O grupo vestia camisetas do Brasil e estava no saguão principal da instituição, durante o intervalo, quando começaram os xingamentos a colegas de roupa vermelha no andar de cima, onde se via uma bandeira a favor de Lula.
Os jovens gritavam palavras de apoio a Jair Bolsonaro (PL), como "imbrochável", termo entoado pelo presidente no discurso de Sete de Setembro, e "eu não vou embora", em referência a sua derrota nas urnas. Também gritavam "vergonha".
Pais afirmaram à reportagem, em anonimato, que alunos receberam empurrões e chutes e que uma bandeira de apoio ao petista Lula foi rasgada. Os jovens, disseram, ficaram acuados e vários foram para a enfermaria com sinais de ansiedade, o que não foi confirmado pela escola.
A mãe de uma das jovens que aparece de vermelho afirma que a filha recebeu xingamentos e cuspes e que havia planos para agressões físicas como "encher as meninas petistas de porrada", o que não aconteceu. Porém, sua outra filha que estava perto recebeu empurrões de alunos mais velhos.
Outra mãe relata que precisou retirar o filho da escola antes do término das aulas, pois ele não estava se sentindo bem após receber xingamentos. Ela fala que não imaginava que as pessoas estavam tão cegas e sedentas de ódio e que pensa em mudar os filhos de escola.
Professores também são alvo de retaliações, dizem os pais. Um dos docentes foi às aulas de camiseta vermelha. Na imagem registrada, porém, a roupa não faz alusão a nenhum candidato. "Meu pai quer f... com esse velho", fala um estudante em mensagens de WhatsApp, na qual circula a foto do professor.
Segundo a mãe de outro aluno que foi xingado, estudantes de verde e amarelo entraram na sala deste professor e sugeriram que quem não quisesse ter aula com um petista virasse a cadeira e ficasse de costas. Alguns alunos fizeram isso, diz.
Ela diz que houve uma mobilização de partidários de Bolsonaro no domingo à noite, organizando tais manifestações em várias escolas de Curitiba. Ela diz acreditar que tudo foi combinado e estimulado pelos pais, que estariam orgulhosos da ação dos filhos.
Em grupos de WhatsApp é possível ler pais dizendo sentir "orgulho dessa piazada" e que não aceitariam "bandidos corruptos de volta".
Em outro grupo de mensagens, alunos falam sobre o resultado das eleições e fazem ameaças diretas. "Quem vai ser o herói que vai matar o Lula?", diz um deles. "Tem metralhadora 9 mm por 11 mil", responde outro. Em novo trecho, um jovem revela: "A 12 do meu pai chegou sexta-feira."
O Colégio Marista Santa Maria de Curitiba informou, em nota, que está atento aos movimentos e repudia quaisquer atitudes ou comportamentos que incitem todos os tipos de violência, seja ela simbólica, verbal, psicológica ou física.
"A equipe escolar está engajada em reforçar a importância do diálogo respeitoso, acolhimento às diferenças e empatia, valores que são base da educação Marista. Seguimos atentos também à segurança e bem-estar dos estudantes, colaboradores e familiares, no ambiente presencial e virtual, com foco no equilíbrio e em oferecer sempre um ambiente seguro para todos."