DenĂșncia apresentada em dezembro de 2023 contra o deputado estadual Neno Razuk (PL), Roberto Razuk Filho, e outros 14 envolvidos com o jogo do bicho em Mato Grosso do Sul foi recebida pela juĂza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ÂȘ Vara Criminal do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
Ao Midiamax, o advogado de Neno, João Arnar, afirmou que ainda não foi notificado sobre a denĂșncia ou o recebimento. Desta forma, como Neno não foi intimado dos atos processuais, a defesa não vai se manifestar no momento.
O deputado estadual Neno Razuk (PL), Ă© apontado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) como novo lĂder do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul.
DenĂșncia
Na denĂșncia da Operação Sucessione, o deputado Ă© apontado como lĂder da organização criminosa dedicada à prĂĄtica dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar, corrupção, entre outros.
O major Gilberto Luiz apontado como gerente do grupo tinha tambĂ©m a responsabilidade de não comprometer o lĂder, Neno Razuk. Havia um pedido de prisão temporĂĄria para o deputado na deflagração da operação, mas foi negado em razão do foro privilegiado.
"Não obstante a presença de fortes indĂcios de que o investigado Roberto Razuk Filho seja, de fato, lĂder da organização criminosa, e, embora o próprio crime de organização criminosa (autônomo), bem como os crimes cometidos pela organização criminosa (roubos praticados com o uso de arma de fogo), sejam inafiançĂĄveis, o pedido da decretação da sua prisão temporĂĄria Ă© juridicamente inviĂĄvel diante da imunidade formal que socorre o investigado parlamentar, razão pela qual não resta alternativa senão o indeferimento do pedido em relação a ele."
Ainda segundo o pedido da prisão negado Ă© relatado que, "Consigno, porĂ©m, que não obstante o pedido da prisão temporĂĄria tenha sido indeferido em razão da imunidade formal que impede a decretação da prisão de parlamentar, Ă© certo que o crime de organização criminosa Ă© permanente, e como tal comporta prisão em flagrante, nos termos do art. 303 do Código de Processo Penal, o que escapa à vedação legal e dispensa ordem judicial, podendo ser efetuada pela Autoridade Policial a qualquer momento."
"Por fim, ressalto que após analisar, uma a uma, todas as medidas acautelatórias previstas no art. 319 do CPP concluo que nenhuma delas serĂĄ eficaz no caso concreto, tanto que em razão da impossibilidade jurĂdica de decretação da prisão temporĂĄria do representado Roberto Razuk Filho este juĂzo não decretou nenhuma acautelatória em relação a ele, o que juridicamente seria possĂvel em razão de não ser tal medida alcançada pela imunidade formal que lhe socorre, mas deixei de fazer em razão da ineficĂĄcia das medidas em questão, o que indica com total segurança que a decretação da prisão temporĂĄria dos demais representados Ă© medida insubstituĂvel e indispensĂĄvel para a investigação criminal em curso, conforme jĂĄ fartamente fundamentado acima.", relata o juiz de direito Robson Celeste Candeloro.
Reuniões com Neno
Consta na denĂșncia que Neno Razuk comprou uma casa, onde os membros da organização criminosa se reuniam todas as segundas-feiras, quartas-feiras e sextas-feiras. Um dia antes das mĂĄquinas do jogo do bicho serem apreendidas no Monte Castelo, foi decidido em uma dessas reuniões que eles "iriam para cima" dos concorrentes.
Ainda de acordo com a denĂșncia, um veĂculo Volkswagen Polo, de cor branca, havia sido alugado para cometer os roubos dos malotes. Foram trĂȘs malotes roubados de "recolhes" do grupo rival, num total de R$ 15 mil.
Com os roubos, o grupo liderado por Neno tinha como objetivo trazer os "recolhes" e apontadores de São Paulo para a organização, e por isso, os assaltos sempre vinham com ameaças aos membros do grupo rival.
Os veĂculos usados nos roubos aos malotes eram um Volkswagen Polo, um Fiat PĂĄlio e um Hyundai HB20. Ainda segundo a denĂșncia, o grupo que seria liderado por Neno estava oferecendo alĂ©m de R$ 4 mil para os "recolhes" mais uma comissão de 5%.
A denĂșncia fala que "Ă© representativo de uma reunião extraordinĂĄria da organização criminosa com todos os responsĂĄveis pelos crimes, para discussão especĂfica sobre fatos que motivaram as prĂĄticas (disputa pelo monopólio do jogo do bicho), resultados, planos de contingĂȘncias, entre outros.".
"Esse comportamento denota expertise do grupo criminoso na atividade ilĂcita, na medida em que permite que as discussões sobre a prĂĄtica de crimes ocorram pessoalmente, sem deixar rastros em aparelhos celulares ou permitir a captação das conversas pelo Estado por interceptação telefônica etc., o que resulta da participação de pessoas acostumadas com investigações criminais (policiais).", diz a denĂșncia do Gaeco.
Pedidos de prisão temporĂĄria 1Âș fase da Sucessione
- Diego de Souza Nunes,
- José Eduardo Abdulahad, conhecido como "Zeizo"
- JĂșlio CĂ©sar Ferreira dos Santos,
- Luiz Paulo Bernardes Braga,
- Major Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como "Barba";
- Mateus Aquino JĂșnior;
- Roberto Razuk Filho, Neno Razuk, que foi indeferido;
- Sargento Manoel Luiz Ribeiro, conhecido como "Manelão";
- Taygor Ivan Moretto Pellissari;
- Tiano Valdenor de Moraes;
- Valmir Queiroz Martinelli;
- Segunda fase da Sucessione
Jonathan Gimenez Grance, conhecido como "Cabeça", sobrinho de Jarvis Pavão, Gerson da bateria, ex-fornecedor da Sejusp-MS (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança PĂșblica de Mato Grosso do Sul), e o militar aposentado, Carlito Gonçalves Miranda conhecido como "GambĂĄ" foram alvos de busca e apreensão na segunda fase da Operação Sucessione, deflagrada pelo Gaeco.
Segundo apurado, os alvos das buscas em Campo Grande não foram encontrados, jĂĄ que pelo menos dois estariam viajando. Conversas extraĂdas dos celulares apreendidos na primeira fase teriam apontado para os nomes alvos de busca nesta segunda fase da Sucessione.
O ex-fornecedor da Sejusp prestava serviços de manutenção nos veĂculos da secretaria junto de outras credenciadas, mas atualmente não presta mais o serviço à Sejusp. Nesta segunda fase havia pedido de prisão para o militar aposentado alĂ©m do mandado de busca. 12 prisões foram convertidas em preventivas.
Organização integrada por policiais militares
Segundo as investigações, a organização Ă© integrada por policiais militares da reserva e de um ex-policial militar, que se valiam de sua condição, especialmente do porte de arma de fogo, como forma de subjugar a exploração do jogo ilegal aos mandos e desmandos da organização criminosa, tudo para tornar Campo Grande novo território sob seu comando.
Assim, 15 pessoas foram indiciadas no dia 19 de dezembro de 2023, por integrarem organização criminosa armada, estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas, voltada à exploração ilegal do jogo do bicho, roubos triplamente majorados, corrupção, entre outros crimes graves.
Investigação confirmou denĂșncia de servidores que vincularam "guerra do jogo do bicho" com contravenção na Sejusp, conforme antecipou o Midiamax em reportagem no mĂȘs de outubro.
O deputado Neno Razuk (PL) foi alvo da operação que cumpriu contra ela um mandado de busca e apreensão. Quatro assessores do deputado foram presos.
O empresĂĄrio JosĂ© Eduardo Abdulahad foi alvo de mandado de prisão no dia 5 de dezembro. Segundo as investigações, a organização criminosa era responsĂĄvel por diversos roubos praticados em plena luz do dia e na presença de outras pessoas, em Campo Grande, na disputa pelo monopólio do jogo do bicho local.
As investigações constataram, ainda, que a organização criminosa tem "grave penetração" nos órgãos de segurança pĂșblica e conta com policiais para o desempenho de suas atividades, revelando-se, portanto, dotada de especial periculosidade.
Foto: Deputado Neno Razuk (Foto: Luciana Nassar / Wagner Guimarães, Alems)