Onze pessoas morreram diariamente, em média, em 2023 nas rodovias federais brasileiras em decorrência de sinistros de trânsito. Ao todo, segundo levantamento de dados da PolÃcia Rodoviária Federal (PRF), 4.127 pessoas perderam a vida em 49.734 sinistros registrados entre janeiro e setembro de 2023.
Esses números superam as ocorrências do mesmo perÃodo de 2022, quando houve o registro de 4.055 mortes e 47.743 sinistros. "Isso mostra que nada de efetivo tem sido feito para melhorar a segurança nas rodovias brasileiras. As pessoas seguem infringindo as normas de trânsito e isso tem provocado sinistros cada vez mais letais", avalia o diretor cientÃfico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.
Conforme o especialista, os dados reforçam a urgência de encarar o trânsito com a seriedade necessária para tirar o Brasil da segunda colocação no ranking de paÃses que têm o pior trânsito do mundo e de realizar campanhas permanentes de conscientização e educação para o trânsito.
"O Dia Mundial em Memória das VÃtimas de Trânsito, celebrado em 19 de Novembro, é o momento de maior reflexão acerca da gravidade do problema que enfrentamos no trânsito do Brasil. A data tem o papel social de acolher as pessoas que perderam familiares e de buscar soluções para evitar novas mortes. É o momento também de cobrar do poder público mudanças nas polÃticas voltadas para a segurança viária e de cobrar do poder Judiciário a capacidade de superar a sensação de impunidade que ainda paira em decorrência de decisões que, muitas vezes, não punem, só amplificam a dor dos atingidos por esse problema", afirma.
Por que sinistros?
De acordo com Coimbra, cada morte no trânsito é uma tragédia para o núcleo familiar, mas impacta toda a sociedade. "Nunca poderá se chamar de acidente um evento evitável de trânsito que não aconteceria caso o condutor adotasse comportamentos mÃnimos, como prudência, respeito e empatia. As pessoas seguem assumindo riscos e invadindo o direito de todos, isso ocorre quando se excede o limite de velocidade ou quando se dirige sob influência de álcool ou drogas. Acidentes são inevitáveis e obras do acaso, sinistros de trânsito, podem ser evitados", explica o especialista.
Mães nunca esquecem
A ex-deputada Christiane Yared ficou conhecida por transformar a dor pela perda do filho Rafael, morto em um sinistro de trânsito em 2009, em luta pela preservação de vidas no trânsito. Ela conhece de perto o sofrimento e a devastação que a morte de um ente querido provoca. "Cada vÃtima de trânsito causa uma fissura muito grande na sociedade: famÃlias são desestruturadas, há um grande número de divórcios e há também a questão econômica. Muitas das vÃtimas são pais de famÃlia. No meu caso, eu trabalhava com o meu filho e a minha empresa fechou depois da tragédia", lembra.
Christiane defende a criação, em todo paÃs, de núcleos que atendam os familiares das vÃtimas do trânsito.
"Esses núcleos têm que oferecer o atendimento psicológico, psiquiátrico, social e espiritual que essas famÃlias precisam. Além disso, é preciso investir maciçamente em reforço na educação, fiscalização e punição para os crimes de trânsito. Vivemos hoje um tripé da impunidade no trânsito: não educamos, não fiscalizamos e não punimos quem comete crimes", observa.
Tanto Coimbra quanto Christiane insistem no poder da educação para salvar vidas. "Quando a pessoa entende o que está em jogo, ela muda o seu comportamento. A cidade de Vitoria, na Austrália, por exemplo, conseguiu zerar as mortes no trânsito investindo em campanhas educativas. Dá resultado!", explica a ativista.
Problema social
Se engana quem pensa que os sinistros de trânsito impactam apenas a vida das vÃtimas assim como de suas famÃlias. Cada morte representa um custo estimado de R$ 536 mil. "O volume que o SUS investe para atender às vÃtimas do trânsito é altÃssimo. Era possÃvel investir esse dinheiro na saúde se o Brasil reduzir o número de sinistros. Ou seja, uma pesquisa recente feita pelo aplicativo Gringo mostrou que o Brasil gasta cerca de R$ 20 bilhões por ano com mortes no trânsito. Investir na conscientização é muito mais barato, efetivo e salva vidas", resume Coimbra.