A tecnologia utilizada envolve o uso do vírus inativado para estimular o sistema imune. Segundo o instituto, trata-se da plataforma ideal, pois é mais segura para aplicação em gestantes.
"Como o principal público-alvo seriam mulheres grávidas, a vacina contra Zika precisa ter um perfil de segurança muito alto. A confiabilidade desses processos é grande, tanto em termos científicos como no aspecto regulatório", explica Renato Mancini Astray, um dos responsáveis pelo projeto.
Mais de 60 composições diferentes foram testadas nos últimos anos até que os pesquisadores chegassem a duas formulações adequadas. Nesse momento, os cientistas trabalham na versão final que será encaminhada para estudos pré-clínicos.
O projeto teve início em 2015, ano em que o Brasil declarou emergência de saúde pública nacional devido à epidemia da doença. Os estudos tiveram que ser interrompidos em 2020, quando os esforços das equipes de virologia se voltaram à covid-19.
"No Brasil, nós produzimos muitas vacinas, mas desenvolvemos pouco: a maioria vem de transferência de tecnologia. Com o projeto do Zika, temos a oportunidade de fazer uma vacina que seja desenvolvida no Brasil da bancada ao produto", destacou o pesquisador do Butantan.
A melhora na situação epidemiológica do zika no país, porém, deve se tornar um desafio para os pesquisadores. Isso porque os testes clínicos de eficácia (fase 3) só podem ser realizados quando há circulação do vírus, já que avaliam se pessoas vacinadas adoecem menos que as não vacinadas.
O instituto destaca o potencial impacto econômico da vacina. O tratamento mínimo de uma criança com microcefalia custa R$ 493,00 por mês e uma única unidade de saúde especializada nesse atendimento tem custo anual estimado de R$ 872 mil.
Em 2015 e 2016, a crise sanitária provocada pela disseminação do vírus teve o custo para a saúde pública de R$ 4,6 bilhões. Em toda a América Latina, o valor pode ter chegado a US$ 18 bilhões, segundo a ONU.