O vinho nacional chegou a um estágio de categoria mundial. Houve um tempo em que as tentativas de se oferecer ao mercado vinhos da categoria "Premium" foram merecedoras de críticas. Àquela época o vinhateiro brasileiro deixou de lado o terroir para tentar imitar os vinhos europeus e alguns chilenos (pasme!!!). Era um tempo em que Michel Rolland, que faz ótimos vinhos na França e não tão bons fora dela, e Robert Parker ditavam as regras. Eu quase gosto de chamar aquele momento de "O Tempo das Trevas" do vinho nacional; o vinho era carregado em madeira, parecia uma sopa de carvalho, e muito alcoólico, desequilibrado, cheio de fruta extraída que, a bem da verdade, era de guarda, mas não de evolução em garrafa, uma caricatura de vinho chileno, que já era cheio de arestas por natureza. Graças a visionários como o Marco Danielli, Lizete Vicari, Eduardo Zenker, Luís Henrique e Talise Zanini, Paulo Roberto Guaspari e tantos outros, o vinho nacional evoluiu e todo o setor viticultor nacional se sensibilizou que o caminho não era a globalização ou a imitação rebuscada.
O vinho nacional começou a tomar contornos próprios, e um ícone foi o Talento da Salton, que, ao meu ver, juntamente com o Quinta do Seival, da Miolo, foi um divisor de águas. Hoje podemos beber vinhos nacionais, diga-se, gastando algumas patacas a mais que o usual, de categoria mundial, qualidade excepcional, que merecem adegas apropriadas e mesas gastronômicas. Vou citar alguns, não tão conhecidos da grande mídia, mas que valem a pena serem procurados e provados, por sua indiscutível excelência. E sempre nomino o aclamado Viapiana VIA1986 Blend, de colheita manual, com personalidade e que mostra toda a opulência de um tinto de vigor e elegância ímpares.
O Guatambu Épico VII, que tive o privilégio de provar graças a fidalguia de um Grande Amigo, apresenta boca de grande volume e profundidade, com notas de chocolate amargo, especiarias e tabaco, ótimo equilíbrio entre álcool, acidez e seus taninos potentes, vinhos extremamente gastronômico. O Casacorba Vicenzo, de uma vinícola boutique localizada em Nova Roma (RS), produzido por Tiago Bergonzi, é um tinto de corte que reúne a potência da uva Tannat e a elegância da uva Merlot, com coloração vermelho rubi profundo, aromas complexos de frutas negras maduras e especiarias em harmonia com as notas de baunilha e chocolate. Um branco esplêndido é o Monte Castelo Monte Alba Sauvignon Blanc, da Adega Mascarello, é produzido em Goiás, Vale de São Patrício, é intenso com notas cítricas e tropicais e na boca se apresenta com uma acidez intensa, mineral.
A Pedro Espumante Brut, da Vinícola Zanella, de Antônio Prado (RS), utiliza a clássica técnica de fermentação na garrafa - Champenoise, associada a 4 longos anos de espera sobre as leveduras, o que fez surgir uma face ainda pouco conhecida dos espumantes da Serra Gaúcha, de longo amadurecimento e grande complexidade de sabor. E, terminando, o rose Thera Rose, da Vinícola Thera, de Bom Retiro (SC), é uma ótima pedida para sushi e sashimi, anéis de lula, ragu de feijão branco e embutidos como mortadela e presunto curado. Também acompanha salada caprese, pizza ou lombinho defumado. Poderia ainda citar os vinhos do Adolfo Lona, da Cave Geisse, da Leone di Venezia, da Vinícola Raízes do Baú, da Casa Venturini (Góes), da Casa Soncini, da Bodega Iribarrem e por aí afora, mas convido o leitor a pesquisar, procurar, descobrir, porque se deparará com verdadeiras joias engarrafadas. Salut!