperar, com impostos ou sem impostos, o preço FOB de exportação é o mesmo. Isto pode motivar os produtores a plantar mais”, destaca Paulo Molinari, analista de mercado Safras&Mercado.
O Brasil e a Argentina são importantes parceiros comerciais e há muita dúvida da audiência agro sobre eventuais retaliações, já que Milei criticou Lula, a quem chamou de comunista. Mesmo com diferenças ideológicas entre os dois presidentes, o comércio deverá fluir, especialmente porque um dos pilares de Milei é o livre comércio. Segundo dados da Comtrade, em 2022 o Brasil foi o principal cliente das exportações da Argentina, com 14,3% do total. Entre os fornecedores do país vizinho, o Brasil ficou em segundo lugar, com 19,6%, atrás apenas da China, que tem 21,5% do total. “É muito pouco provável qualquer ruptura, ainda mais em um país que vive uma crise econômica de alta proporção. Qualquer atitude nesse sentido seria bastante problemática. Provavelmente não passará de um discurso de campanha”, declarou Leandro Gilio, da Insper Agro Global.
No comércio agrícola, o Brasil é um grande importador de trigo e lácteos argentinos. Em 2022, foram US$ 2,4 bilhões em valor nas exportações do cereal e US$ 421 milhões para o leite. Caso a Argentina elimine taxações e o agro se fortaleça, esses produtos podem ganhar mais competitividade, o que favoreceria a entrada deles nos mercados. Em 2023, o setor de leite brasileiro viu aumento da importação dos produtos argentinos e, com isso, sentiu uma piora da crise vivida pelo setor. O Mercosul é um ponto-chave para entender os fluxos desses itens no futuro. “O Milei fala que o Mercosul é ruim. Aí temos que pensar na hipótese do Milei romper com o Mercosul. A consequência é que o leite que entra aqui hoje, sem impostos, poderia começar a pagar impostos”, alerta Marcelo de Carvalho, CEO da Milkpoint.
Se as boas expectativas de menor intervenção do Estado nos mercados, de ajuste das contas públicas e de livre mercado se concretizarem, o agro da Argentina deverá se fortalecer. É bom que o agro do Brasil também se fortaleça, sob o risco de perder espaço para a Argentina, que está voltando ao jogo.