União deixa de arrecadar R$ 300 milhões de pastores com isenção dada por Bolsonaro, diz TCU
Ato que beneficiou líderes religiosos foi editado em 2022
Um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) estimou que o Brasil deixou de arrecadar R$ 300 milhões em tributos após o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) editar um ato que ampliou a isenção de impostos pagos por líderes religiosos.
Na quarta-feira (17), a Receita Federal suspendeu a medida, que acabou criando um precedente para que igrejas pudessem questionar a cobrança de dívidas previdenciárias milionárias.
O valor milionário consta em um relatório sigiloso feito por uma auditoria da Corte de Contas no mês passado. A cifra considera quantias com "exigibilidade suspensa" ou "parcelada" entre os anos de 2017 e 2023. As informações são do jornal O Globo.
"Ainda de acordo com a RFB (Receita Federal), os valores envolvidos que estão suspensos ou em cobrança somam um total de aproximadamente R$ 300 milhões, sendo que quase R$ 285 milhões estão com exigibilidade suspensa", diz o texto.
O ato que beneficiou os líderes religiosos foi editado nas vésperas das eleições de 2022 e foi assinado pelo então secretário especial da Receita, Julio Cesar Vieira Gomes. A medida liberou as igrejas de recolher contribuições previdenciárias sobre as chamadas prebendas, um tipo de remuneração especial por meio da qual as igrejas pagam pastores e demais lideranças.
Elas não são consideradas "salários", mas um tipo de pagamento "em face do mister religioso ou para a subsistência".
Na época, Bolsonaro buscava consolidar o apoio do segmento evangélico para a sua campanha pela reeleição. Mas, de acordo com os técnicos da Receita, as prebendas acabaram se tornando um mecanismo para que as denominações religiosas não recolham contribuições previdenciárias e Imposto de Renda.
Suposta improbidade de ex-secretário da Receita
Segundo o jornal O Globo, a auditoria do TCU também recomendou a abertura de uma sindicância contra Vieira Gomes. O processo seria realizado pela Corregedoria do Ministério da Fazenda e precisa ser analisado pelo plenário da Corte de Contas. O relatório aponta que o ex-secretário concedeu benefícios fiscais "sem observar as formalidades legais e regulamentares" e que ele pode ter cometido uma "infração disciplinar e potencial ato de improbidade administrativa".
Vieira Gomes também foi um personagem central no caso das joias sauditas. O ex-secretário da Receita atuou pessoalmente para pressionar funcionários do órgão para que liberassem um conjunto de joias enviadas pela Arábia Saudita a Bolsonaro.
A entrada dos itens no País com uma comitiva oficial do governo Bolsonaro foi barrada por servidores do Fisco em outubro de 2021, como revelou o Estadão.
O secretário foi exonerado no fim de maio de 2023. Ele havia pedido o desligamento em abril, mas a atual gestão da Receita barrou a sua saída alegando que era necessário aguardar a conclusão de um procedimento investigatório aberto contra ele na CGU (Controladoria-Geral da União).
Com informações da Agência Estado