Levantamento aponta que quase metade dos procuradores dos MinistĂ©rios PĂșblicos estaduais ganha acima do teto constitucional do funcionalismo pĂșblico, que Ă© de R$ 41,6 mil. Os chamados "penduricalhos" engordam os salĂĄrios que chegam atĂ© R$ 200 mil.
O Midiamax jĂĄ noticiou algumas vezes a maneira como os promotores e procuradores do MPMS (MinistĂ©rio PĂșblico de Mato Grosso do Sul) aumentam os salĂĄrios com os tais "peduricalhos". SalĂĄrios que deveriam ser entre R$ 32,3 mil e R$ 37,6 mil chegam a R$ 117,9 mil.
Conforme a apuração feita pelo Estadão, em 8 estados mais de 75% dos procuradores recebem acima do teto. O mĂȘs de outubro de 2023 foi o escolhido para o levantamento, evitando possĂveis distorções por causa dos pagamentos de gratificação natalina ou 13°, por exemplo.
Em um Ășnico mĂȘs, os MinistĂ©rios PĂșblicos pagaram R$ 696,8 milhões aos 11,2 mil procuradores e promotores estaduais no paĂs. A despesa anual chega aos R$ 8,3 bilhões.
Os procuradores e promotores, chamados membros ativos do MPSC (MinistĂ©rio PĂșblico de Santa Catarina) foram os que receberam os maiores salĂĄrios em outubro de 2023. Cada membro recebeu uma mĂ©dia de R$ 92,3 mil lĂquido, num total de R$ 53 milhões em custos aos cofres pĂșblicos.
Em 7Âș lugar, aparece o MPMS, com o salĂĄrio mĂ©dio lĂquido de R$ 61.719,35. No entanto, analisando caso a caso, a realidade ainda Ă© de salĂĄrios atĂ© trĂȘs vezes maiores do que o valor fixo.
O maior valor pago em outubro de 2023 foi para o promotor de Justiça - Entrância Especial - do gabinete da 2ÂȘ Promotoria de Justiça de CorumbĂĄ. O salĂĄrio lĂquido foi de R$ 117.961,09.
O salĂĄrio original Ă© de R$ 33.984,45, com pouco mais de R$ 9 mil em rendimento por fĂ©rias, mais R$ 40.581,74 em remunerações temporĂĄrias/retroativas e R$ 45.992,07 em verbas indenizatórias.
Assim, o rendimento bruto seria de R$ 129.813,09, em um Ășnico mĂȘs. Outro salĂĄrio "engordado" pelos penduricalhos foi o de procurador-geral adjunto de Justiça jurĂdico, do gabinete do procurador-geral adjunto.
Com isso, o pagamento que seria de R$ 37.589,95 se transformou em um rendimento lĂquido de R$ 98.662,85. Foram mais de R$ 50 mil em remunerações temporĂĄrias/retroativas, alĂ©m de R$ 13.156,48 em verbas indenizatórias.
Ao todo, o MPMS pagou R$ 13.516.538,01 aos membros ativos no mĂȘs de outubro de 2023. O menor salĂĄrio pago a um membro ativo neste mĂȘs foi de R$ 44.088,36, na 2ÂȘ Promotoria de Justiça de Cassilândia.
No entanto, o Midiamax analisou ainda outros meses. Em setembro, foi pago um total lĂquido ainda maior, de R$ 15.439.916,55. Em agosto, o valor tambĂ©m foi maior ao mĂȘs seguinte, um total de R$ 15.792.505,371.
JĂĄ em julho, o valor pago aos membros foi de R$ 17.133.324,49.
O MPMS exige identificação de usuĂĄrios durante a consulta sobre salĂĄrios de procuradores e membros do MinistĂ©rio. Isso porque o CNMP (Conselho Nacional do MinistĂ©rio PĂșblico) aprovou resolução que permite identificar interessados na remuneração dos membros.
O Conselho aprovou a resolução em 28 de novembro, para que as informações sobre remunerações sejam disponibilizadas mediante identificação do usuĂĄrio interessado. Assim, o CNMP pontua que manterĂĄ sigilo sobre os dados pessoais do interessado.
A medida ainda não foi implementada pelo CNMP e o MPMS. Contudo, esbarra na legislação brasileira, que garante a transparĂȘncia para dados pĂșblicos a partir da Lei de Acesso à Informação (Lei nÂș 12.527/2011) e Governo Digital (Lei nÂș 14.129/2021).
Em Mato Grosso do Sul, o órgão ministerial se orgulha pelos tĂtulos de mais transparente entre os MinistĂ©rios PĂșblicos. No primeiro semestre de 2023, o MPMS atingiu Ăndice de 100% na avaliação dos Portais da TransparĂȘncia do MP.
Na Ă©poca, um dos membros do órgão disse que o MPMS estava "se encaminhando cada vez mais rumo ao padrão de excelĂȘncia no tratamento da informação, o que certamente impactarĂĄ positivamente suas rotinas de governança e a prestação de contas que deve continuamente à sociedade".
PorĂ©m, se a medida aprovada pelo CNMP for implementada em MS, a transparĂȘncia de dados do MPMS deixarĂĄ de ter fĂĄcil acesso. UsuĂĄrios precisarão se identificar previamente para acessar a remuneração dos membros do MinistĂ©rio.
O Jornal Midiamax entrou em contato com o CNMP e o MPMS para manifestação sobre o assunto. Os contatos foram feitos por e-mail, devidamente documentados. AtĂ© a publicação da matĂ©ria em 15 de dezembro não houve retorno.
Texto: Renata Portela/Midiamax