O presidente da França, Emmanuel Macron, disse neste sábado, 2, durante uma coletiva de imprensa na COP28, que está sendo realizada em Dubai, que não apoia o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, por contrariar a defesa da biodiversidade e o combate à mudança climática, e disse esperar que o governo de Javier Milei na Argentina se comprometa com ambos os objetivos. "É um acordo (UE-Mercosul) que não é bom para ninguém", afirmou o líder francês. O presidente francês justificou sua oposição pelo fato de se tratar de um acordo obsoleto, apesar de ele próprio, em 2019 e após duas décadas de negociações, ter dado sinal verde para que pudesse finalmente ser apresentado para ratificação dos Estados-membros da UE. "Trata-se de um acordo completamente contraditório ao que o Brasil está fazendo e ao que nós estamos fazendo. O acordo foi negociado há 20 anos e tentamos remendá-lo, de uma forma ruim, porque não leva em conta a biodiversidade ou o clima”, acrescentou.
Macron disse que o atual acordo UE-Mercosul "tem alguns parágrafos para agradar à França", mas na sua essência é um "pacto antiquado de desmantelamento de tarifas". Nesse sentido, citou como exemplo os acordos comerciais da UE com o Chile, o Canadá e a Nova Zelândia, que têm como eixo as questões ambientais. "Estou criando no meu país um mercado em processo de descarbonização para permitir que as pessoas daqui consumam produtos do exterior que envolvem mais emissões? Estamos loucos", resumiu o presidente francês, fazendo referência ao seu desejo de que os países do Mercosul apliquem regras de descarbonização equivalentes aos da UE. No entanto, Macron negou que tenha havido atritos com Lula, crítico da posição europeia em relação ao acordo UE-Mercosul, e disse estar "muito sintonizado" com o presidente. Com esta posição, o chefe de Estado francês joga um balde de água fria nos cálculos da Comissão Europeia e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tinham esperanças em ratificar o acordo até o final deste ano.
Na sexta-feira, 1, o líder brasileiro disse que o Mercosul e a União Europeia estavam “próximos de fechar” um acordo de livre-comércio, sobre o qual a cúpula do bloco vai se concentrar na quinta-feira. “Estamos próximos de fechar esse acordo, que vai beneficiar nossos países”, escreveu Lula na rede X, o antigo Twitter. Na COP 28, Lula manteve encontros separados com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, atualmente a cargo da presidência da UE. O presidente brasileiro e Von der Leyen coincidiram que “houve avanços significativos nas reuniões entre equipes técnicas dos dois lados” nos últimos dias, especialmente depois de uma comunicação telefônica entre ambos, assinalou o Palácio do Planalto em comunicado. O espanhol Sánchez, por sua vez, celebrou nesta mesma rede social a reunião mantida com Lula “para dar impulso político ao acordo”, que será um passo “histórico” e “permitirá reforçar projetos estratégicos em energias renováveis, hidrogênio verde, luta contra o desmatamento e transição digital”.
O presidente Lula qualificou a França como protecionista. Segundo ele, a posição doe Macron não é a mesma da União Europeia. “É um direito dele. Cada país tem o direito de ter uma posição. Eu acho que é um direito dele ter uma posição. Eu acho que a França é o país mais duro de fazer acordo porque a França é mais protecionista. Não é a mesma posição da União Europeia, que pensa outra coisa”, declarou Lula à imprensa nos corredores da COP28 em Dubai. Apesar das desavenças, Macron informou que viajará ao Brasil em março de 2024. Segundo o Palácio do Planalto, a visita ocorrerá em 27 de março. O presidente francês mencionou uma “agenda bilateral extremamente densa” e “muitos pontos de vista coincidentes” com Lula, a quem considerou um presidente “visionário” e “corajoso”. Entre as coincidências, Macron citou “a luta contra o desmatamento (…), questões de defesa, interesses econômicos e questões culturais”. Os líderes também discutirão o futuro do acordo comercial entre UE e Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), fechado em 2019 após 20 anos de duras negociações, e que ainda não foi ratificado devido a preocupações do bloco europeu com as políticas ambientais, especialmente do Brasil.
*Com agências internacionais