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Tentativas do Brasil de firmar acordos no Oriente Médio ficam aquém do esperado e esbarram no uso do combustível fóssil

Nas últimas duas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou uma série de viagens pelo Oriente Médio para fechar acordos bilaterais e novas parcerias de investimento para o Brasil.

Por Midia NAS em 09/12/2023 às 10:24:27
Foto: Reprodução internet

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Nas últimas duas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou uma série de viagens pelo Oriente Médio para fechar acordos bilaterais e novas parcerias de investimento para o Brasil. O roteiro contou com passagens pelos Emirados Árabes, Arábia Saudita, Catar e Alemanha. Logo em seguida, ele retornou ao Brasil para participar da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Como resultado da missão internacional do governo, a Embraer assinou três acordos de cooperação com a Arábia Saudita nas áreas de aviação civil; defesa e segurança; e mobilidade aérea urbana. Lula também debateu com o primeiro-ministro do país o investimento de US$ 10 bilhões que o Fundo Soberano Saudita planeja aplicar no Brasil. Com o Reino Unido, o governo brasileiro assinou um acordo de cooperação em projetos de apoio à descarbonização do setor industrial. Na Alemanha, foram fechadas mais de 20 parcerias bilaterais. Apesar da importância estratégica que o Brasil atribui ao fortalecimento de suas relações comerciais, especialistas consultados pelo site da Jovem Pan avaliam que os acordos propostos durante a missão internacional no Oriente Médio tenderam mais para o campo do imaginário e da retórica e ficaram distantes de planos concretos e da realidade desejada pelos países produtores de petróleo.

Economista e doutor em relações internacionais, Igor Lucena avalia que, até o momento, as viagens internacionais para o Oriente Médio trouxeram poucos investimentos para o Brasil, seja no governo Lula ou no de seu antecessor, Jair Bolsonaro. Ele considera que o valor investido por esses países ficou aquém do que era desejado por ambas as gestões. “Existe uma visão clara do Oriente Médio de que a insegurança jurídica no Brasil e que eles mesmo já são grandes produtores de petróleo, então eles compram do Brasil produtos que são necessários, principalmente na área de alimentos. É muito difícil a gente conseguir avançar nessa pauta. Não vimos nada de concreto, nem empresas específicas. Ficou muito mais na ideia de palavras e suposições de investimentos na área de hidrogênio verde e de energias renováveis, quando, na verdade, os países do Oriente Médio querem prolongar uso do petróleo pelo maior tempo possível porque é o grande gerador de renda deles. A pauta verde para os países produtores de combustíveis fósseis, neste momento, é bastante incongruente. Então, essas discussões ficaram muito mais no campo da retórica e da tentativa de fazer o petróleo financiar uma transição, mas algo longe da realidade“, observa.

Ele ainda considera que a semana teve um balanço negativo após a tentativa de acordo entre o Mercosul e a União Europeia ir parar “na gaveta”, uma vez que esse seria o acordo econômico mais importante que o Brasil poderia fazer. “Precisamos focar mais nos nossos problemas internos, porque a pauta externa termina contaminando questões internas e ficamos sem resolver os problemas daqui e sem de fato ter um avanço real no campo internacional. Se ficarmos focando muito nas pautas internacionais, que vão ser sempre permeadas por conflitos, o Brasil não vai ter capacidade de resolver o problema e vai contaminar a própria dívida interna”, opina.

O cientista político Jorge Mizael considera que, por serem as primeiras reuniões de Lula com representantes de países de Oriente Médio, é muito difícil viabilizar oficialmente um acordo prático. “Em um primeiro momento, você vai entender quais são as prioridades daquele país no momento. Com o governo Jair Bolsonaro, tinha algum tipo de sinergia com a participação direta dos filhos, principalmente de Eduardo Bolsonaro no dia a dia dessa política comercial. Agora, a tentativa mesmo é de restabelecer um ambiente de confiança para que futuramente se viabilize acordos comerciais. Não é razoável esperar a concretização de um acordo neste primeiro momento. É um momento para construir um ambiente de relacionamento e de negociação para que futuramente isso venha a ser concretizado. Não vejo que necessariamente houve uma frustração de expectativa nessas relações, porque realmente é uma tentativa a mais de estabelecer relações primeiro para futuramente formatar isso em busca de acordos financeiros, comerciais, estratégicas e políticos”, analisa.

Ele ressalta que, durante o primeiro ano de mandato, Lula dedicou dois meses exclusivamente para as agendas e compromissos internacionais. “Dá para ver realmente o interesse do presidente de participação em acordo bilaterais, especialmente na tentativa de retomar o protagonismo que o Brasil já teve, tanto no cenário diplomático com a construção de acordos entre governos, quanto na relação comercial do Brasil como um player importante. Então, Lula tem se dedicado muito para tentar retomar esse protagonismo político de um país de tradição democrática e pacifista acima de tudo, além de tentar buscar a viabilização de recursos e investimentos no Brasil. Ele sabe que o desafio é deixar com que é economia seja crível, tanto para a eleição municipal deste ano, quanto para seguinte nacional”, afirma.

Importâncias das negociações internacionais

Para o professor de economia da Strong Business School, Euzebio Jorge Silveira de Sousa, as viagens de Lula ao Oriente Médio revelam a importância estratégica que o Brasil atribui ao fortalecimento de suas relações comerciais e diplomáticas com a região. “Em um contexto de redução da integração global, impulsionada por eventos como a Guerra da Ucrânia e os conflitos em Israel, as medidas protecionistas adotadas pelos Estados nacionais criam oportunidades para o Brasil consolidar sua posição como um ator global capaz de estabelecer diálogos eficazes com diversas nações. A relação comercial com os países do Oriente Médio assume um papel diferenciado em comparação com os laços mantidos com os Estados Unidos, Europa e China. Esta parceria proporciona ao Brasil a chance de exportar produtos de maior valor agregado, destacando-se por bens sofisticados, intensivos em trabalho e tecnologia, em contraste com a tradicional exportação de commodities”, esclarece.

Ele cita que a possibilidade de ingresso de capitais pode impulsionar projetos de infraestrutura, promover a expansão da oferta de energia limpa e estimular o crescimento da indústria de transformação. “Os prognósticos para o futuro apontam para um aumento nos preços do petróleo, impulsionado pelos conflitos militares que envolvem direta ou indiretamente países produtores. Dado que o petróleo é um bem que afeta diversas cadeias produtivas, espera-se que esse aumento tenha repercussões sobre a inflação mundial. Portanto, o Brasil deve se preparar tanto para aprimorar sua eficiência produtiva e mitigar os efeitos prejudiciais de possíveis aumentos nos preços, abrindo uma oportunidade para o país progredir na superação do subdesenvolvimento”, complementa.

Euzebio Sousa defende que é essencial explorar oportunidades de diversificação na relação comercial, buscando ampliar o comércio com parceiros estratégicos como a Arábia Saudita. “Setores como energia limpa, equipamentos de defesa e desenvolvimento de ciência e tecnologia podem desempenhar um papel crucial na expansão dessas parcerias. A consolidação do Brasil como um representante proeminente de questões ambientais pode abrir portas para investimentos, como os provenientes do Saudi Arabia Public Investment Fund, atualmente avaliado em US$ 775 bilhões. O Brasil deve se preparar para melhorar a eficiência produtiva e aproveitar acordos bilaterais para qualificar suas exportações. Esta é uma oportunidade para o país superar desafios de desenvolvimento”, considera. O professor finaliza declarando que a consolidação do Brasil como um player ambientalmente responsável e a expansão de parcerias comerciais estratégicas são cruciais para impulsionar o crescimento econômico, aumentar as receitas e manter a estabilidade monetária.

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